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A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) anunciou no último mês a adesão à bandeira vermelha patamar dois e ainda reajustou a tarifa em 52%, o que significa que a conta de luz da população brasileira ficará mais cara.

O motivo para o acionamento da bandeira é a crise hídrica que atinge as usinas hidrelétricas da região Sudeste, fornecedoras da maior parte de energia do país. Com as secas nas usinas, o governo passa a utilizar as termelétricas, que geram energia a partir da queima de combustíveis, uma opção mais poluente e mais cara, que influencia no valor final da conta de luz dos brasileiros.

De acordo com as projeções do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), nos últimos sete anos o país registrou volumes de água inferiores à média histórica, o que contribuiu para que chegássemos em 2021 à pior crise hídrica desde 1930.

O Sistema de Bandeiras Tarifárias vigora desde 2015 com as modalidades verde, amarela e vermelha, sendo esta última em dois patamares. O sistema determina se haverá acréscimo tarifário no valor das contas de energia dos consumidores, baseado na situação da geração de eletricidade no país.

Na última terça-feira (29) a ANEEL anunciou o reajuste das bandeiras tarifárias. A partir de 1º de julho de 2021, o valor da bandeira vermelha patamar 2 passa a ser de R$9,49 a cada 100kWh consumidos. Um aumento de 52% comparado ao valor anterior. O patamar 1 da bandeira vermelha também foi reajustado, caindo de R$4,16 para R$3,97 a cada 100kWh consumidos. Já a bandeira amarela será de R$1,87. A bandeira verde segue gratuita.

Para compreender o sistema de energia elétrica brasileiro e os desdobramentos da crise hídrica no país, o site da TV Cultura conversou com Bárbara Rubim, vice-presidente da ABSOLAR, associação que promove a energia solar no país, e CEO da Bright Strategies, empresa de consultoria voltada para a geração distribuída de energia.

Como a produção de energia está baseada no Brasil?

O Brasil é reconhecido pela matriz energética renovável. De acordo com a vice-presidente da ABSOLAR, 60% de toda energia do país é proveniente das hidrelétricas, o que coloca o como vanguarda em relação a outros países que enfrentam desafios a respeito da descarbonização. Entretanto, a geração amplamente baseada no sistema hídrico deixa o país suscetível a outros tipos de crises.

“A questão das mudanças climáticas é um ponto que tem influenciado. Uma matriz pouco diversificada em termos de fonte será menos resiliente em um contexto maior de mudanças climáticas”, afirma Bárbara.

Quando o país não consegue gerar energia a partir da sua fonte prioritária, o governo passa a utilizar sua segunda fonte, que atualmente são as térmicas.

“A gente liga e desliga [as térmicas] colocando mais carvão, mais óleo e mais gás. Quando queimamos mais insumo, aumentamos o custo dessas usinas. É nesse contexto que a gente chega a uma geração mais cara do que a geração de base. Alguém tem que pagar a conta, né? E usualmente quem paga a conta é o cidadão, e é assim que entramos na bandeira vermelha”, explica.

O papel das bandeiras tarifárias é sinalizar o consumidor sobre os momentos de restrição de energia elétrica, fazendo com que o valor da conta de luz pese no orçamento familiar, forçando a população a consumir menos e aliviar a pressão sobre os recursos hídricos

“Em um país que está assim, ainda durante uma crise sanitária, econômica, e social pelo crescente desemprego, dar esse sinal de preço para o consumidor por um período alongado de tempo, cria outros desafios sociais e econômicos grandes para a população”, acrescenta Bárbara.

Vai faltar luz?

Em 2001, o Brasil sofreu um apagão devido à crise hídrica. O Governo Federal adotou medidas, como apagões intencionados, para evitar o colapso elétrico do país, e atingir uma redução de 20% do consumo. A medida durou nove meses. Neste período, a iluminação das ruas, prédios e monumentos públicos foi diminuída. Também foi proibido a realização de eventos como shows e partidas de futebol durante a noite.

Uma dúvida recorrente da população com relação à atual crise hídrica é se existe a possibilidade de haver novamente uma situação como essa. Sobre isso, Bárbara explica que a possibilidade é mínima no contexto em que o Brasil já importa energia elétrica de outros países como Argentina e Uruguai. Contudo, a hipótese de racionamento cada vez mais se apresenta como viável.

“Além do sinal de preço que a bandeira traz, [o racionamento] é o consumidor de fato ter um comando do governo para restringir o seu consumo de energia elétrica ainda mais”, explica.

