Fundação Padre Anchieta

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Felipe Oliveira/Bahia
Felipe Oliveira/Bahia

No futebol atual decantado pela tecnologia é possível saber quase tudo. Quanto um jogador correu durante a partida, que lugar do campo de jogo frequentou e por aí vai. Mas nenhum dado chega aos pés de ter a fama da posse de bola. Ela é sem dúvida a vedete desse universo ludo-matemático. E qual seria a razão de tanta fama? Você alguma vez já parou pra pensar? Eu, quando parei, fui levado a crer que aquele Barcelona que encantou o mundo sob o comando do agora cinquentão, Pep Guardiola, deu uma contribuição imensa para isso. Como não se render a um time que praticamente não dava aos adversários o prazer de ter a bola a seus pés?

Ainda que muitos digam que não é bem assim, com o passar do tempo parece óbvio que a posse de bola se fez uma espécie de medida da capacidade de um time. O que faz algum sentido. Afinal, o time é um conjunto. E esse é um ponto importante ao qual iremos chegar. Pode ser que a essa altura você já esteja se preparando para tentar por em xeque minha teoria, matutando sobre o modo de jogo reativo, que praticamente desdenha da posse de bola. Tudo bem. Mas saiba que pra mim o tão falado futebol reativo será sempre um gênero menor do jogo. Entendo perfeitamente seu uso, mas um time que se preze deve aspirar a ter a bola.

E já que estamos falando na virtude do conjunto aproveito para retomar o papo sobre a questão coletiva. A posse de bola em si é algo construído desse modo, e só desse modo. É possível, portanto, que toda a fama dela se justifique por ser um modo preciso de avaliar uma equipe no todo, sua maneira de atuar. Mas a questão é que muita gente acaba achando que é a posse de bola que vai mudar o jogo. O que não passa de uma das tantas ilusões que o burilar números pode provocar. Agora, prestem atenção no que vou dizer, pois aí está embutida toda a razão destas linhas: o que importa pra valer no futebol atual, mais do que posse de bola, é o desarme.

E podem me poupar de qualquer brincadeira sugerindo que um time de pernas de pau jamais tirará proveito disso. Ao que responderia dizendo que um time de pernas de pau jamais surgirá no panteão da bola como alguém que impressionará pela posse dela. O desarme, ele sim, pode mudar tudo. Seja contado no conjunto, ou individualmente. Ainda que se saiba que é virtude mais afinada com jogadores de certas posições. E a razão dessa importância parece muito óbvia. Nesse futebol muito pensado, refletido, congestionado, a posse de bola se torna muitas vezes inócua. O desarme, não. 

O desarme é o contraponto, o fator surpresa. O detalhe que desorganiza as linhas, que numa fração de segundo faz com que aquele que desarma - ou quem está perto dele - se veja, de repente, diante de espaços imensos, improváveis quase sempre no futebol atual. O desarme limpo, ou aguerrido mesmo, aquele que se desenha muitas vezes com ares de briga precisa ter o devido reconhecimento. E chega a ser interessante que na própria concepção o desarme seja praticamente uma antítese da tão venerada posse de bola.

Vladir Lemos é jornalista, apresentador Revista do Esporte e diretor de Esporte da TV Cultura.