Fundação Padre Anchieta

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Nós, brasileiros, temos uma longa tradição em tiras de quadrinhos publicadas em jornais. Hoje, felizmente, ainda há material de primeira sendo publicado, como Laerte e André Dahmer, entre muitos outros.

Mas queria falar um pouco das tiras publicadas originalmente nos Estados Unidos, país com tradição de mais de um século na área. Há obras de enorme qualidade que estão inacessíveis para o leitor brasileiro. Uma grande parte desse material jamais foi traduzida – ou, apesar de ter sido, é difícil de ser encontrada. A mais jovem das tiras que cito abaixo tem... 97 anos! Sugiro aqui apenas cinco, mas há muito mais.

(Eu já falei mais longamente sobre alguns desses autores no site Hábito de Quadrinhos, irmão desta coluna. Basta clicar nesses nomes para ler o artigo correspondente)

1903 - The Upside-Downs, de Gustave Verbeek

Uma das obras mais surpreendentes que já li. Cada história é narrada em apenas duas tiras, que valem por quatro. Vou explicar...

Você lê as tiras e conhece o início da história. Aí, vira a página de ponta-cabeça (isso mesmo), e lê as mesmas duas tiras, mas agora para saber como termina. (Se estiver lendo esta coluna no celular, fique de olho na imagem logo acima e gire o aparelho para entender.)

Os mesmos desenhos servem nos dois sentidos de leitura: quando você está com o livro na posição normal e quando o vira de ponta-cabeça.

Se é difícil de entender, imagine o trabalhão que deu para criar uma história como essa, semanalmente, por dois anos.

1905 - Little Nemo, de Winsor McCay

O protagonista desta preciosidade é o menino Nemo, e as histórias são seus sonhos – ele sempre acorda no último quadro da página (caindo da cama, inevitavelmente).

O ambiente do mundo dos sonhos valoriza a inovação. A criatividade do artista era testada semanalmente, e ele aproveitava a oportunidade para layouts diferentes, figurinos hilários, cenários nada convencionais… Mais do que um pioneiro dos quadrinhos, McCay foi um revolucionário.

1913 - Bringing Up Father, de George McManus

McManus, filho de imigrantes irlandeses, criou no início do século 20 esta tira focada no casal Jiggs e Maggie, que também trocou a Irlanda pelos EUA. Esta preciosidade do humor foi lançada continuamente por... 87 anos! (Nem sempre de autoria de McManus – ele morreu em 1954.)

Se os nomes Jiggs e Maggie não despertam nada na sua memória, acho compreensível. Na última edição brasileira que comprei estrelada por eles, em 1989, seus nomes foram traduzidos por... Pafúncio e Marocas.

1918 - Gasoline Alley, de Frank King

Eu fiquei impressionado com a longevidade de Bringing Up Father, mas Gasoline Alley bate o recorde: está sendo publicado até hoje, 103 anos depois!

Os personagens da série envelhecem em tempo quase real, o que é uma raridade em tiras. Se Walt Wallet e Phyllis Blossom, então namorados, eram os protagonistas no início, hoje é possível ver em ação sua neta Clovia Wallet Skinner e seu marido, Slim Skinner. E a saga continua, claro. Slim e Clovia também já têm netos: Boog e Aubee Rose. Outra preciosidade.

1924 - Annie, a Pequena Órfã, de Harold Gray

Essa história é maravilhosa – e quase centenária (surgiu em 1924). O título entrega quase tudo: Annie é uma menina órfã, acompanhando apenas do seu cãozinho Sandy. Há muito drama em sua vida, mas também humor e aventura.

Harold Gray foi um grande narrador e conseguia colocar, em cada tira, dinamismo e profundidade. Há várias adaptações para o cinema, talvez você já tenha entrado em contato com esta maravilhosa personagem.

Fico na torcida para que alguma editora se comova e nos traga novidades em breve. 

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.