Fundação Padre Anchieta

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2020 está de parabéns, pois já conseguiu deixar sua marca na história como um dos anos mais... digamos... peculiares da história. Começou com ameaça de terceira guerra mundial, chegou rapidinho na pandemia, teve vulcão, terremoto, bomba, incêndio, atentado e explosão, revoltou o mundo com a violência racista e agora entra na reta final renovando lockdown em alguns países da Europa. Mas, analisando bem o porquê do ano ser tão difícil, percebemos que de um modo geral, todas as más notícias de 2020 envolvem uma palavra: morte.

Nascemos, vivemos, morremos. O nascimento é comemorado, a vida é festejada, mas a morte... A morte assusta tanto que, dependendo da cultura, é coberta com um pano preto e lamentada por existir. É associada à dor, à tristeza, à saudade, à melancolia e deve ser enterrada.

No Brasil, a relação com a morte está bastante associada à religião. Dependendo do culto, ela é vista de uma maneira e cultuada com mais ou menos lamento. No dia 2 de novembro, "comemoramos" (ok, talvez essa não seja a melhor palavra) o Dia de Finados. No dia anterior, o Dia de Todos os Santos. E em 31 de outubro, o Dia das Bruxas. As três datas envolvem o tabu da morte e nem nos damos conta. Quer ver só?

Vamos começar entendendo o que é o Dia das Bruxas. Tem gente que ama, porque adora essa estética filme de terror e acha um barato as crianças saírem pela rua pedindo doces ou travessuras. Em compensação, tem gente que levanta a bandeira do saci e diz que a importação dessa festa não tem nada a ver com nosso folclore. Pessoal, mas é uma festa folclórica! Bom, do folclore celta, não do brasileiro. Mas isso é um detalhe! Tem espaço para todos!

Afinal, quem eram os Celtas? Eram povos que viveram em tribos espalhadas pela Europa até aproximadamente o Século III. Vêm deles as histórias dos contos de fadas e boa parte do folclore da região. Essas tribos que compartilhavam a mesma língua, os mesmos cultos e tradições. E entre os costumes, estava o Samhain, uma grande festa que acontecia no dia 31 de outubro, para marcar a chegada do inverno na Europa.

Nessa noite, os celtas acreditavam que as almas dos mortos visitavam seus parentes em busca de comida e um pouco de calor. Por isso, clareavam o caminho das almas com abóboras iluminadas. Mas, assim como os ancestrais visitavam as famílias para tomar um “cafezinho” nessa data, as almas errantes também ficavam passeando pelas estradas, fazendo travessuras com quem encontrassem no caminho. Por isso, era comum as pessoas se vestirem de fantasmas para confundirem os... fantasmas!

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Essa tradição atravessou o tempo e veio parar na nossa época. A parte boa é que os celtas tinham uma boa relação com os mortos e conviviam com a perda de seus entes queridos de maneira leve. No dia 1º de novembro, temos outra festa, que, por coincidência, foi criada no Século III D.C.: o Dia de Todos os Santos. A data surgiu para comemorar o dia de todos os mortos sagrados da igreja católica. Nessa época, as igrejas se enchem de flores e procissões em todo o mundo homenageiam santas e santos padroeiros. As pessoas se emocionam e pedem muito a intercessão de seus santos de devoção para enfrentarem o dia a dia.

No dia seguinte, 2 de novembro, é a vez do conhecido Dia de Finados. No Brasil, independente da fé religiosa, é comum as pessoas visitarem cemitérios nesta data, levarem flores e chorarem seus mortos. Por coincidência - ou não - o tempo costuma fechar nesse dia e não é raro chover. Seria a manifestação da natureza perante a tristeza da saudade de tanta gente? Quando eu era pequena, sempre tive a impressão que as almas dos mortos desciam numa cachoeira de chuva no dia de finados, que o tempo ficava mais frio e que tudo ficava mais cinza. Hoje, com tantas mudanças climáticas, nem costuma chover mais. O mundo ficou diferente. Daí me pego pensando: será que é isso ou será que a saudade também diminuiu?

Não dá pra falar de finados e não lembrar do famoso Dia de Los Muertos, no México. Uma das festas mais bonitas que existem, onde os mortos são homenageados com cores e muita alegria! As pessoas dançam, cantam e fazem festas lindas nos cemitérios. Os celtas ficariam orgulhosos se vissem a quantidade de comidas que os mexicanos fazem para receber seus antepassados.

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Existem milhares de culturas pelo mundo, portanto, milhares de maneiras diferentes de tratar a morte. Não vou entrar na questão religiosa, mística ou filosófica. Afinal, fé, cada um tem a sua. E ciência varia de cultura para cultura. Só uma coisa une a todos: a morte sabe o endereço de todo mundo.

Infelizmente, 2020 ficará conhecido como o ano que deixou a morte em evidência, com 160 mil mortos a mais só no Brasil por causa do Covid-19. A dona morte, aquela figura emblemática de capuz preto e foice que vem chamar os vivos para o outro lado, mostrou que pode estar ao seu lado, disfarçada naquele amigo inconsequente que se recusa a usar máscara e que não respeita a quarentena. Nesta semana em que a morte se faz presente também no calendário, espero que nos relacionemos melhor com a ela, mas também espero que respeitemos melhor a vida. Que 2020 deixe seu aprendizado.