A Netflix estreou, na semana passada, a nova série do Demolidor. Só vi o primeiro episódio até agora, e estou bem feliz com a série. O Demolidor sempre foi um dos meus preferidos. Talvez por ser tão diferente: um personagem cego! Mas outra possibilidade é: ele teve a sorte de ter ótimos artistas escrevendo e/ou ilustrando suas histórias.
Quando comecei a preparar esta coluna, minha ideia era separar as cinco melhores histórias do Demolidor. Desisti. Sua mitologia é muito rica, com muitas fases: as histórias mais inocentes (conhece o irmão gêmeo dele?); as sagas mais urbanas, com crimes pés no chão (as de Frank Miller, por exemplo); as mais fantasiosas, totalmente imersas no universo dos super-heróis (Mark Waid em ação).

Enfim, as cinco histórias que eu ia separar viraram dez. E não tive coragem de cravar “melhores” no título: deixei muita coisa bacana de fora, como “Parte de um Vazio”, de David Mack e Joe Quesada, ou a graphic novel “Amor e Guerra”, com Frank Miller e a alucinante arte do Bill Sienkiewicz. Mas vamos às dez selecionadas:
1964 – “A Origem do Demolidor”, de Stan Lee e Bill Everett

O título entrega: é como tudo começou. Stan Lee ousou criando um super-herói cego – e, algo curioso, um herói que se veste como o próprio demônio. O drama pessoal de Matt Murdock (menino cego criado com muito amor pelo pai – que é brutalmente assassinado) nos brinda com um dos personagens mais interessantes do gênero dos super-heróis.
1967 – “Surge o Sapo!”, de Stan Lee e Gene Colan
Esqueça o sapo do título. Foco neste “coadjuvante” que aparece: o espalhafatoso Mike Murdock, “irmão gêmeo” de Matt. Ou seria apenas um recurso para preservar sua identidade secreta como Demolidor?
1976 – “Watch Out For Bullseye He Never Misses!”, de Marv Wolfman e William Robert Brown
Uma história que poucos fãs brasileiros do Demolidor leram – até por ser inédita por aqui, segundo o site (e meu oráculo) Guia dos Quadrinhos. O roteirista Marv Wolfman, mais famoso por suas participações na rival DC Comics, ampliou a mitologia do Demolidor com um dos seus piores antagonistas: o brutal Mercenário.
1981 – “Última Cartada”, de Frank Miller

Há uma personagem importante no universo do Demolidor que ainda não apareceu nesta lista: a heroína/anti-heroína/vilã Elektra. Personagem importante, ambígua, conquistou o coração de Matt Murdock... e o dilacerou, nesta história de final trágico graças à participação do violento assassino Mercenário.
1985 – “Profecia”, de Denny O’Neil e David Mazzucchelli
Seu nome é Matt, ele é advogado e, quando as Leis falham, atua como super-herói... Mas não é o Demolidor! Matthew Liebowicz é o Defensor Mascarado, personagem da Marvel que atua no século 19 do Velho Oeste. O roteirista Denny O’Neil foi muito feliz ao unir estas coincidências em um roteiro inteligente e ricamente ilustrado por David Mazzucchelli.
1985 – “Neblina”, de Denny O’Neil e David Mazzucchelli

A vida do Demolidor nunca foi fácil (basta ver sua origem). E poucos dramas que ele viveu me marcaram tanto, enquanto leitor, quanto esta história mais uma vez criada pela dupla O’Neil & Mazzuchelli. Há problemas na vida do advogado Matt Murdock que nem mesmo o poderoso Demolidor pode resolver.
1986 – “A Queda de Murdock” (imagem que abre este texto), de Frank Miller e David Mazzucchelli
Constantemente apontada como a melhor história do personagem – e quem sou eu para discordar? Wilson Fisk, o Rei do Crime, descobre a identidade secreta do Demolidor. E passa meses planejando um ataque que dura apenas um dia – mas tira tudo de Matt Murdock, do dinheiro na conta corrente à licença para atuar como advogado. Um épico marcante na mitologia da editora Marvel.
1988 – “Tifoide!”, de Ann Nocenti e John Romita Jr.

Toda a fase dos ótimos Ann Nocenti (roteiro) e John Romita Jr. (ilustrações) é cativante. Seja no lado aventureiro do Demolidor ou no lado emocional de Matt, vemos o personagem em um emaranhado de emoções e perigos. Esta história, em particular, é marcante por apresentar a rica personagem Mary Tifoide.
1998 – “O Diabo da Guarda”, de Kevin Smith e Joe Quesada
O cineasta, escritor, quadrinista e, acima de tudo, nerd Kevin Smith criou uma saga curta e impactante, mexendo com coadjuvantes importantes introduzidos na fase do Frank Miller (como a mãe do Demolidor e seu amor, Karen Page) e apresentando novos vilões. Para variar, temos aqui uma tragédia.
2005 – “Decálogo”, de Brian Michael Bendis e Alex Maleev

A fase do Demolidor escrita pelo americano Brian Michael Bendis e lindamente ilustrada pelo búlgaro Alex Maleev, é a minha favorita do personagem. Você verá gente que prefere a fase do Frank Miller, ou a do Mark Waid, ou a da Ann Nocenti – e não se preocupe, não tem certo ou errado aqui.
Eu poderia citar a fase inteira dessa dupla e todas as suas reviravoltas: a revelação da identidade secreta do Demolidor, um novo interesse amoroso, novos coadjuvantes etc. Mas são quase seis anos na revista mensal, totalizando 55 números. Então, resolvi centralizar em “Decálogo”, uma história que mostra um grupo de apoio para pessoas traumatizadas com ações que envolvem vilões combatidos pelo Demolidor – ou seja, indiretamente, pessoas afetadas pelo próprio personagem.
Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.
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