Verbas régias fluíram para o "projeto nacional" na capital, praticamente todas as barreiras burocráticas foram eliminadas. E assim, o cronograma das obras, de um rigor quase militar, foi mantido até o último detalhe – pelo menos oficialmente.
Neste sábado (07/12), a catedral será reaberta com uma cerimônia solene em Paris. Na presença de numerosos chefes de Estado e governo, Macron fará um discurso na praça frontal. Durante o dia o arcebispo Laurent Ulrich celebrará uma primeira missa solene, em que também será inaugurado o novo altar.
Quem ainda conhece a Notre Dame de antes do incêndio se espantará: as paredes foram liberadas de séculos de fuligem e sujeira; limpos, os vitrais deixam passar mais luz do que antes, acentuando as cores frescas e o folheado a ouro das pinturas murais.
Também suas 2.300 estátuas e os 8.000 tubos do órgão receberam novo lustro. Por último, foram instalados 1.500 novos assentos – depois de devidamente abençoados. Ao todo, foi preciso deslocar mais de mil metros cúbicos de pedras, 2.000 toneladas de andaimes tiveram que ser erguidas e depois desmontadas. Quase 250 empresas e ateliês estiveram envolvidos na restauração.
Sorte no azar
Quem diria que a igreja construída entre 1163 e 1345 se tornaria mais uma vez o "canteiro de obras do século"? Até o momento, os custos foram de 700 milhões, porém uma ação de donativos sem precedentes reuniu 840 milhões de euros. Os 150 milhões de euros excedentes serão utilizados na também necessária restauração da abside e dos contrafortes, cujos trabalhos começam logo após a reinauguração, devendo levar mais três anos.
Cinco anos atrás, o catastrófico incêndio desencadeou horror mundial: o corpo de bombeiros teve que lutar quatro horas até conter as chamas nas treliças do telhado. Felizmente a extensão dos danos não foi tão grande quanto se temia: a torre do cruzeiro desmoronou, e com ela três arcos da abóbada; no coro ficou um enorme buraco; no entanto a Madona gótica permaneceu incólume, apesar de a torre a seu lado ter despencado.
Na época, a especialista alemã em catedrais Barbara Schock-Werner referiu-se a um "milagre de Notre Dame". Hoje ela recorda: "O perigo de que a igreja toda desmoronasse, era grande. Teria bastado um temporal, e os danos seriam imensos." Mas Paris teve sorte no azar.
O que se revelou bem mais sério foi o "problema do chumbo": algumas placas despencaram do metal do telhado, outras se derreteram, o chumbo se espalhou pela abóbada, poeira tóxica depositou-se sobre tudo, dificultando as obras. "Foram desafios bem grandes", comenta Schock-Werner, ex-construtora-mestre da Catedral de Colônia.
Juntamente com o então encarregado da cooperação cultural franco-alemã, Armin Laschet, ela coordenou o apoio da Alemanha à Notre Dame. Nas oficinas da Catedral de Colônia, as quatro janelas do clerestório da basílica foram livradas de poeira e consertadas. Uma firma de Anzenkirchen, na Baixa Baviera, forneceu os badalos para os sinos de Paris.
Pressa exagerada? O que fazer com os visitantes?
Barbara Schock-Werner avalia com grande respeito a rápida restauração da Notre Dame, porém a combinação de urgência e dinheiro também teve seu lado sombrio: "Na verdade, o prédio ainda está úmido demais, é preciso torcer para que o emboço isolante no interior resista."
Também as treliças de madeira do telhado precisariam de mais tempo: "Normalmente se deixa o carvalho repousar até estar seco, e só aí ele é utilizado. Mas foi culpa da pressão do tempo, claro. Só se pode mesmo torcer para que tudo dê certo."
Ainda não está claro como Paris vai dar conta da esperada avalanche de visitantes à catedral gótica recém-reinaugurada. A ministra francesa da Cultura, Rachida Dati, queria cobrar ingressos, mas a Igreja Católica se opôs. A prefeitura da capital está considerando transformar a garagem subterrânea numa central para os turistas.
Seja como for, o politicamente debilitado presidente Macron, está capitalizando a façanha de engenharia e arte como "um êxito francês". No fim de semana da abertura, também os cerca de 3.000 convidados – entre os quais 50 chefes de Estado e celebridades – compartilharão um pouco do esplendor da igreja quase nova em folha.
Os mandatários da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e da Ucrânia, Volodimir Zelenski, estão entre os convidados de honra. No último momento, também o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou sua presença. Durante a celebração, Paris vai parecer uma fortaleza, com cerca de 6.000 agentes de segurança mobilizados.
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