Como o racionamento influencia no momento político?

O apagão de 2001 é visto como um dos fatores responsáveis pela queda de popularidade do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que foi derrotado por Lula (PT) nas eleições do ano seguinte.

Atualmente, a conta de luz é um dos maiores motivos de negativação do nome dos brasileiros, atrás apenas dos bancos e cartões de crédito, segundo pesquisa da Serasa Experian.

“Isso mostra de fato o impacto que a conta de luz tem dentro de um orçamento familiar, ela é um elemento de política pública importante para o governo. Acesso a energia elétrica é não só chegar uma rede de distribuição na casa da pessoa, mas também ela poder pagar por aquele bem, Então, o cenário eleitoral que a gente vive, pode fazer que o governo repense alguma das medidas que seriam tomadas para conter a crise”, afirma Bárbara.

Entretanto, a especialista destaca os recursos tecnológicos disponíveis atualmente como saída para o momento de crise e um possível apagão. “Em 2001, a gente não tinha competitividade de fontes como eólica e solar”.

Outras formas de produção

O Brasil tem vasta disponibilidade de recursos renováveis como solar e eólico e, segundo Bárbara, nos últimos anos o país tem feito investimentos nessas fontes, entretanto, a taxa de participação da geração de energia como um todo ainda é baixa.

“Existe espaço para crescimento, inclusive a situação de crise que a gente enfrenta hoje poderia ter sido melhor contornada se alguns anos atrás, especificamente em 2016, o governo tivesse mantido alguns dos leilões que estavam planejados para usinas de renováveis eólica e solar, que seriam entregues esse ano”, destaca a consultora.

Contudo, a iniciativa privada tem cada vez mais se interessado por outros tipos de geração de energia, como é o caso da fonte solar. A especialista aponta que metade da geração de energia no telhado que o país tem atualmente já equivale a um terço da potência da Itaipu, barragem hidrelétrica localizada no rio Paraná reconhecida pela enorme potência, e destaca ainda a agilidade de entrega à disposição do país, já que metade dessa potência foi instalada em 2020.

Como economizar na conta de luz?

A especialista separou três dicas para que os consumidores consigam enfrentar o momento de crise sem que sofram grandes rombos no orçamento familiar.

1 - Consumo mais consciente

Criar hábitos de consumo econômico e buscar mecanismos de mais eficiência como substituições por lâmpadas de LED e troca de equipamentos. 

2 - Geração própria de energia

Alguns bancos públicos e privados já disponibilizam atualmente financiamentos de sistemas de energia solar. Com isso, o consumidor paga a parcela de aquisição do sistema com economias geradas na conta de luz.

“Esse sistema vai se pagar em um horizonte de quatro a cinco anos, só com a economia gerada, e o consumidor vai continuar tendo esse sistema por cerca de 20 anos, gerando energia pra ele”, explica.

3 - Tarifa branca

A tarifa branca é uma modalidade pouco conhecida pela população brasileira. Dos cerca de 87 milhões de consumidores de energia elétrica no Brasil, apenas 2 mil são usuários dessa tarifa, afirma Bárbara. Entretanto, não é necessariamente uma boa solução para todos, já que é preciso compreender seus próprios hábitos de consumo.

A modalidade é uma tarifa horária pro consumidor de baixa tensão. Durante o dia, o valor da tarifa é inferior ao que é atualmente, à noite, este valor é superior ao atual.

“O consumidor que tiver consciência dos seus hábitos de consumo, que entende que ele consome mais durante o dia, a migração para essa opção tarifária pode ser uma possibilidade de economia nesse período”, ressalta Bárbara.

A adesão à tarifa branca é gratuita e pode ser cancelada sem custo adicional. Para consultar os valores e os postos tarifários de acordo com distribuição de cada estado, acesse o site da Aneel.

Importância do engajamento no assunto

Para Bárbara, esta é a terceira grande crise elétrica que o país enfrenta. Estes momentos levam o consumidor a tomar consciência sobre assuntos referentes à geração de energia elétrica, entretanto deve ser também “um chamado para que a sociedade fique mais atenta para as decisões que são tomadas no nosso país, conhecer um pouco mais do que está sendo discutido no setor e como isso pode impactar ao longo dos próximos anos, afinal são elas que vão dizer de fato o quanto a eletricidade vai pesar ou não no nosso bolso”.

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