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Aqui entre nós: o que você sabe sobre Madagáscar, além de ser um país na África?

Os mais jovens se lembrarão da ótima animação "Madagascar", da DreamWorks - eu amo aqueles pinguins. Os mais velhos, da música "Madagáscar Olodum", do Olodum, com seu inesquecível refrão "Ilha, ilha do amor... Madagascar... Ilha, ilha do amor...".

(Aliás, por causa desse refrão, tenho certeza de que muita gente pronuncia equivocadamente o nome do país e fala "MadagasCÁR" em vez de "MadaGÁScar".)

Madagáscar é um polo dos quadrinhos da África. Eu já sabia disso de entrevistas do acadêmico mineiro Márcio Rodrigues, especialista em quadrinhos africanos, e fiquei ainda mais interessado ao ver a matéria "Madagascar, place forte de la bande dessinée en Afrique", do "Le Monde" - em tradução livre, "Madagáscar, reduto dos quadrinhos na África". Pesquisei um pouco e separei, aqui na coluna, três dicas interessantes de HQs malgaxes, inéditas por aqui. Se você, como eu, gosta de conhecer tipos diferentes de quadrinhos (ou de qualquer outra arte), vai se interessar.

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Em tempo, para nos situarmos: fui procurar informações precisas sobre Madagáscar no livro "The World Factbook" da CIA. Madagáscar é uma ilha situada no oceano Índico, ao sul da África. Tem uma população de 28 milhões de pessoas (os Estados de Goiás e Minas somados). As línguas oficiais são o malgaxe, falada por toda a população, e o francês, conhecido por 24%. A capital é Antananarivo, de 3,7 milhões de habitantes - maior que Brasília, que tem aproximadamente 3,1 milhões. O futebol, claro, é uma paixão nacional, mas não chega a ser uma potência do continente. Toda seleção africana de futebol tem um apelido bacana, normalmente associado a um animal: os malgaxes são conhecidos como os zebus!

A língua malgaxe é completamente incompreensível para mim. Veja esta frase: "Anaram-bositra niantsoana an’Andrianampoinimerina ny Ombalahibemaso, mpanjaka nanana ny maha izy azy tamin’ny fotoan’androny (1787-1810)." Eu só entendi os anos Pela repetição de fonemas, diria que é o trecho de uma poesia, mas trata-se de um trecho de não-ficção sobre a primeira HQ publicada no país.

Voltando aos quadrinhos... A primeira dica é justamente o marco inicial de HQs em Madagáscar: "Ny Ombalahibemaso", lançado em 1958. Trata-se da vida do rei Andrianampoinimerina (1745-1810), considerado unificador da ilha e "pai" do Madagáscar moderno. Esta curta obra (50 páginas) é considerada a primeira HQ local. Como será este conciso roteiro? E a arte?

Uma curiosidade: o homem por trás do roteiro de "Ny Ombalahibemaso" foi um padre e filósofo chamado Antoine de Padoue Rahajarizafy - a arte ficou a cargo de Jean Ramamonjisoa.

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Saltemos duas décadas e vamos para os anos 80, considerados "a era de ouro" dos quadrinhos malgaxes. Muita produção local, em forma de fanzine ou de revista por editora profissional, com histórias que iam da ficção científica a dramas. Eu me contentaria em ler uma antologia com as melhores histórias se "Ngah", revista de humor que marcou época por ali - diversos artistas e estilos, de anos diferentes, fariam um retrato abrangente.

Mas, convenhamos, encontrar uma antologia assim não deve ser fácil. Eu ficaria feliz em ver um exemplar original - pelo que li, há alguns encontráveis em sebos e livrarias. Esta seria minha segunda dica - como se vê, mais voltada para estudiosos e colecionadores.

Vamos novamente saltar algumas décadas e apresentar uma sugestão voltado para leitores de gosto mais amplo. A matéria do "Le Monde" cita alguns artistas contemporâneos, como Eric "Dwa" Andriantsialonina, premiado por sua adaptação de "1984", de George Orwell. Mas a que mais me atraiu foi uma biografia de Arthur Rimbaud feita pelo artista Liva. A história foi criada com caneta esferográfica sobre papel antemoro, típico de Madagascar, raspado com navalha. Como será que ficou?

Das três obras que citei, a HQ de Liva me parece a que tem mais possibilidade de publicação por aqui - é contemporânea, é interessante, e já está chegando ao mercado europeu, o que amplifica seu alcance.

Quem sabe um dia nós, leitores brasileiros, não teremos contato com quadrinhos de Madagáscar?

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romanceVenha me ver enquanto estou vivae da graphic novel Púrpura, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.