Um dia após Biden deixar o Oriente Médio, assessor do líder supremo do Irã afirma que país tem meios técnicos de produzir armas nucleares, mas ainda não decidiu se o fará.O Irã é tecnicamente capaz de construir uma bomba nuclear, mas ainda não decidiu se vai de fato produzi-la, afirmou um assessor sênior do líder supremo do país, Ali Khamenei, em entrevista à emissora Al Jazeera neste domingo (17/07).
Kamal Kharrazi deu a declaração um dia após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ter terminado sua viagem de quatro dias a Israel e Arábia Saudita, onde prometeu impedir o Irã de "adquirir uma arma nuclear".
Os comentários de Kharrazi foram entendidos como uma rara sugestão de que Teerã poderia ter interesse em armas nucleares, o que vem negando há muito tempo.
"Em poucos dias conseguimos enriquecer urânio em até 60% e podemos facilmente produzir urânio enriquecido a 90%. O Irã tem meios técnicos de produzir uma bomba nuclear, mas não houve uma decisão pelo Irã de construir uma", declarou o assessor de Khamenei.
O governo iraniano já está enriquecendo urânio a uma pureza de 60%, o que é muito acima do limite de 3,67% acordado em um pacto nuclear de 2015 entre Teerã e potências mundiais. O urânio enriquecido a 90% é adequado para a produção de uma bomba nuclear.
Em 2018, o então presidente americano Donald Trump abandonou o acordo nuclear, sob o qual o Irã restringiu suas atividades de enriquecimento de urânio – um caminho potencial para armas nucleares –, em troca de um alívio das sanções econômicas internacionais.
Em reação à retirada de Washington e a reimposição de duras sanções pelo país, Teerã passou a violar as restrições acordadas no pacto.
No ano passado, o ministro iraniano de Inteligência afirmou que a pressão do Ocidente poderia levar o país a buscar armas nucleares – no início dos anos 2000, Khamenei baniu o desenvolvimento delas em uma fátua (decreto religioso).
O Irã alega que está refinando urânio apenas para o uso civil de energia, e disse que suas violações ao acordo nuclear internacional são reversíveis se os Estados Unidos retirarem suas sanções e também retornarem ao pacto.
Negociações fracassam
O esboço de um acordo reformulado chegou a ser acordado em março após 11 meses de negociações indiretas entre o governo iraniano e a gestão de Biden em Viena.
Mas os diálogos acabaram fracassando em meio a obstáculos, incluindo a demanda de Teerã de que Washington deveria dar garantias de que nenhum presidente americano iria abandonar o acordo novamente, como fez Trump.
Biden não pode fazer tal promessa uma vez que o acordo nuclear é um entendimento político não vinculativo, e não um tratado juridicamente vinculativo.
"Os Estados Unidos não deram garantias sobre a preservação do acordo nuclear, e isso arruína qualquer acordo", disse o assessor Kharrazi.
Israel, que o Irã não reconhece como Estado, ameaçou atacar instalações nucleares iranianas se a diplomacia não conseguir conter as ambições nucleares de Teerã.
Já Kharrazi disse que o governo iraniano nunca negociará seu programa de mísseis balísticos e sua política regional, conforme exigido pelo Ocidente e seus aliados no Oriente Médio.
"Qualquer direcionamento de países vizinhos contra nossa segurança será recebido com resposta direta a esses países e a Israel", afirmou ele.
ek (Reuters, AFP)
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