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A dislexia é um transtorno específico da aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade de leitura e escrita. Cerca de 5% da população brasileira tem o diagnóstico, ou seja, 10 milhões de pessoas enfrentam constantes desafios com a linguagem.

Segundo especialistas, ela tem uma característica genética hereditária presente em 80% dos casos, sendo que oito a cada dez pessoas disléxicas possuem familiares com o transtorno. Como ocorreu com Erika Souza, de 44 anos, e estudante de psicologia. Ela foi diagnosticada aos 33 anos, ao buscar entender as dificuldades de seu filho mais velho.

Com 7 anos, ele ainda apresentava muitos problemas dentro da escola e Erika lembrava da sua infância conturbada, onde era criticada por trocar letras e ter complicações na hora da escrita. Como em 2002 uma criança nesta faixa etária não podia passar pela triagem do diagnóstico (hoje isso já é permitido), a mãe fez o teste, descobriu ser disléxica e buscou reabilitação pedagógica, com fonoaudiólogo para os dois.

A alfabetização pode ser o momento mais propício para os responsáveis perceberem os possíveis sinais da dislexia, mas eles também podem aparecer antes.

Atraso no desenvolvimento da fala, problemas para pronunciar palavras de forma correta, como trocar a ordem dos sons (dizer 'popica', em vez de 'pipoca') e confundir palavras semelhantes (falar 'umidade', quando quer dizer 'humanidade'), dificuldade em atividades de rima; erros no reconhecimento de palavras, erros de soletração e ortografia, são alguns dos sintomas presentes na lista desenvolvida pelo o Instituto ABCD, ONG que promove conhecimentos sobre a dislexia.

Para Julia Braga, psicóloga e gerente de produtos e desenvolvimento do Instituto ABCD, o primeiro passo para a procura de um diagnóstico, no início da infância, é conversar com a escola. Os professores são capazes de comparar o desempenho da turma e ver quem está com mais dificuldades, mesmo após reforços, por exemplo. "Conversar com o colégio para entender se os sinais também são observados lá. Chegar a conclusão de que existe uma hipótese de dislexia. Agora é buscar uma avaliação diagnóstica, que no Brasil é difícil e muito cara".

Embora, a profissional indique que os responsáveis não fiquem de braços cruzados esperando um laudo que comprove o transtorno de aprendizagem. As adaptações dentro da escola e os estímulos em casa podem ser feitos antes. Ao pensar na criança com dificuldade em português ou em matemática, o Instituto ABCD desenvolveu o aplicativo gratuito EduEdu, que a partir de uma breve avaliação, indica o que ela precisa melhorar e cria atividades personalizadas para garantir sua evolução escolar.

Possíveis adaptações na pedagogia para alunos com dislexia

Luiz Simi, psicólogo e coordenador de projetos da Associação Brasileira de Dislexia (ABD), reforça que não é possível generalizar a dislexia, uma vez que cada pessoa possui suas próprias características e dificuldades. "Alguns casos apresentam dificuldade na leitura, outros na escrita. Alguns nos dois. Mas de modo geral, há adaptações de acordo com a Lei Brasileira de Inclusão, que oferecem as necessidades educacionais especiais aos estudantes com dificuldades de aprendizagem".

Simi cita uma mudança na metodologia de avaliação. Por exemplo, uma prova oral, ao invés de escrita, onde aluno com dislexia consegue mostrar seu conhecimento de forma mais clara, ou no caso da avaliativa escrita, conter enunciados objetivos. Já para a alfabetização, ele indica o uso do método multissensorial, fônico e articulatório, que o aluno toca nas letras e escuta seus sons, sendo um diferencial para quem tem transtorno específico de aprendizagem. A ABD desenvolveu uma cartilha para os colégios, que facilita a alfabetização dos disléxicos. Está disponível no seu site.

Segundo a psicóloga Julia Braga, também é fundamental a escola e os familiares trabalharem a autoestima da criança com dislexia, porque ela é constantemente cobrada pela sociedade e há uma exigência própria. "É importante celebrar todas as conquistas, por exemplo, mostrar que antes ela não conseguia ler esse livro no mês passado e agora consegue. Também comemorar as conquistas de outras áreas, ela pode não ser boa em escrever, mas vai ser ótima em andar de bicicleta e em nadar".

Fabiola Helou entende a importância de valorizar as conquistas dos filhos para além de suas dificuldades com leitura e escrita. Ela é mãe de Layla, de 14 anos, que tem dislexia e discalculia, e Tayo, de 12 anos, com dislexia acentuada e TDA (Transtorno de Atenção) e tem uma relação direta com a escola deles, assim, trabalham em conjunto para gerar o desenvolvimento.

Certo dia, Fabiola recebeu a sugestão da direção do colégio de que seria melhor tirar sua filha das aulas de dança, para que pudesse recuperar algumas notas que estavam baixas. A resposta da mãe foi categórica: "Da dança a minha filha não sai, porque lá é o ambiente dela, é lá que ela é a melhor de todas, é lá que ela ganha todos os campeonatos e sua autoestima é jogada para cima, para no dia seguinte de manhã na escola, ela ficar comprometida de novo".

A gerente de produtos e desenvolvimento do Instituto ABCD, Julia Braga, preparou uma lista de mitos e verdades sobre a dislexia, para que as pessoas pudessem entender melhor o que é esse transtorno específico de aprendizagem. Confira no webstory 'Mitos e verdades sobre dislexia'.