Guilherme Ravache

Uma nova chance para o Twitter

A empresa surpreende com diversas novidades, chega na frente do Facebook na corrida do áudio e mostra ainda que a competição entre as redes sociais voltou a existir após anos de estagnação


26/03/2021 10h55

O Twitter nos últimos anos se tornou conhecido por ser um rede social apática e pouco inovadora. Apesar de seus usuários fiéis e influentes, seus números nunca foram grandes o suficiente para atrair a mesma atenção e investimentos de publicidade como o Google e o Facebook.

Mas recentemente, uma série de novidades da rede surpreendeu o mercado e deu novo fôlego à rede social. O mais surpreendente foi o Twitter lançar sua cópia do Clubhouse, o Spaces, antes do Facebook. Historicamente, a empresa de Mark Zuckerberg sempre foi a mais rápida para copiar o que funcionava na concorrência.

E o Twitter ainda saltou na dianteira do Clubhouse. A plataforma Spaces oferece as mesmas funcionalidades do Clubhouse, mas com a vantagem de ser suportada nos aparelhos Android. O Clubhouse, que funciona apenas em iPhones, já avisou que ainda levará meses para funcionar no sistema operacional do Google.

Outra novidade do Twitter é a Revue, uma plataforma de newsletters comprada esse ano pela empresa. A Revue compete com o Substack, uma startup que tem atraído jornalistas e escritores independentes. O modelo de ambas é semelhante. Você cria uma newsletter e tem a opção de distribuí-la gratuitamente ou cobrar uma assinatura. O Revue e o Substack ficam com parte da receita.

O Twitter também lançou o Fleet, que se parece com o Snap e Instagram Stories, e anunciou um projeto coletivo de moderação de conteúdo, o 'Birdwatch', uma tentativa interessante de buscar uma solução escalável para os problemas de fake news e abusos na plataforma.

E há ainda o Super Follows, que dará aos usuários do Twitter a possibilidade de receber pagamentos por seu conteúdo. A empresa espera que ele atraia os influenciadores com grande número de seguidores, que poderiam cobrar por tuítes exclusivos, receber doações e aumentar a monetização dos criadores de conteúdo.

Não foi divulgada a data de estreia, mas a previsão é que aconteça ainda este ano. A empresa também não divulgou quanto seria porcentagem que cobraria das vendas desse recurso.

Mudar para o modelo de assinaturas é uma forma do Twitter depender menos da publicidade, que representou 86% da receita total da empresa em 2020. Em fevereiro o Twitter disse que pretende ter 315 milhões de usuários diários ativos (mDAUs) monetizáveis ​​até o final de 2023 e pelo menos dobrar sua receita anual neste ano.

Esta é a primeira vez que o Twitter define metas de longo prazo para receita e usuários diários. Em seu último relatório de lucros a empresa afirmou ter 192 milhões de mDAUs no quarto trimestre de 2020.

Mas o que está por trás dessas mudanças? Para muitos, além das mudanças no conselho diretor da empresa e diversas lideranças, está a chegada de Kayvon Beykpour, chefe de produto de consumo do Twitter. Beykpour completou 3 anos no cargo, um recorde para a empresa que antes teve sucessivas trocas na posição, com profissionais muitas vezes permanecendo somente alguns meses na posição.

Beykpour reconstruiu a tecnologia do Twitter, historicamente ruim. Também redefiniu a equipe em direção ao crescimento e passou a priorizar as iniciativas e estabelecer cronogramas claros para os projetos. Parece pouco, mas no Twitter isso foi uma revolução.

Agora, resta saber se a empresa conseguirá seguir inovando, e principalmente, não abandonar suas novidades. Ao longo dos anos o Twitter fez aquisições como o app Periscope. Mas matou o Periscope logo depois do Facebook ter lançado as mesmas funções em suas próprias plataformas.

Esse ano, em um encontro com analistas de mercado, a empresa passou um bom tempo admitindo ter um péssimo histórico de execução, comentando que lança novidades de modo lento e que destrói relacionamentos com parceiros estratégicos. E garantiu que daqui para fernete tuda vai ser diferente. Se admitir o problema é o começo para a solução, o passo foi dado.

Guilherme Ravache é consultor digital e colunista. Publica regularmente artigos sobre inovação e mídia na MIT Technology Review Brasil, Notícias da TV e Jornal do Commercio (JC). Jornalista com passagens pelas redações da Folha de S. Paulo, Revista Época e Editora Caras. Foi diretor de atendimento da Ideal H+K Strategies e gerente sênior de comunicação e marketing de relacionamento da Diageo.

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