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Há poucas semanas, a Disney anunciou uma enxurrada de atrações para os próximos três anos. Entre séries e filmes, são mais de dez títulos relacionados ao universo de super-heróis da Marvel, mais dez da franquia Star Wars, um longa do Indiana Jones (<3 Harrison Ford)... Entre tantas novidades, uma me atraiu a atenção: “Iwájú”, série animada cocriada com o estúdio africano Kugali.

Sabe por isso que me atraiu tanto? Pense comigo... quando foi a última vez que nós tivemos acesso a uma história em quadrinho, ou animação, ou longa... feito na África?

O Kugali foi criado por três amigos: os nigerianos Ziki Nelson e Tolu Olowofoyeku e o ugandense Hamid Ibrahim. Em seu site oficial, eles dizem que o objetivo é “contar histórias inspiradas na cultura africana por meio de quadrinhos e realidade aumentada”.

Para a BBC, ano passado, foram um tiquinho mais específicos: “nós vamos detonar a Disney” (esta é uma tradução subjetiva de “going to kick Disney's ass”).

Na mesma entrevista, Ziki Nelson refletiu sobre os objetivos do Kugali: “Quase não há negros na ficção científica – é como se estivessem passando a mensagem de que não haverá negros no futuro”. E as primeiras histórias do estúdio trouxeram essa pegada, também conhecida como afrofuturismo: a ficção científica inspirada na cultura africana.

A parceria Kugali-Disney vai manter esse olhar: “iwájú”, palavra que batiza a animação, significa “futuro” em iorubá, idioma falado em Benim, Nigéria, Togo e outros países – e também em parte do Brasil. O iorubá é patrimônio imaterial tanto do Rio de Janeiro quanto de Salvador.

“Iwájú” vai estrear no Disney+ apenas em 2022, e pouco se sabe sobre a animação. Ela se passa no futuro e é ambientada na Nigéria, disso temos certeza. Ao divulgar a obra, a Disney afirmou também que irá abordar “temas profundos, como classe social, inocência e desafio ao status quo”. A julgar pela única arte já divulgada, a que abre este texto, podemos prever que será visualmente linda.

Temos pouco contato com a cultura africana aqui no Brasil. Em entrevista ao site Hábito de Quadrinhos, irmão desta coluna aqui na TV Cultura, o acadêmico Márcio Rodrigues, criador e professor do Curso Quadrinhos Africanos, fez ponderações bem interessantes sobre isso: “Conhecemos e consumimos quadrinhos (e também produções como cinema e literatura) que têm como cenário o continente africano. Figuras como Tarzan são bastante conhecidas. Creio que muita gente já viu algo do Fantasma ou do Tintim em sua passagem pelo Congo. No entanto, não consumimos as publicações locais, produzidas por autores do continente.”

Tem um comentário de Rodrigues, na mesma entrevista, ainda mais instigante: “O Brasil é um país mais africano do que europeu. Então por qual razão não deveríamos tratar dos quadrinhos africanos?”.

Ainda vai levar um tempo para podermos ver o resultado da parceria Kugali-Disney. Mas quem lê em inglês pode já ver o que levou a Casa do Mickey para este projeto. Em seu site oficial, o Kugali disponibiliza gratuitamente quadrinhos criados por eles, como a antologia de horror inspirada no folclore nigeriano “Taboo: A date with Death”, a aventura “Mumu Juju” e a fantasia “Nani”. Para quem gosta de experimentar novas formas de arte, vale muito a pena.

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. Nascido e criado em São Paulo, é filho de um físico luso-angolano e de uma jornalista paulistana.

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