Fundação Padre Anchieta

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Sei que muita gente torce o nariz quando ouve a palavra feminismo, o que acho triste. Sejamos todos e todas feministas! Pela vida das mulheres.

Enquanto houver machismo, o feminismo será necessário – tanto pela preservação e conquista dos direitos das mulheres, quanto pela garantia de suas vidas.

O machismo mata e isso não é bobagem, é nossa triste realidade. A violência doméstica no Brasil mostra dados alarmantes. São mulheres agredidas pelos próprios maridos ou companheiros, na maioria das vezes pais dos seus filhos. São mães que sofrem ataques de homens que não se conformam por não serem “obedecidos” ou não aceitarem que a mulher queira terminar um relacionamento, ou seja, que ela tenha vontade própria.

Temos aqui a diferença principal entre machismo e feminismo: enquanto o machismo prega uma superioridade do homem, usando até violência, o feminismo luta por igualdade de direitos e oportunidades e pela defesa das mulheres.

Não é à toa que, além da Lei Maria da Penha (considerada uma das melhores do mundo), foi aprovada no Brasil, em 2015, também a Lei do Feminicídio: crime hediondo que especifica quando a mulher morre por sua condição de mulher, normalmente assassinada por alguém que a conhece e, na maioria das vezes, dentro de casa. É necessário fazer este recorte em meio aos homicídios para que sejam elaboradas políticas públicas e para que a sociedade entenda a gravidade da situação. O Atlas da Violência 2020, divulgado esta semana, revelou que o Brasil teve uma mulher assassinada a cada duas horas em 2018 (incluindo homicídios e feminicídios).

E como ficam os filhos desta violência toda? Se o próprio pai mata a mãe? Crianças que se tornam órfãs, vítimas diretas da violência doméstica. Violência que tem, na sua essência, o machismo.

É assustador perceber que existem pessoas que se declaram antifeministas e notar até a existência de grupos neste sentido nas redes sociais. Como podemos aceitar uma sociedade ainda tão desigual e cruel com as mulheres?

Acredito muito numa criação feminista. E o que isso quer dizer? Isso significa educar nossas meninas para que elas cresçam e não se tornem vítimas de violência doméstica e educar nossos meninos para que eles cresçam e não se tornem agressores.

O feminismo materno também visa lutar pelos direitos das mulheres que são mães: direito a um parto digno e sem risco de violência obstétrica, direito a ter condições de educar seus filhos, direito a tomar decisões sem julgamentos.

Acho importante ressaltar aqui a crueldade dos julgamentos para todas as mulheres, sendo mães ou não. Porque as que decidem não ter filhos ou filhas também são julgadas, o que é um horror. Toda mulher tem o direito de decidir se quer ou não ter filhos. A maternidade não é obrigação de mulher alguma, nem garantia de mais ou menos felicidade. Entre outras coisas, entendo que é disso que se trata o feminismo: igualdade, diretos, liberdade. Você já parou para pensar no poder de cada uma dessas palavras?

Quando, em 2009, surgiu o Programa Papo de Mãe muitas pessoas nos perguntaram: “Mas por que só de mãe, e o pai?”, “E os homens?”.

Os pais e todos os homens são e sempre foram muito bem vindos no nosso Papo de Mãe. Mas eu gostaria de devolver as perguntas: “E por que não Papo de Mãe?”, “Por que não dar finalmente o protagonismo à mulher numa sociedade patriarcal que sempre colocou o homem em primeiro lugar, o homem como “chefe-de-família?”. Afinal, já nem se fala mais em pátrio poder, é poder familiar. E a maioria dos lares brasileiros são chefiados, na verdade, por mulheres (muitas delas, sozinhas).

Nós, as apresentadoras, somos mães e no nosso Papo de Mãe sempre cabe mais um. No mês de setembro, o programa completa 11 anos no ar, levando durante todo este tempo até as famílias brasileiras reflexões profundas sobre a criação dos nossos filhos e filhas em todas as idades, passando por saúde, comportamento e educação. Com respeito e responsabilidade, como deve ser.

Gostaria de falar sobre uma outra palavra poderosa: sororidade. De novo, uma palavra que, se não for bem compreendida, acaba sendo julgada de maneira errada. Sororidade significa união entre mulheres. Algo fundamental para o sucesso do feminismo.

Entre mulheres que pregam os mesmos valores, que tenham os mesmos objetivos, que descobrem tudo o que as une.

Ouvi uma comparação muito interessante outro dia que explica melhor esta situação: na época da escravidão, a mulher branca burguesa se aliava ao homem branco burguês. E se ela se aliasse à mulher negra escravizada? Isso seria sororidade e a história talvez tivesse sido diferente. Unidas somos mais fortes.

As mulheres negras sofrem duplamente: com o machismo e o racismo. Elas são as maiores vítimas entre as que sofrem violência obstétrica e também da violência doméstica, além de serem as que ganham os menores salários. Ainda de acordo com o Atlas da Violência, citado acima, as mulheres negras representam o dobro de vítimas de assassinatos em relação às mulheres brancas.

Mas para falar sobre isso, prefiro trazer uma frase da filósofa Djamila Ribeiro, que está no seu livro “Quem tem medo do feminismo negro?”:

“Queremos coexistir, de modo a construir novas bases sociais. No fim, nossa busca é pelo alargamento do conceito de humanidade. Ao perder o medo do feminismo negro, as pessoas privilegiadas perceberão que nossa luta é essencial e urgente, pois enquanto nós, mulheres negras, seguirmos sendo alvo de constantes ataques, a humanidade toda corre perigo.” (Djamila Ribeiro, Quem tem Medo do Feminismo Negro, Companhia das Letras, 2018.)

Será que estamos prontos para o debate e a transformação?

Fica como sugestão o programa Papo de Mãe sobre feminismo e machismo:

Mariana Kotscho é jornalista e trabalha em televisão há 28 anos. Foi repórter da Rede Globo por 12 anos. Com passagens também pelo SBT e Record TV. Desde 2009, é apresentadora do programa Papo de Mãe, da TV Cultura.

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