Na última semana, a Secretaria de Saúde de São Paulo divulgou que investiga 18 casos de febre maculosa no estado. Até o momento, nove mortes foram registradas em SP após os diagnósticos na cidade de Campinas. Já são 19 casos confirmados da doença.
No último dia 20, o Espírito Santo registrou a primeira morte por febre maculosa no estado no ano. O homem de 32 anos era da Barra de São Francisco, no Noroeste do local.
Em 2022, foram contabilizados 63 casos de febre maculosa em São Paulo, com 44 óbitos confirmados. Já em 2021, foram 87 casos e 48 óbitos.
O site da TV Cultura conversou com Mellanie Fontes Dutra da Silva, pós-doutora em Bioquímica (UFRGS), coordenadora da rede de análise, membro do projeto “Todas Pelas Vacinas” e diretora executiva do Instituto Mário Schindler. A pesquisadora fala sobre os principais sintomas da doença, como ocorre a infecção e como se proteger.
A febre maculosa é uma doença infecciosa, febril aguda e de gravidade variável. A doença é causada por uma bactéria do gênero Rickettsia, transmitida pela picada do carrapato. No Brasil, duas espécies de riquétsias estão associadas a quadros clínicos de infecção:
Rickettsia rickettsii: leva ao quadro de Febre Maculosa Brasileira (FMB) considerada a doença grave, a incidência é maior no norte do estado do Paraná e nos Estados da Região Sudeste.
Rickettsia parkeri: os casos têm sido registrados em ambientes de Mata Atlântica (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia e Ceará), e produzindo quadros clínicos menos graves.
Apesar da incidência das duas espécies, a especialista pontua que qualquer carrapato pode ser um agente infeccioso.
“A infecção no organismo vai provocar uma série de sintomas que, no início, podem ser até parecidos com sintomas de outras infecções. A bactéria intracelular que quando ela entra em um organismo, ela vai entrar dentro das célula simulando a infecção intracelular”, explica Mellanie Dutra.
Por ser uma infecção intracelular, a cientista afirma que os sintomas são parecidos e sobrepostos com outras doenças, o que pode causar atraso no diagnóstico, e consequentemente, no tratamento.
Os principais sintomas da febre maculosa são: febre; dor de cabeça intensa; náuseas e vômitos; diarreia e dor abdominal; dor muscular constante; inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés; gangrena nos dedos e orelhas; paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões causando paragem respiratória.
Os sinais são facilmente confundidos com doenças como a dengue, por exemplo. No entanto, Mellanie Dutra aponta que lesões que aparecem em todo o corpo, como na palma das mãos e nos pés podem ser um diferencial no diagnóstico da febre maculosa
“A infecção por essa bactéria pode aparecer em todo o corpo, na palma das mãos, nos pés. Isso ajuda a diferenciar de outras doenças que podem também ter uma sintomatologia parecida, como é o caso do sarampo, da rubéola na dengue hemorrágica. Apesar de ser muito sobreposta a outras doenças, ela tem algumas peculiaridades que já chamam a atenção”, ressalta.
Segundo informações do Ministério da Saúde, também é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos tornozelos. A vermelhidão não apresenta coceira, mas pode aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés.
Após a infecção causada pelo carrapato, alguns dias podem se passar para a manifestação dos sintomas. De acordo com Mellanie Dutra, sete dias separam a picada até os inícios dos primeiros sinais da doença.
Diagnóstico
A semelhança dos sintomas da febre maculosa pode impactar na letalidade da infecção. Segundo a especialista, a descoberta também depende de quando o paciente procura ajuda médica.
“A partir dessa procura médica, o sangue é coletado para um diagnóstico. A parte epidemiológica é muito importante, se esse paciente se encontra em local endêmico ou na área de alto risco, já fica em alerta para ir traçando um possível caso para essa doença. A conscientização da pessoa em qualquer sinal desses sintomas em uma área que tem casos ou que é endêmica é importante, mesmo que seja para descartar a possibilidade de ser a febre maculosa ou outra condição infecciosa assim”, ressalta.
O Ministério da Saúde afirma que se houver suspeita da infecção, “o médico deve iniciar o tratamento com antibióticos urgentemente, tendo em vista que quanto mais cedo a terapia for iniciada, maiores são as chances de se evitar complicações e morte do paciente”.
Tratamento
O tratamento para tratar a doença é feito a partir de antibióticos, por isso, segundo a especialista, é importante que o diagnóstico seja feito da forma mais rápida possível.
“Por ser uma bactéria, a gente entra com antibióticos para controlar. É muito importante que o tratamento seja iniciado rápido para ter uma resposta melhor. Por ser sobreposto a outras doenças, a pessoa pode acabar demorando para buscar o serviço de saúde, e aí chega com a infecção muito adiantada e traz riscos para a vida da pessoa. Isso explica um pouco do aumento na letalidade”, afirma.
Prevenção
- Em locais onde há exposição a carrapatos, o Ministério da Saúde recomenda:
- Use roupas claras, para ajudar a identificar o carrapato, uma vez que ele é escuro.
- Use calças, botas e blusas com mangas compridas ao caminhar em áreas arborizadas e gramadas.
- Evite andar em locais com grama ou vegetação alta.
- Use repelentes de insetos;
- Verifique se você e seus animais de estimação estão com carrapatos;
- Se encontrar um carrapato aderido ao corpo, remova-o com uma pinça.
- Não aperte ou esmague o carrapato, mas puxe com cuidado e firmeza. Depois de remover o carrapato inteiro, lave a área da mordida com álcool ou sabão e água.
- Quanto mais rápido retirar os carrapatos do corpo, menor será o risco de contrair a doença. Após a utilização, coloque todas as peças de roupas em água fervente para a retirada dos insetos.
- Além das recomendações da pasta, a pesquisadora aponta que também é necessário um cuidado com os animais, visto que os carrapatos também podem se hospedar e infectar os bichos.
Locais de incidência
O clima seco favorece o ciclo reprodutivo dos carrapatos, por isso, os locais com maior incidência são lugares mais ‘quentes’. A queda nas temperaturas e a redução das chuvas são condições ideais para o ciclo reprodutivo dos parasitas.
A doença voltou a ser discutida após pessoas serem infectadas pela doença em Campinas, no interior de São Paulo. Os casos surgiram depois de um evento Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio, um dos 12 pontos mapeados pela Prefeitura como de risco para a doença.
Os eventos na Fazenda Santa Margarida estão suspensos até que seja apresentado um plano de contingência ambiental e de comunicação pelos responsáveis.
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