Na semana passada, publiquei aqui na coluna uma lista com cinco quadrinhos que adoraria que fossem lançados no Brasil neste alvissareiro 2022. Achei que a missão foi cumprida, mas... fiquei com uma comichão na cabeça. Tem tanta coisa boa por aí!
Então, fiz uma nova lista de desejos – e vou parar por aqui, pois ainda teremos muitos temas legais para tratar sobre quadrinhos. Assim como na semana passada, temos uma seleção eclética: um mangá, banda desenhada europeia, HQ norte-americana de super-herói e não de super-herói e... você já leu algum quadrinho da Nova Zelândia?
“Fênix”, de Osamu Tezuka
Quem chega ao Museu Osamu Tezuka, em Takarazuka (Japão, cidade-natal do maior mangaká de todos os tempos), se depara com uma estátua da Fênix, imponente, ainda do lado de fora.
Fênix é a personagem-título do melhor mangá criada por Tezuka – não na minha opinião, mas na do próprio “deus-mangá”. Trata-se de uma série que aborda filosofia, religião e reencarnações por meio do mito da fênix, pássaro que, ao morrer, renasce das próprias cinzas.
“Lore Olympus”, de Rachel Smythe
Conhece o mito grego de Hades e Perséfone? Eu conhecia. Achava trágico. Aí vem Rachel Smythe, da Nova Zelândia, e nos brinda com esta encantadora webtoon (explico aqui os conceitos de webcomics e webtoons).
“Lore Olympus” é uma adorável comédia romântica que transporta Hades e Perséfone – e toda a imensa mitologia grega a seu redor – para os dias de hoje, com direito a celulares, mídia sensacionalista, redes sociais... Um trabalho de qualidade – com ênfase tanto na “comédia” quanto no “romance”.
“Positive/Negative”, de vários artistas
Este é um projeto incrível que tem como base os direitos humanos. Em seu site oficial, https://positivenegatives.org/, temos quadrinhos e animações que falam de imigração, fome, guerra civil, mutilação feminina etc. Temas importantíssimos.
Por trás destas histórias, estão depoimentos autobiográficos ou pesquisas que são retratados por diferentes artistas, como Debasmita Desgupta (de Singapura), Gabi Froden (Suécia), Pat Masioni (República Democrática do Congo), Diala Brisly (Síria), Kruttika Susarla (Índia) e Lula Mebratu (Eritreia). Diferentes origens, estilos, histórias e maneiras de narrar.
Este riquíssimo material é publicado em inglês. Adoraria ver, se não todo, ao menos parte dele à disposição de nós, lusófonos.
“Powers”, de Brian Michael Bendis e Michael Avon Oeming
Sejamos justos: o início desta saga já saiu aqui no Brasil. E é muito pouco! “Powers” mostra uma dupla de detetives que vive em um mundo repleto de super-heróis – e supervilões. Eles trabalham em uma delegacia especializada justamente neste super-seres.
OK, essa é a premissa. O grande lance de “Powers” é o enorme talento de Brian Michael Bendis como roteirista. Os carismáticos personagens, os diálogos, as cenas de ação, o suspense: tudo colabora para colocar “Powers”, ao lado de “Astro City” (que felizmente tem sido publicada no Brasil), como as duas grandes séries recentes de super-heróis em quadrinhos.
“Powers” até virou uma série de TV sem muito orçamento. Esqueça. Vá direto à fonte principal: você não vai se arrepender.
“Sam’s Strip”, de Mort Walker e Jerry Dumas
Você conhece o trabalho do norte-americano Mort Walker: é a mente por trás do Recruta Zero. Criativo, hilário e, aparentemente, uma fonte inesgotável de ideias, Walker conseguiu criar, por décadas, outros projetos enquanto conseguia manter a tira diária do Recruta Zero em alto nível.
Um desses projetos saiu por apenas dois anos, de 1961 a 63. Cocriado por Walker e pelo também americano Jerry Dumas, “Sam’s Strip” mostra Sam, que sabe ser um personagem dentro de uma tira em quadrinhos. As histórias, hilárias, têm metalinguagem, quebra da quarta parede (com o protagonista falando com o leitor) e participações especiais de outros personagens de HQs.
Talvez “Sam’s Strip” já tenha saído em algum jornal brasileiro (acho que não). Mas seria demais ver este material tão criativo reunido em um livro.
Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.
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