China: novo líder global na ação climática?

País ouviu apelo na COP29 para destinar mais dinheiro ao enfrentamento das mudanças climáticas; dúvida é se gigante asiático poderia assumir liderança internacional diante do desinteresse pelo tema nos EUA de Trump


Holly Young (com colaboração de Tim Schauenberg)

23/11/2024 20h49

Enquanto a Conferência do Clima da ONU em Baku (COP29) caminhava para um desfecho, as atenções se voltavam para a China. Há esperanças de que o país assuma o vácuo de liderança deixado pela eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. O americano já avisou que planeja abandonar o Acordo de Paris quando tomar posse do cargo, em janeiro.

Seria "uma grande oportunidade" para a China, dado seu progresso em termos de descarbonização e capacidade de expandir tecnologia em larga escala, avalia Yao Zhe, analista do Greenpeace East Asia.

Atualmente maior emissor de carbono e segunda maior economia do mundo, a China está sendo pressionada a enviar sinais positivos à comunidade internacional, estabelecendo metas de emissão mais ambiciosas e assumindo mais responsabilidade no financiamento climático global.

Economistas estimam que países em desenvolvimento precisarão de um trilhão de dólares por ano para reduzir suas emissões e enfrentar eventos climáticos extremos.

Espera-se que essa conta seja paga pelas nações industrializadas que mais contribuíram para o aquecimento global ao longo da história. Mas negociadores dos Estados Unidos, da União Europeia e de alguns países em desenvolvimento presentes na COP29 acham que a China também deveria assumir uma parte dessa responsabilidade.

Apesar de sua pujança econômica, a China ainda é classificada pelas Nações Unidas como país em desenvolvimento.

Por que a China está sendo cobrada a fazer mais pelo clima?

Países em desenvolvimento que têm altos níveis de emissões e podem se comprometer com o financiamento climático internacional deveriam fazê-lo, afirma Rizwana Hasan, conselheira do Ministério do Meio Ambiente do governo interino de Bangladesh. "A China pode contribuir, a Índia pode contribuir até certo ponto", exemplifica.

Mas membros da delegação chinesa na COP29 insistiram em manter contribuições voluntárias. O país, que não se comprometeu com a meta anterior acordada por países desenvolvidos de destinar 100 bilhões de dólares anuais ao financiamento climático, afirma que desde 2016 já gastou cerca de 24,5 bilhões com isso. Também investiu maciçamente em energia solar e eólica, e em carros elétricos.

Para Adonia Ayebare, representante do G77, grupo que inclui países em desenvolvimento e a China, Pequim já contribui com o financiamento climático internacional. "Eles têm os maiores painéis solares do mundo. Eles os produzem, e nós os compramos."

"Eles financiam um monte de projetos fora da China. Hoje, falamos de pelo menos três bilhões de dólares por ano", concorda Niklas Höhne, especialista em política climática no New Climate Institute, um think tank sem fins lucrativos.

Reconhecer contribuições já feitas por países como a China poderia ajudar a desbloquear negociações internacionais, avalia Celine Kauffmann, do IDDRI, um instituto que pesquisa políticas públicas para o desenvolvimento sustentável.



China tem peso no cenário global

A China também é pressionada a sinalizar liderança e propor metas climáticas mais ambiciosas por causa do peso de suas emissões de carbono no balanço global, segundo Höhne.

"A China é tão grande. Responde por um quarto das emissões globais de gases estufa. Então, se a China tiver um pico e cair, as emissões globais de gases estufa também terão um pico e cairão", afirma.

O país hoje gera mais ou menos o dobro de emissões dos Estados Unidos, que é o segundo maior poluidor global, e é responsável por 90% do crescimento das emissões de carbono desde 2015.

Países desenvolvidos são convocados pelo Acordo de Paris a assumirem a liderança da ação climática por causa de seu papel desproporcionalmente alto nas emissões históricas. Só que as próprias emissões históricas da China hoje já superaram as da UE, segundo uma análise da organização britânica Carbon Brief.

Por outro lado, a China também é um líder global quando o assunto é investimento e expansão de energia limpa. Em 2023, o país investiu 273 bilhões de dólares no setor – mais ou menos o dobro da Europa, que ficou em segundo lugar.

O país asiático respondeu em 2023 por um terço dos investimentos globais em energias renováveis, segundo a Agência Internacional de Energia, e encomendou no período a mesma quantidade de painéis solares que o mundo inteiro em 2022, além de ter expandido em 66% sua capacidade eólica e responder por quase 60% de todos os novos registros de carros elétricos.

Em setembro de 2020, o presidente chinês Xi Jinping disse que a meta do país era atingir o ápice de suas emissões antes de 2030 e a neutralidade de carbono em 2060.

Em termos de ação climática, a China está na 55ª posição dentre 67 países monitorados pelo Climate Change Performance Index, divulgado nesta semana. Isso porque, apesar de ser um gigante no setor de renováveis e estar prestes a atingir o ápice de suas emissões, o país não tem metas climáticas suficientes e segue muito dependente de combustíveis fósseis, segundo especialistas.

Cientistas têm alertado que o mundo precisa cortar drasticamente emissões de gases estufa até 2030 se quiser limitar o aquecimento global a 1,5 ºC.

"É por isso que todo mundo está esperançoso que a China possa propor uma meta de redução significativa de emissões até 2030. E eles podem, porque as renováveis estão se expandindo realmente muito, muito rápido na China", afirma Höhne.

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