Poucos personagens são tão icônicos no universo dos quadrinhos quanto Asterix. A criação máxima de René Goscinny (1926-77) e Albert Uderzo (1927-2020) ultrapassou as fronteiras da França – e da Europa - e se colocou no panteão dos clássicos mundiais ao lado de Superman, Astro Boy e poucos outros. Por isso, fico tão feliz ao ver um álbum inédito do personagem sendo lançado aqui no Brasil – mas vale a pena revermos um pouco a trajetória dos irredutíveis gauleses antes de falarmos da obra em si (que, sim, é boa!).
Goscinny (roteiro) e Uderzo (ilustrações) lançaram 24 álbuns do Asterix entre 1959 e 1979 – Uderzo concluiu o último roteiro de Goscinny dois anos após a morte do amigo. Depois, sozinho, Uderzo criou os livros seguintes, começando com “O Grande Fosso”, em 1980 – o último saiu em 2009.
Foi só em 2013 que Asterix foi entregue, pela primeira vez, a artistas que não fossem seus criadores. Entraram em cena os franceses Jean-Yves Ferri (roteiro) e Didier Conrad (arte), que nos trouxeram mais cinco aventuras dos gauleses. Os dois primeiros saíram no Brasil na época de seu lançamento (2013 e 2015, respectivamente), mas depois houve um hiato de seis anos.
Seis anos sem o druida Panoramix e sua poção mágica, Ideiafix, aquele grupo de piratas audazes porém azarados ou as canções do bardo Chatotorix, sempre incompreendidas pelo público e aclamadas pela crítica (segundo o próprio, é claro...)
Mas no ano passado tivemos “Asterix e a Transitálica” e, agora, “A Filha de Vercingetorix”, a “boa notícia” do título deste artigo.
Um resumo: os romanos estão perseguindo Adrenalina, a filha adolescente do mítico chefe gaulês Vercingetorix. Os guerreiros que a protegem precisam de ajuda, e quem melhor para defender a jovem do que o trio formado por Asterix, Obelix e Ideiafix?
As cartas estão na mesa: romanos, gauleses, perseguições, emboscadas... Como as HQs anteriores criadas por Ferri e Conrad, temos uma obra de muito respeito ao trabalho prévio de Goscinny e Uderzo. É uma aventura engraçada, em que a astúcia de Asterix, a ingenuidade de Obelix e a coragem de Ideiafix brilham em igual medida.
Ferri e Conrad dão um interessante passo além: como Adrenalina é uma teen, vemos pela primeira vez com destaque alguns dos adolescentes da famosa aldeia. Ganham importância Blinix, filho do peixeiro Ordenalfabetix, e Selfix, que estuda para ser ferreiro como o pai, Automatix. Se os dois adultos mais brigam entre si do que concordam, os filhos são amigos próximos – afinal, que teen segue voluntariamente os passos do pai?
“A Filha de Vercingetorix” deixa gostinho de quero mais e dá vontade de reler os álbuns anteriores – não só os de Goscinny & Uderzo, mas os de Ferri & Conrad também. Afinal, para quem acompanha as aventuras dos gauleses, Asterix, Obelix e seus vizinhos da aldeia são como velhos amigos que sempre nos trazem risadas e boas recordações.
Com a publicação de “A Filha de Vercingetorix”, temos apenas um álbum inédito do Asterix: “Astérix et le Griffon”, lançado na França em outubro passado. Por Tutatis, que saia no Brasil ainda neste ano!
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