O norte-americano Brian Michael Bendis é um dos grandes roteiristas dos quadrinhos de super-heróis da atualidade. Para mim, ele é o maior, mas é compreensível que outros leitores tenham seus favoritos.
Mas vou apresentar o Bendis para quem não o conhece (ou sabe pouco sobre ele). Hoje roteirista, começou fazendo tudo nos quadrinhos: história, desenho, arte-final, cor, letras. Seus primeiros trabalhos foram em editoras independentes. Depois, foi para a Marvel, onde brilhou tanto que lhe ofereceram a revista mensal dos Vingadores, com direito a escrever, de uma vez, Capitão América, Homem de Ferro, Vespa... Não satisfeito em assumir o título dos “maiores heróis da Terra”, ainda promoveu a membros do grupo dois personagens que jamais haviam estado lá: Homem-Aranha e Wolverine. E a Marvel, claro, deixou.
Após anos brilhando em muitos títulos da Marvel, Bendis foi para a grande rival: DC Comics. Está lá desde 2018, claramente se divertindo com seus personagens favoritos, como o Superman e a Legião dos Super-Heróis.
Com tanta criação boa, fazer uma lista de “Top 5” dos principais trabalhos de Bendis é complicado - eu colocaria o Demolidor e a Jessica Jones, e acho que teria de sortear para escolher os demais. Mais difícil ainda seria apontar sua obra-prima, mas é justamente dela que queria falar: “Powers”!
A série “Powers” foi lançada em 2000 por Bendis (ainda antes de ir para a Marvel) e o ilustrador Michael Avon Oeming. A premissa é: em um mundo em que criaturas com superpoderes existem (tanto heróis como vilões), haveria uma delegacia especializada nesses seres poderosos. E os dois protagonistas da série são policiais desta força-tarefa específica: uma humana e um ex-herói que perdeu os poderes. Pronto, podemos começar!
O que se desenvolve a partir dessa premissa é um mundo que parece mostrar que as possibilidades para as histórias com super-heróis não têm fim – assim como a imaginação de Bendis.
Se nosso mundo, as revistas de fofoca são sobre celebridades da TV e do cinema, em “Powers” são sobre... superpoderosos. Quem namora quem? Quem colocou silicone? Quem é alcoólatra? Quem é barraqueiro?
E como seriam os humanos normais em um mundo com tanta gente voando de uniforme por aí? Fariam de tudo, inclusive tomar drogas, para tentar desenvolver poderes? Sentiriam admiração? Inveja? Despeito?
E o que acontece quando um super-herói cai no ostracismo? Contrata um relações-públicas? Forja um acontecimento ruim só para salvar o dia e sair bem nas notícias? Inventaria fake news e as divulgaria para sites sensacionalistas?
E como é ser um policial em um mundo assim? A dupla de PMs chega a um banco para frustrar um assalto e, de repente, um dos bandidos levanta voo e começa a disparar raios pelos olhos... o que fazer?
E se uma pessoal imoral tem poderes de verdade, por que ela tentaria “dominar o mundo” à la Lex Luthor do desenho dos Superamigos? Por que não ficar nas sombras, ganhando muito dinheiro sem chamar a atenção dos heróis mais poderosos do que ele?
“Powers” tem tudo isso e muito mais. Diálogos hilários, ação vertiginosa, homenagens a heróis e vilões conhecidos... E, acima de tudo, criatividade para aproveitar um gênero que poderia estar se desgastando e dar vitalidade a ele.
Bendis e Oeming já lançaram 98 histórias de “Powers”. Apenas as 11 primeiras saíram no Brasil, em um encadernado da Panini. É um ótimo começo, mas é isso: um começo. A criatividade de Bendis ainda voaria bem alto nos números seguintes. Quem sabe um dia não veremos a continuação desta saga por aqui?
Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.
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