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Após anos de convivência, momentos felizes e da construção de um amor incondicional, os pets chegam ao fim da vida. Para os tutores, restam apenas as boas lembranças e o luto.

Lidar com a dor de perder um companheiro de vida é um processo que abrange várias fases, com sentimentos que vão desde a negação até o estágio da raiva, o que pode levar a uma culpabilização do médico-veterinário em alguns casos por não entender a razão de não conseguir salvá-lo, curá-lo ou mantê-lo por mais tempo vivo.

O processo do luto

A dimensão do luto pelos animais de estimação que se foram pode não ser entendida por aqueles que não são da família ou que não conviveram com ele.

A falta de compreensão acaba “apoiada” pela falta de medidas legais que amparem o tutor durante esse momento para que fique afastado do trabalho enquanto lida com toda a situação. Diferente do que ocorre no caso da perda de familiares mais próximos, como mãe e pai.

Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, o médico psiquiatra Higor Caldato esclarece que a perda deve ser vivida e sentida, conforme a forma que cada pessoa consegue lidar com isso e sem a presença de julgamentos.

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“Qualquer tipo de luto pode trazer sofrimento emocional, a de um pet não é diferente. O sofrimento não tem medida e nem comparação. Não deve ser julgado e nem tratado como um exagero”, destaca.

Segundo o especialista, apesar de ser algo que machuca e que aparenta que nunca irá cicatrizar, é necessário entender que a situação exige paciência e tempo. “Mesmo querendo arrancar com as mãos esse sentimento, é necessário paciência para aguardar o tempo ajudar a amenizá-lo. O autocuidado por sua vez é importante para que diante do luto a pessoa não se abandone”.

De acordo com Caldato, o ideal é que medidas precipitadas não sejam tomadas, como a doação ou descarte de brinquedos e acessórios, assim como a chegada de um novo amigo de quatro patas na família.

“A dor da perda de um pet não deve apagar a possibilidade da chegada de um novo companheiro. Mas, de fato, cada pessoa terá um tempo diferente para essa nova paixão. A decisão de não ter um outro pet também deve ser respeitada. Cada caso deve ser individualizado”, ressalta o sócio do Instituto Nutrindo Ideais.

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É natural que diante do luto os pensamentos e emoções fiquem confusos e o sofrimento prevaleça diante do estresse agudo da perda. Por isso, o acompanhamento psicológico pode ser fundamental para evitar que o caso se transforme em um transtorno mental, como a depressão.

Veterinários e tutores

Assim como a família, os médicos-veterinários também sofrem com toda a situação. Uma pesquisa elaborada para mapear a saúde mental dos profissionais que atendem animais de pequeno porte revelou que 84% se sentem ansiosos, deprimidos ou irritados.

Outro ponto de destaque apresentado pelo estudo realizado pela Kynetec, empresa especialista em pesquisa de mercado global em saúde animal e agricultura, é que, para 74% dos participantes, a necessidade de realizar eutanásia é um dos momentos mais difíceis da profissão.

Uma das condições que acomete os profissionais é a fadiga por compaixão, que é definida como um estado constante de preocupação com o sofrimento do outro, doença que tem sintomas parecidos com o burnout.

Em bate-papo exclusivo, a médica-veterinária Rita Ericson afirma que pelo fato dos animais viverem poucos anos, é comum que eles atendam pacientes desde a primeira consulta até a última. “A essa altura você já está há 15 anos com aquela família e com aquele animal, a gente sofre pelo bichinho, pela família e pela gente, que estabeleceu uma relação afetiva”.

Para ela, as questões financeiras que envolvem as decisões para o tratamento do animal também são muito frustrantes.

“A gente tem os dois extremos: uma família que não tem recursos e adoraria aderir a uma medicação diária, super cara e injetável, e uma família que tem recursos, que poderia fazer e que por uma questão pragmática ou prática decide não gastar esse dinheiro com o animal e opta pela eutanásia”, revela.

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Comunicação de más notícias

A especialista ainda destaca que durante a formação, os veterinários não aprendem sobre como lidar com o próprio luto e o da família. “Você recebe o laudo de um exame com o diagnóstico de um câncer em um animal jovem, como chegar para eles e falar que o amor da vida deles está com câncer?”, expõe.

No final das contas, para ela, uma comunicação positiva fica a depender da habilidade de cada um. “Temos aquelas pessoas que se comunicam muito bem, são empáticas e conseguem entender que isso é difícil e passam essa informação da forma mais adequada possível. Por outro lado, existem aquelas pessoas que não tem nenhuma habilidade, que acabam se endurecendo para se proteger de tanto sofrimento, fazem uma espécie de escudo e dão as notícias de forma fria”.

Com o intuito de ajudar a lidar com esse processo, a Tanatovet, grupo de estudo e trabalho relacionados à tanatologia na medicina veterinária, no qual Rita Ericson é membro fundadora, deu origem ao “Patas na Mesa”, um facilitador da comunicação sobre os cuidados ao final de vida dos animais de estimação.

No total são 24 cartas. A proposta é que o tutor selecione as mais importantes para que haja uma conversa sincera sobre cada uma delas com o especialista responsável pelo atendimento do seu animalzinho. “É uma maneira da gente fazer uma organização do ranking de desejos da pessoa, e nada mais é do que ter tempo e disponibilidade para acolher as dúvidas e desejos da família”, diz.

O “Patas na Mesa” está disponível para veterinários, psicólogos e qualquer outro profissional que lide com essa área. Para ter acesso a ferramenta, os interessados devem entrar em contato com a equipe pelas redes sociais, que envia para o Brasil e para o mundo inteiro, com um custo em torno de R$ 30, além do valor do frete.

As frases também podem ser disponibilizadas para quem tem interesse em utilizá-las nos atendimentos, sem haver a necessidade de ter o baralho em mãos.