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Começo repetindo o mantra de que se você não viu a Fórmula E no final de semana, perdeu um belo espetáculo. O e-Prix de Londres, penúltima rodada dupla da temporada 2020-21 do Mundial, trouxe boas corridas, mais uma reviravolta no campeonato e vai para a rodada dupla final em Berlim com nada menos que 18 pilotos com chances matemáticas de título. Só entre os dez primeiros são 23 pontos de diferença, com 58 em jogo no Berlim-Tempelhof.

Mas o e-Prix londrino, disputado no espetacular circuito indoor/outdoor montado no ExCel London, gigantesco pavilhão de exposições às margens do rio Tâmisa, teve também polêmica. E das grandes.

Corrida de domingo. António Félix da Costa força a ultrapassagem sobre André Lotterer. Os dois batem na reta e o carro do português fica parado na área de escape. Safety Car. Nick De Vries lidera a corrida.

Na 12ª volta, enquanto o carro de segurança segura o pelotão para que fossem retirados alguns pedaços de fibra espalhados pela pista, Lucas di Grassi chama a equipe Audi no rádio e diz que está com um pneu furado. Ele se direciona aos boxes enquanto o Safety Car percorre a reta. O engenheiro, talvez num jogo de cena, responde que não há informação sobre furo de pneu na telemetria e o manda prosseguir.

Lucas para na frente de seu box e sai imediatamente. A saída do pit lane estava aberta, então ele retorna à pista exatamente atrás do Safety Car. Isso significa que Lucas é o líder da corrida.

Todos sabemos que quando há o carro de segurança ou bandeiras amarelas pela pista, a ultrapassagem é proibida. Só que Lucas não ultrapassou pela pista. Ele foi aos boxes “fazer um reparo” e saiu. Tudo na velocidade regulamentar. A saída dos boxes estava aberta. Se o pit lane é mais curto que a reta principal, cabe aí aos mais atentos pensar em uma estratégia diferente. E foi o que Lucas e a Audi fizeram.

O tiro, no entanto, saiu pela culatra. Lucas foi penalizado com uma segunda passagem obrigatória pelos boxes porque não parou o carro completamente – e não porque “ultrapassou sob regime de Safety Car”. Como não foi avisado pelo time – que tentava, na sala da direção de prova, reverter a situação -, Lucas levou a bandeira preta e foi desclassificado. Só que ao final da corrida, ele ainda aparecia em oitavo no resultado final – como se houvesse sido punido com o acréscimo de 20 segundos em seu tempo de prova. Posteriormente, foi desclassificado de fato por não ter cumprido o drive-through.

Muito tem sido falado e criticado sobre a estratégia adotada por Lucas e a Audi. Alguns criticam até mesmo o senso ético do piloto brasileiro, campeão da temporada 2016-2017 da categoria.

Menos, por favor.

Ano passado em uma das provas em Berlim um dos pilotos da Mahindra fez exatamente a mesma coisa. Chegou até a ganhar algumas posições.

GP da Europa em Donington Park, 1993. Aquele da primeira volta mágica de Ayrton Senna. Uma corrida caótica. A melhor volta da corrida foi anotada pelo tricampeão. Sabe como? Passando pelo pit lane. Tudo bem que na época não havia limite de velocidade na área de box, mas era um caminho mais curto – e, obviamente, Senna não passou por ali apenas para isso (a equipe não estava pronta para trocar seus pneus e ele seguiu em frente).

GP da Inglaterra em Silverstone, 1998. Michael Schumacher liderava a corrida na pista molhada quando foi anunciado um stop and go para o alemão da Ferrari por ter ultrapassado Alex Würz sob bandeira amarela. O que Schumacher fez? Cumpriu a punição no complemento da última volta. Cruzou a linha de chegada pelo pit lane. Venceu a corrida mesmo assim.

Rally dos Sertões de 2015. Em uma das etapas, a dupla formada por Marcos Baumgart e Kleber Cincea não respeitou o tempo regulamentar de dois minutos entre as largadas dos carros e saiu logo atrás de Guiga Spinelli/Youseff Haddad. O objetivo era ultrapassar Guiga, deixa-lo na poeira fazendo-o perder tempo para que o carro que largara antes, de Cristian Baumgart e Beco Andreotti, pudesse ser mais rápido e abrir distância.

Marcos e Kleber foram punidos, mas como já haviam abandonado uma etapa anterior e não tinham mais chances de título, aceitaram a punição por um bem maior, que era ajudar o outro carro da equipe.

Brechas. O automobilismo nada menos é do que a busca incessante por brechas no regulamento. Buracos no texto. No design de um carro, na estratégia de corrida. A BrawnGP foi campeã naquele 2009 por ter se aproveitado de uma brecha no regulamento técnico.

Em várias categorias, quando há intervenção do carro de segurança, a saída do pit lane fica fechada (em algumas, até mesmo a entrada) para que o carro que tenha de fazer uma parada seja forçado a esperar todo o pelotão passar para depois retornar ao traçado.

A saída do pit lane estar aberta em regime de Safety Car era uma brecha que Di Grassi e a Audi aproveitaram. Não deu certo por outro motivo: o carro não ter parado completamente na frente do box. A manobra não colocou ninguém em perigo – como no caso de uma batida intencional, por exemplo.

Malandragem? De jeito nenhum.

No jargão corporativo, Lucas e a Audi apenas “pensaram fora da caixa”.

Cleber Bernuci é jornalista e narrador dos treinos livres da Fórmula E no site oficial da TV Cultura.