Fundação Padre Anchieta

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Divulgação/Santos
Divulgação/Santos

Não é de hoje que os números ganharam status de vedetes na cobertura esportiva dando ao futebol um certo gosto de tabuada. Longe de mim fazer pouco caso da matemática que, eu sei, está em tudo. Não nego aos números muitas virtudes. Muito menos escrevo para tentar tramar uma vingança barata já que a única vez que me vi reprovado na vida estudantil foi justamente em matemática. O acontecimento me causou um trauma imenso. Ser reprovado por um mísero 0,25 no tempo em que isso significava refazer todo o ano letivo, incluindo aí as matérias para as quais você por ventura tivesse se mostrado um aluno exemplar, foi um baque. Faço essa digressão toda pra dizer que anda cansando esse papo de que tem gente por aí superando Pelé.

O Rei do futebol, meus amigos, é inalcançável. Os devotos da precisão poderão argumentar que não se trata disso, de superar. Que tudo se resume à uma constatação numérica. Mas se Messi e Cristiano Ronaldo, com suas marcas notáveis, estão longe de poder ocupar o papel que a história reservou ao mais notável camisa dez que o futebol já teve, onde está a honestidade em usar insistentemente o nome do Rei do Futebol para tentar dar uma ideia do que eles andam fazendo em campo? Por mais que andem, há tempos, fazendo coisas incríveis. Seria mais honesto comparar os números do português com os do argentino, ou vice-versa. São contemporâneos, vivem realidades parecidas. Não que tudo que essas contas provocam sejam de se desprezar.

Mês passado quando Messi igualou a marca de Pelé em números de gols marcados por um mesmo time foi bonito ver a troca de mensagens entre os dois. Pelé dizendo que o admirava muito. O argentino respondendo que eram palavras que significavam muito vindas de alguém tão grande. Dias atrás foi a vez de Cristiano Ronaldo, que ao marcar dois gols na vitória da Juventus sobre a Udinese teria se transformado no jogador com maior números de gols em jogos oficiais da história. Nesse caso a grita foi maior, pois se a conta feita a favor de Messi deixou de somar quatrocentos e poucos gols marcados em amistosos e outras partidas feitas pelo Rei com a camisa do Santos, a feita a favor de Cristiano Ronaldo se recusava a somar alguns gols marcados por Pelé pela Seleção Paulista. Jogos notadamente oficiais também.

Enfim, entre a história e a matemática fico com a história. Por mais que ela também comporte imprecisões. De toda forma fiquei com a impressão de ter visto um número maior de jornalistas tratando a questão com cuidado. Instintivamente, talvez, protegendo a obra monumental e a figura de Pelé. O tema me fez lembrar de outros dois personagens. Um, o piloto inglês, Lewis Hamilton, que flerta cada vez mais com a condição de melhor de todos os tempos, mas cujos recordes impressionantes mascaram um número crescente de Grandes Prêmios. E o outro, Maradona, que ao longo de toda carreira marcou apenas um gol no Brasil - e nem foi numa vitória, foi em um empate - mas que o caro leitor deve trazer na memória como um dos maiores adversários que a Seleção Brasileira já teve. Ah, os números.

Vladir Lemos é jornalista, apresentador Revista do Esporte e diretor de Esporte da TV Cultura.