Comemoramos, no próximo dia 30 de janeiro, o Dia do Quadrinho Nacional. A data é uma homenagem a um pioneiro da HQ brasileira (e mundial): Angelo Agostini (1843-1910), criador dos antológicos personagens Nhô Quim e Zé Caipora.
Aproveito a efeméride para indicar seis HQs brasileiras das quais gosto muito. Procurei gêneros diferentes – afinal, não é todo mundo que gosta de todos os gêneros (eu, por exemplo, não sou muito fã de comédias românticas). Então, temos aqui representantes de crítica social, aventura, fantasia, infantil, drama e humor.
Além disso, de segunda (25) a domingo (31), o site Hábito de Quadrinhos terá artigos apenas sobre HQs nacionais – uma forma não só de incentivar a leitura desses autores, mas de reconhecer o ótimo trabalho deles.
Parabéns a todos os quadrinistas brasileiros!
“As Aventuras de Nhô-Quim e Zé Caipora”, de Angelo Agostini
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Achei coerente que a lista começasse com o patrono do quadrinho brasileiro... E, francamente, ele merece. Em pleno século 19, o ítalo-brasileiro Angelo Agostini inventava seu próprio jeito de fazer quadrinhos. Não havia uma linguagem como há hoje, com balões de fala e pensamento, uma certa moldura fixa envolvendo as cenas etc. Se quisesse, ele poderia, por exemplo, mudar o sentido de leitura de da esquerda para a direta para de cima para baixo. Aliás, ele fez isso algumas vezes.
O Senado brasileiro lançou, em 2002, uma edição incrível chamada “As Aventuras de Nhô-Quim e Zé Caipora: os primeiros quadrinhos brasileiros 1869-1883”. São 40 páginas de textos explicando quem foi Agostini e como aquelas séries foram publicadas, mais 160 páginas de quadrinhos. O livro está disponível, online e de graça, no site do Senado Federal.
“Garra Cinzenta”, de Francisco Armond e Renato Silva
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Um clássico brasileiro – e não falo aqui só de qualidade: é antiga e original. Esta série começou a ser lançada no jornal paulistano “A Gazeta” em 1937, portanto um ano antes do surgimento do Superman. Trata-se de uma obra de suspense, com a polícia perseguindo um misterioso criminoso.
Por falar em mistério: até hoje não se sabe quem é a pessoa que assinou o roteiro sob o pseudônimo de Francisco Armond. Se você souber, conte para nós!
“Achados e Perdidos”, de Eduardo Damasceno, Luís Felipe Garrocho e Bruno Ito
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Esta é uma obra surpreendente. Você pode chamar de fantasia, mas os adjetivos “fábula” e “lírico” também cabem. Foi meu primeiro encontro com esses autores, e desde então vou atrás de tudo o que vejo deles.
A sinopse: um adolescente acorda com uma espécie de buracovnegro na barriga. Com um ponto de partida tão criativo quanto esse, os autores corriam o risco de se perderem na história. Que nada! Qualidade do início ao fim.
“Bear”, de Bianca Pinheiro
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Eu podia indicar uma HQ da Turma da Mônica para ser a representante infantil desta lista? Sim, podia. Mas você já leu Mauricio de Sousa, então quis trazer uma obra diferente.
“Bear” é uma aventura fofa, criativa e engraçada. Bianca Pinheiro sabe escrever e desenhar. A trama começa simples, mas cativante: uma menina está perdida e precisa de ajuda para encontrar seus pais. Aí, ela recorre a... um urso falante. :-)
“Talco de Vidro”, de Marcello Quintanilha
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Quintanilha é um dos grandes quadrinistas brasileiros deste século, como podemos ver neste drama. Rosângela é uma profissional experiente a reconhecida, com um ótimo casamento e uma rotina confortável. Mas há um sentimento... Um sentimento de que algo está faltando? Uma tristeza sem origem definida? Algo que ela, a princípio, sequer consegue identificar direito?
Se gostar deste álbum, não pare por aqui. Quintanilha é o autor de muitas ótimas obras, como “Sábado dos Meus Amores”, “Luzes de Niterói” e “Tungstênio”.
“Deus”, de Laerte
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A carreira da Laerte tem muitas fases. Nos anos 70, venceu a primeira edição do Salão de Humor de Piracicaba. Criada no auge da Ditadura brasileira, a charge vencedora mostra um menino sendo torturado e gritando: “O rei estava vestido!”, uma alusão à fábula de Hans Christian Andersen em que o menino grita a verdade que ninguém quer admitir (“O rei está nu!”). Naquele Brasil em que ela começou a carreira, a verdade era tratada com censura e tortura.
Hoje, nos jornais e nas redes sociais, Laerte continua politicamente ativa, mas sem personagens fixas – vide as ótimas charges publicadas às terças na Folha. Entre os anos 70 e o momento atual houve uma fase, marcada pela revista “Piratas do Tietê”, em que ela usou e abusou de personagens criativos e hilários, como o Overman.
Mas eu vou recomendar o personagem mais poderoso da Laerte – literalmente, veja você. Afinal, é onipotente! As histórias da Laerte estreladas por Deus são não só engraçadas, mas por vezes líricas e reflexivas. Foram publicados apenas três livros com a personagem. Torço para que, um dia, Laerte retome este encantador personagem.
Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. Nascido e criado em São Paulo, é filho de um físico luso-angolano e de uma jornalista paulistana.
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