Fundação Padre Anchieta

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Divulgação/Warner Bros. Pictures
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Cabelo grisalho, nariz adunco, roupa antiga escura, solteira, sábia conhecedora de ervas e praticante de feitiços. Reconheceu? Essa é a temível bruxa, eterna vilã que atormenta os sonhos das princesas, mas que sempre termina de forma trágica, desaparecendo da vida dos cidadãos de bem.

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Mas por que a bruxa sempre é tão rejeitada? Se ela pintasse o cabelo, fizesse uma harmonização facial, tivesse um marido, conseguisse uma marca famosa de roupas para apoiá-la, não tivesse estudado e fosse de uma religião cristã tradicional, talvez ela não fosse tão temida e mal vista. Ah, abrir uma conta numa rede social e postar tutoriais de receitas também ajudaria.

Nas histórias antigas, a bruxa é uma infeliz, mas repare que o ponto de vista sempre é de terceiros: ou um bardo que estava de passagem e ouviu falar, ou algum fofoqueiro repassando a história de um jeito mais emocionante. O ponto de vista da bruxa ninguém nunca quis saber. Por que ela fez essas maldades? Por que teve inveja da beleza da princesa? Alguém deu a chance pra bruxa se defender?

A primeira coisa que ouvimos é que, “supostamente”, a feiticeira é uma solteirona frustrada, que ficou velha e feia e, por isso, se isolou. Já as princesas são sempre as belas jovenzinhas, magras e perfeitas, padrão europeu, que casam com um príncipe encantado atlético e vivem “felizes para sempre”, protegidas dentro de um castelo de cristal.

Do ponto de vista das histórias tradicionais, uma mulher querer ficar solteira não era uma boa ideia. Quem optava por isso, em algum momento, acabava se isolando da sociedade e indo morar numa cabana no meio da floresta. Adotava um gato preto (que também foi abandonado justamente por ser preto), tinha inveja das outras mulheres, não cuidava da beleza e ainda passava os dias fazendo experimentos proibidos pela igreja.

Já do ponto de vista da bruxa, talvez ela fosse uma princesinha que simplesmente não tivesse se apaixonado por nenhum príncipe na juventude, por isso não quis casar. Ela acreditava que iria encontrar o seu “felizes para sempre” no singular, ou seja, dentro dela mesma. E, pra se encontrar, foi viajar para terras distantes, estudou, ficou independente, comprou cabana própria, fez a decoração ao seu jeito e fora do padrão do arquiteto real, descobriu outra religião, adotou animais abandonados, customizou sua própria roupa, montou uma hortinha orgânica, se dedicou às artes manuais e se integrou com o ciclo da lua e com os elementos da natureza.

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Quanto às maldades praticadas contra a princesa por algumas bruxas, nunca nenhuma delas ficou viva no fim da história pra contar sua versão. Já reparou que todas viraram fumaça ou desapareceram? Daí uma reflexão: mulheres independentes, que optam por um estilo de vida diferente do padrão, sempre são vistas como más influências e, por isso, queimam na fogueira moral dos cidadãos de bem.

Podem queimar livros, podem queimar bruxas, podem inventar histórias e podem tentar isolar, mas, por mais que tentem, as bruxas moram em todas as mulheres que resistem: tem um pouco delas naquela prima que foi estudar e não casou por opção, na vó rezadeira que conhece tudo de ervas, na professora sábia que te acolhe, na amiga criativa que surpreende, na digital influencer que posta a respeito de desigualdades sociais e até em você, que está lendo isso e sente que ser mulher é muito mais do que essa imagem de princesa de conto de fadas escondida num castelo de moral.

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Helena Ritto é atriz, contadora de histórias, arteeducadora, apresentadora, atriz de voz e escritora.