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O Instituto Nacional Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou na última terça-feira (16) os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023.

Dados Ministério da Educação (MEC) mostram que 60 candidatos atingiram a nota mil na redação, pontuação máxima para esta parte da prova. O número representa um aumento de 233% em relação ao Enem 2022, quando apenas 18 participantes gabaritaram a redação. O tema escolhido em 2023 foi: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.

A região Nordeste registrou o maior número de redações nota mil, com 25 candidatos. Em seguida, o Sudeste, com 18 participantes. O Sul contou com sete notas máximas, o Norte teve cinco estudantes, e a região Centro-Oeste teve quatro textos com pontuação total. Rio de Janeiro e São Paulo foram os estados que mais tiveram textos com resultado mil, sendo sete cada um.

A estudante Luana Pizzolato, de 20 anos, foi uma das sete pessoas do estado de São Paulo a tirar nota mil na redação do Enem 2023. Moradora do ABC Paulista, a jovem sonha em fazer Medicina em uma universidade pública e fez a prova três vezes como candidata.

Pizzolato soube da nota mil na redação com a ajuda de uma amiga. A estudante conta que teve dificuldades para acessar o site do Inep na última terça, e foi por meio de uma videochamada que descobriu que tinha sido uma das 60 pessoas a tirar a nota máxima no texto.

Notas de Luana Pizzolato / Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

“Eu sabia o número de notas mil porque eu tinha visto a live do MEC. Mas ainda que o número tenha aumentado [em relação a 2022], ainda é muito pouco. No meu caso, nem fui eu que abri, foi minha amiga, Eu queria saber a nota da redação. Ai minha amiga falou ‘Luana, você tirou mil’. Eu gritei e comecei a chorar muito porque ao mesmo tempo que eu conseguia calcular minha média simples e eu sabia que tinha conseguido”, relembra.

Além do alívio por ter conseguido a média para entrar em uma universidade pública. Luana Pizzolato afirma que o choro também foi um alívio.

“Eu pensei ‘acabou’. Finalmente o cursinho acabou, isso realmente me deu um alívio. Porque eu tenho muita chance de conseguir passar em medicina na federal. Mas eu realmente não esperava, foi uma surpresa e um alívio. Eu acho que eu me senti livre do cursinho, então eu sentia muita emoção, me senti muito orgulhosa”, diz.

Com o sonho de ser médica desde os 8 anos de idade, Luana planeja usar a nota no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e sonha em estudar na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Além da UFMG, ela também pensa na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

8 horas de estudos diários

A caminhada pela nota mil não começou no ano passado. A jovem de 20 anos terminou o ensino médio em 2021, e começou a fazer cursinho preparatório no ano seguinte.

Ela conta que a rotina de estudos iniciava por volta das 7h da manhã e encerrava às 21h. Entre almoço e pouco de descanso, afirma que estudava 8h horas por dia, de segunda a sexta-feira. A jornada extensa se justifica pela alta demanda pelas vagas em medicina.

Na UFMG, por exemplo, a maior nota de corte registrada pela universidade no Sisu do ano passado foi para medicina. O candidato precisou tirar uma nota maior ou igual a 805.42 no Enem.

Em 2023, a faculdade ofereceu 320 vagas para o curso, sendo 160 para candidatos que cursaram integralmente o Ensino Médio em Escola Pública e mais 160 para ampla concorrência.

Apesar da quantidade extensa de estudos, a estudante aponta que dois fatores a ajudaram a melhorar a nota da redação em 2023: o cursinho online e o maior tempo de descanso aos finais de semana.

“Em 2022, eu saia de casa às 5:30 da manhã, pegava ônibus e metrô. Eu chegava na aula e dormia, então foi uma coisa que eu tentei muito conseguir manter, só que eu não conseguia ter realmente desempenho bom, porque vivia cansada. Acho que realmente faltou conteúdo, eu estava muito cansada e meu psicológico estava afetado, então realmente pegou muito”, explica.

Após a experiência no cursinho presencial, Luana diz que tentou outra alternativa, entrar em uma plataforma online de estudos, e segundo ela, o desempenho melhorou.

“Para mim e para minha saúde mental foi muito bom. Eu consegui dar atenção para os conteúdos, conseguia acordar às 7:00 da manhã, e era uma coisa que parecia quase 5 horas a mais na minha cabeça. Eu acho que o diferencial foi realmente dar mais tempo para a matéria e estar mais descansada. E estar mais descansada me ajudou muito para ter mais foco e mais força de vontade para conseguir estudar mais”, completa.

Um maior contato com a família e com o namorado aos finais de semana também foi responsável pelo melhor desempenho de Luana no Enem 2023. Segundo ela, os estudos aos sábados eram ‘parciais’, e o domingo apenas ‘esquecer’ que tinha a prova e conteúdo para estudar.

