Vamos supor que um dos seus familiares tem um seguro de vida, mas você não sabe. Para onde vai o dinheiro que seria seu por direito caso ele venha a morrer? Se ninguém for atrás, o valor fica no caixa da seguradora.
Para receber, o beneficiário precisa entrar em contato com a seguradora, enviar a documentação necessária e liberar o pagamento. “Tem gente que não quer contar que tem um seguro de vida, mas se não falar para ninguém, a pessoa vai morrer e ninguém vai receber o dinheiro”, afirma José Varanda, professor da ENS (Escola Nacional de Seguros).
Para pessoas que preferem não falar sobre o tema, a sugestão é que avise alguém de confiança sobre a existência do segura. Outra possibilidade é que a seguradora enviar uma notificação para o beneficiário.
Os seguros têm uma mensalidade. Se ela para de ser paga, a empresa é obrigada a entrar em contato com o segurado para informar que o contrato será cancelado por inadimplência – normalmente enviam uma carta ao endereço cadastrado.
“Se o beneficiário não for atrás da seguradora, a empresa vai cancelar o seguro por falta de pagamento. Mas antes de fazer isso, precisa enviar uma notificação cobrando. Se mesmo assim, o beneficiário não ficar sabendo, o contrato é cancelado e o dinheiro fica com a empresa”, afirma Tiago Moraes, diretor do Instituto Brasileiro de Direito do Seguro e sócio de Ernesto Tzirulnik Advocacia.
Depois que todos os documentos são enviados, a seguradora tem até 30 dias para realizar o pagamento. “A seguradora vai ser mais criteriosa na auditoria dos documentos quando maior for o valor a ser pago”, afirma Varanda.
O 6 Minutos procurou a Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida) e a Susep (Superintendência de Seguros Privados) em busca de dados sobre seguros que não são pagos aos beneficiários, mas as instituições disseram que não possuem este registro.
Como resolver o problema? A insurtech Azos informa que surgiu para evitar que famílias ficassem sem receber o seguro de vida justamente por não saberem que tinham direito a ele.
Uma vez por mês, checam as bases de cartórios e, ao identificar o óbito de um segurado, notificam a família. Bernardo Ribeiro, sócio fundador da Azos, diz que a empresa oferece um serviço chamado “Guardião”, em que uma pessoa de confiança terá a missão de acionar a Azos e comunicar seus beneficiários da existência do seguro.
“É melhor que não seja um beneficiário do seguro. Às vezes, é um filho pequeno ou pessoas que não vão estar preparadas para informar sobre o sinistro quando acontecer. É importante que seja alguém que possa ajudar”, explica Ribeiro.
Aumento no número de contratos
“A procura por seguro de vida tem aumentado, principalmente por causa da pandemia. A morte está mais em debate do que antes”, afirma Ribeiro. Em maio deste ano, o mercado de seguro de pessoas chegou a R$ 4,2 bilhões em prêmios, crescimento 29,6% maior do que no mesmo mês de 2020, segundo a Fenaprevi.
A soma dos sinistros (ou seja, os valores pagos pelas seguradoras aos beneficiários) nos cinco primeiros meses do ano também aumentou: foi para R$ 7,6 bilhões, valor 75% maior do que o registrado no mesmo recorte de 2020.
Para Ribeiro, os preços dos seguros ainda são um entrave no mercado. “No Brasil, a margem de retorno das seguradoras é o dobro dos Estados Unidos. Quando pegamos um valor caríssimo dos seguros e o baixo uso de tecnologia, isso faz com que não seja um produto tão conhecido”, afirma.
Por que a procura por seguros de vida aumentou? Principalmente pela pandemia. “A pandemia levantou uma sensibilização sobre o tema e trouxe à tona o interesse por produtos de proteção da saúde e da vida”, afirma Ana Flávia Ferraz, presidente da Comissão de Produtos de Risco da Fenaprevi. Mas não é só isso. Para ela, a cultura dos brasileiros tem mudado nos últimos anos e a contratação de seguros tem tudo a ver com o cenário econômico do país.
“O primeiro movimento que vemos é que a contratação de seguros em geral cresceu em relação ao ano passado, mas foi mais expressivo nos seguros individuais, enquanto os coletivos, que são aqueles oferecidos por empresa, tiveram crescimento bem inferior”, afirma Ferraz.
Como escolher o melhor seguro? O preço é um dos fatores, mas não pode ser o único. Os especialistas dizem que os consumidores precisam entender tudo o que é oferecido e comparar os produtos entre si.
Hoje existem diversas modalidades de seguros de pessoas: por morte natural, acidental, prestamista, por invalidez ou por doenças graves, por exemplo. Moraes diz que algumas dicas básicas são entender qual a real necessidade antes de contratar, já que existem uma série de seguros de pessoas disponíveis no mercado.
Uma das etapas da contratação envolve um questionário com perguntas sobre a saúde do segurado e é imprescindível dizer a verdade, informando possíveis doenças preexistentes para não haver nenhum problema na hora do pagamento do capital assegurado.
No contrato, o segurado pode escolher o beneficiário que quiser. Caso não coloque ninguém específico, o valor fica para os herdeiros previstos por lei (filhos e cônjuge, por exemplo).
Se o seguro for para crianças, vale um alerta: Varanda diz que o dinheiro fica preso até que a criança complete 18 anos e, por isso, em alguns casos é melhor deixar para um terceiro que vá fazer a gestão do dinheiro. Enquanto o dinheiro fica parado, normalmente é colocado em uma caderneta de poupança.
Para Ferraz, o seguro de vida é para todo mundo. “É uma ferramenta de proteção financeira. Ele pode repor uma perda, que não era programada, mas que geralmente afeta a vida da própria pessoa ou da sua família”, afirma.
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