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Tudo começa com um assassinato. A polícia é acionada após um homem ser morto dentro de sua própria casa. Uma história de suspense, a princípio. Mas não - afinal, quem assume o caso é a divisão de cri metalinguísticos.

?!?!

O que são crimes metalinguísticos?

Li recentemente “Meta – Depto. De Crimes Metalinguísticos”, obra nacional criada por Marcelo Saravá (roteiro), André Freitas (arte), Omar Viñole (cores) e Deyvison Manes (letras/design). O primeiro parágrafo deste texto é a apresentação da obra, mas não explica muita coisa. Afinal, toda obra de suspense gosta de ir se desenrolando aos poucos...

Os tais “crimes metalinguísticos” são, veja você, infrações cometidas por personagens ficcionais – de qualquer área. É como se a Geni saísse da canção do Chico Buarque para assaltar um banco. Ou o Dom Casmurro, do clássico do Machado de Assis, organizasse um sequestro... Você entendeu, essa é a pegada.

Mas “Meta” é uma HQ. E a namorada da vítima é uma... quadrinista. Que cria super-heróis e supervilões. Para os policiais da Divisão Meta investigarem o caso, eles têm de entrar nos quadrinhos criados por ela para interagir com seus personagens – no caso, o supergrupo conhecido como Tropical Force.

Caso se tratasse “apenas” da investigação de um crime, “Meta” já seria interessante: os personagens são carismáticos e profundos. O que mais me divertiu foi Alan Mancuso, cunhado da vítima e escritor, que acaba se envolvendo na investigação por conhecer a fundo os personagens inventados pela irmã. Mas há outros dignos de nota, como a policial cleptomaníaca (!?) e a própria artista criadora da Tropical Force.

Como deixei indicado acima (espero), este álbum vai além do suspense. A sacada de criar os crimes metalinguísticos, além de divertida, permite que se explore características próprias dos quadrinhos: os balões de fala, as onomatopeias, os flashbacks... Tudo faz sentido dentro da história, e diverte ao mesmo tempo. Em momento algum você esquece que está lendo uma HQ, mas acaba sendo surpreendido ao ver seus elementos gráficos sendo usados de maneira tão criativa – já viu alguém usar o número que indica em que página estamos como arma?

Não conversei com os artistas pessoalmente, mas fiquei com a impressão de que é uma declaração de paixão aos quadrinhos. Não só por trabalhar seus elementos particulares de forma tão divertida (isso também!), mas pelas homenagens a artistas (Laerte, Scott McCloud, Juan Giménez) e personagens incríveis (Little Nemo, Tianinha, Diomedes). Isso sem falar no estilo da arte – que já é bem bonito nas páginas normais -, mas que muda para se adaptar a momentos específicos, como uma grande explosão no final de um dos capítulos.

“Meta” é uma divertida aventura, bem resolvida e concluída neste volume. Mas deixa uma janela aberta (no caso, acho que seria mais correto dizer “um quadrinho em branco”) para mais. Tomara que aconteça.

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. Nascido e criado em São Paulo, é filho de um físico luso-angolano e de uma jornalista paulistana.

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