“Eu procurei sair de casa no meu dia livre. Tirava o dia inteiro para descansar, sair de casa, jantar fora, ir ao shopping, qualquer coisa para conseguir sair de casa. Eu vi meu namorado, minhas amigas. Eu tinha vida pessoal, não muita, mas tirava um dia da semana para conseguir sair com meus pais, minha família. Foi um diferencial porque eu consegui desligar e falar ‘o cursinho não existe esse dia’. Foi muito bom”, ressalta.

Dentro da rotina de estudos de gramática, Luana Pizzolato destaca que fez aulas extras de redação em 2023, fazendo em média dois textos por semana desde junho, para, segundo ela, ‘lapidar’ as suas dificuldades. Ela afirma que fez mais de 60 redações ao longo de todo ano, entre treinos para o Enem, Fuvest e Vunesp.

O tema

A estudante avalia que o tema da redação foi importante e que precisa ser mais discutido na sociedade e na mídia. A jovem diz que não teve dificuldades para escrever e desenvolver a proposta pedida pelo Enem.

Para o texto nota mil, Luana conta que contextualizou a sua redação com três pontos: o capitalismo, o patriarcado e o contexto histórico do trabalho das mulheres em casa.

“Eu não tive dificuldade para escrever sobre o tema, só que eu achei difícil o modo em que ele foi colocado, achei a frase cumprida”, aponta. “O trabalho e as mulheres a gente pensa muito, está nas mídias do jornal, na TV e na rede social. Eu falei sobre sobre a minha concepção, e sobre por que esse trabalho é designado e o modo como se fosse obrigatório para mulher”, acrescenta.

A ‘facilidade’ com a escrita surgiu por meio do seu hábito com a leitura. A estudante diz que sempre gostou de ler e isso a ajudou a ter uma melhor construção dos textos.

No entanto, mesmo com o hábito de ler sempre, ela afirma que sua maior dificuldade no Enem foi na área de linguagens, que traz grandes textos e muitas questões sobre interpretação.

“A leitura é muito importante, não tem que ser livre culto, ler ajuda muito a conseguir escrever um texto. Eu sempre li minha vida inteira, adoro ler, eu sou leitora. Então eu acho que o contato com livros me ajudou demais”, declara.

Dicas para uma redação nota mil

A estudante não tem uma receita pronta para um texto perfeito, entretanto, ela explica que o treino da redação ao longo do ano e o entendimento da estrutura exigida pelo Enem são fundamentais para a nota mil. Mas não apenas ‘questões’ técnicas são importantes, Luana aponta que o descanso também ajuda no melhor desempenho.

“A redação é um trabalho de um ano inteiro, não tem como você pegar e aprender redação em um mês, é um processo que realmente demora. Depois que você conseguir realmente entender como é o texto como estrutura, você parte para conseguir pegar gramática, que é muito importante para conseguir a fluidez do texto e deixar o corretor ler de modo mais claro”, explica

“O importante é fazer redação o ano inteiro, não esperar chegar na no olho do furacão para fazer. Minha dica é fazer com calma, primeiro você pode limitar seu tempo, seja livre, se quiser levar cinco horas você leva, depois você vai conseguindo administrar seu tempo”, acrescenta.

Enem 2023

Segundo os números divulgados pelo Inep, o Enem 2023 teve mais de 4 milhões de inscritos. Do total, mais de 2 milhões e 700 mil fizeram efetivamente a prova, ou seja, 68% de participação.

Conforme o Inep, a nota mínima da redação foi de 40 — a pasta da Educação desconsidera aquelas de nota zero, isso porque ao zerar essa parte da prova, o candidato feriu todos os requisitos de avaliação. Já a nota média foi de 641,6.

Veja os estados das redações nota mil:

Legenda: * (asterisco) significa que uma delas é da rede pública

  • Acre – 0
  • Alagoas – 0
  • Amapá – 0
  • Amazonas – 1
  • Bahia – 4
  • Ceará – 4
  • Distrito Federal – 1
  • Espírito Santo – 2*
  • Goiás – 4
  • Maranhão – 0
  • Mato Grosso – 0
  • Mato Grosso do Sul – 0
  • Minas Gerais – 2
  • Pará – 3
  • Paraíba – 0
  • Paraná – 0
  • Pernambuco – 2
  • Piauí – 6
  • Rio de Janeiro – 7*
  • Rio Grande do Norte – 6*
  • Rio Grande do Sul – 6
  • Rondônia – 0
  • Roraima – 0
  • Santa Catarina – 1
  • São Paulo – 7
  • Sergipe – 3
  • Tocantins – 1*