Fundação Padre Anchieta

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Televisão

Rádio

É uma HQ curta, de quatro quadros.

Quadro 1: um pai está sentado à mesa com um papel e um lápis. Ao lado dele, uma cadeira, outra folha e outro lápis esperam uma pessoa: sua filha, ainda pequena. Ele diz:

- Venha, quero te ensinar a desenhar!

E ela responde:

- Por quê?

Quadro 2: uma mãe (a menina do quadro anterior, houve um salto temporal) está sentada à mesa ao lado do seu filho. Cada um tem papel e lápis à frente. A mãe responde:

- Porque meu pai me ensinou... Além disso, é um conhecimento bacana de ter.

Quadro 3: um pai (a criança do quadro anterior, houve outro salto temporal) está sentado à mesa ao lado da filha, que usa óculos. Uma vez mais, cada um tem papel e lápis à frente. O pai fala:

- Mas, na verdade... Eu só quero...

Quadro 4: uma mãe de óculos (a menina do quadro anterior...) está sentada à mesa ao lado do seu filho, cada um com seu papel e lápis. A mãe fala:

- Eu só quero passar um tempo contigo!

A história, simples e ilustrada apenas com tons de cinza, é um exemplo de “Lunarbaboon”, HQ do canadense Christopher Grady. Trata-se de uma webcomic (quadrinho pensado originalmente para a internet) que aborda o cotidiano de uma família – pai, mãe e um casal de filhos. A rigor, nada de extraordinário acontece: é uma rotina comum em todos os sentidos, e isso poderia resultar em um quadrinho tedioso. Mas é aí que entram o lirismo e o humor de Grady.

O protagonista da história (o pai) se esmera para dar uma boa educação aos filhos: ensina a respeitar e ouvir, a usar a imaginação, a ser gentil. Ao mesmo tempo, e talvez aí esteja o principal diferencial, ele expressa seus sentimentos. Na HQ descrita no início deste artigo, o pai admite que quer ensinar o filho a desenhar para passar mais tempo com ele. É como se ele dissesse: sou eu quem precisa de você, e não o contrário. Não é todo pai – ou mãe, ou irmão... – que expressa assim, sem medo, suas emoções.

E talvez este seja o lado mais forte da história: o emocional. Ao mesmo tempo em que vemos uma relação familiar regada a amor, retratada com doçura ímpar, também vemos o protagonista enfrentar uma luta diária contra a ansiedade e a depressão. Em alguns momentos, se sente derrotado e, metaforicamente, vai à lona. Gabriel o Pensador já cantava: “A vida é como andar de bicicleta – se parar você cai, se cair você levanta”.

Não é fácil ser pai. A responsabilidade, as dificuldades, o aprender a lidar com o inédito... tudo é trabalhoso e difícil. Para quem sofre de ansiedade e depressão, pode funcionar como catalisador para crises – um tabu que poucos abordam. “Lunarbaboon” expõe esses sentimentos complexos sem culpa: há a depressão, há a ansiedade... E há uma amizade e um amor enorme entre pais e filhos. Apesar de já ser enorme, consegue aumentar ainda mais.

Grady, assim como o protagonista, é pai de um casal e sofre de ansiedade e depressão. Ele não é quadrinista de formação, mas professor de crianças pequenas. E foi em um momento de crise emocional que criou “Lunarbaboon” como um exercício para lidar com seus sentimentos.

Quase uma década depois, é possível dizer que a série ultrapassou seu objetivo inicial. Virou uma HQ que vai do humor ao lirismo com facilidade e altas doses de doçura e reflexão. Não é fácil enfrentar ansiedade e depressão, sendo pai ou não, e não é fácil ser pai, tendo ansiedade e depressão ou não. E é incrível ver essas dificuldades sendo enfrentadas com tantas emoções boas: aquece o coração, dá uma sensação gostosa de esperança e alegria. “Lunarbaboon” é uma declaração de amor.

ps - “Lunarbaboon” ainda não foi traduzida para o português (você pode ler, em inglês, aqui). Aos amigos editores.... #ficaadica

ps2 – Mencionei mais cedo que “o protagonista da história (o pai) se esmera para dar uma boa educação aos filhos: ensina a respeitar e ouvir, a usar a imaginação, a ser gentil. Ao mesmo tempo, e talvez aí esteja o principal diferencial, ele expressa seus sentimentos”. Tenho este exemplo, ao vivo, desde que nasci, e por isso dedico este artigo ao Tonhão: feliz Dia dos Pais, pai!