Fundação Padre Anchieta

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Foto: @ignacio brunno
Foto: @ignacio brunno Instalação de Yvette Mattern reproduz as cores do arco-íris em SP

Um vilão indestrutível cria um exército de assustadores semelhantes, clones em força e imortalidade. Em uma batalha, ele empunha sua espada indicando o fim de seus opositores. Mas uma heroína surge do nada e consegue acertar o golpe fatal contra o líder da tropa. Com sua morte, todos os seus soldados caem simultaneamente e desaparecem. Sem diversidade entre os integrantes do grupo que criou, um único golpe conseguiu acabar com toda uma espécie de uma única vez.

A cena descrita foi, obviamente, inspirada em uma série de TV específica - cujo nome fica preservado para evitar spoiler desnecessário, caso alguém neste planeta ainda não tenha assistido. Mas se encaixa em vários exemplos da ficção e, também, da vida real. A biodiversidade de seres e entre seres é o que conserva a natureza. Um vírus mortal, por exemplo, teria facilidade em dizimar toda uma raça se todos os seus exemplares reagissem exatamente da mesma forma ao ataque biológico – ou da espada da heroína da série.

Na sociedade acontece algo muito parecido. É a diversidade sociocultural – por extensão a sexual – que mantém a humanidade crescente em número, pujante em criações e cada vez mais sofisticada em seu conjunto. O britânico Charles Darwin (1809 – 1882) registrou na obra “A Origem das Espécies”, em 1859, esse conceito basilar para a evolução dos seres.

Esse impulso primitivo para o desenvolvimento que possibilita abrandar, em parte, as dificuldades da distância física à qual os humanos estão submetidos por conta de uma pandemia. Videoconferências, chats, lives, e-commerce e uma série de outros recursos tecnológicos de serviços e comunicação estão a nosso dispor exatamente porque somos diversos, sobrevivemos como sempre e inovamos como nunca.

No último domingo (14), foi a tecnologia que aplacou um limitador de um dos eventos mais importantes para a diversidade e com potencial de aglomerar muita gente: a tradicional Parada do Orgulho LGBT de SP, que já reuniu mais de 3 milhões de pessoas, não poderia acontecer na data prevista por causa da quarentena. Mas não passou em branco. Além de um congresso por videoconferência, a data ficou marcada pela projeção das sete cores do arco-íris sobre a avenida Paulista, que pôde ser vista a cerca de 60 km de distância. A instalação de luzes foi criada pela artista porto-riquenha Yvette Mattern.

Conhecida atualmente como a maior parada gay do mundo, o evento de SP teve sua primeira edição em junho de 1997, quando reuniu cerca de 2.000 participantes. O baixo quórum se explica porque havia muito preconceito à época. O risco de se assumir homossexual era físico e a ideia de diversidade sexual ainda era muito ligada a doenças e a pecados. Mais de 20 anos depois, a comunidade evoluiu muito, deixando essas ideias retrógradas restritas a pequenos grupos fundamentalistas e boçais.

Parte daquele preconceito tinha origem na desinformação sobre a diversidade. Muitos homossexuais se consideravam esquisitos, antinaturais e apartados do conjunto da sociedade. Mas foi no mesmo ano da estreia da parada gay em SP que a tecnologia deu uma mãozinha para mais essa evolução. Nos anos 1990, a internet se tornou popular e, com ela, surgiram os chats, que conectaram brasileiros de todas as orientações e matizes, promovendo um tipo de comunicação inusitado e impensado até então.

O chat mais famoso e utilizado do país foi – e continua sendo – o Bate-papo UOL. O serviço, a propósito, foi premiado em 1999 com um dos Cyber Lions, no festival de Cannes (França), pela publicidade online criada pela então agência DM9 – atual SunsetDDB. Nos banners, plugues de tomadas de computador simulam atos sexuais para simbolizar a diversidade sexual dos frequentadores da plataforma, uma espécie de precursora das redes sociais.

Em suas salas virtuais, muitos descobriram outros semelhantes e passaram a entender que não estavam isolados em uma bolha, mas que eram numericamente relevantes e naturalmente diversos. A sigla, que começou com GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), ganhou um número infinito de letras e até um sinal de “+” (LGBTQI+), tamanha a diversidade da sexualidade humana que representa. Uma indicação clara de que nenhuma ameaça extinguirá a humanidade, que habitará galáxias por muitos milênios, com mais liberdade e força acumuladas por nossas diferenças.

Ricardo Fotios é jornalista, professor universitário e pesquisador de temáticas relacionadas ao uso de tecnologias no ecossistema da comunicação. É autor de Reportagem Orientada pelo Clique (Appris, 2018).