"Qualquer aço que entrar nos Estados Unidos vai ter uma tarifa de 25%. Alumínio, também", disse o presidente dos EUA no domingo (09/02). Ele afirmou que as taxas seriam impostas a partir desta semana.
O total de aço vendido pelo Brasil aos EUA cresceu 74% entre 2022 e 2024 e já ocupa uma fatia de 15% do volume de importações americanas do metal. No ano passado, os Estados Unidos compraram 4 milhões de toneladas de aço brasileiro, a um total de 2,9 bilhões de dólares (R$ 16,7 bilhões).
Isso fez do Brasil o segundo maior exportador do produto em volume para o mercado americano, atrás apenas do Canadá. No caso do alumínio, foram 147,2 milhões de dólares (R$ 850 milhões) vendidos em 2024, ou 42 mil toneladas – o 14º país que mais exportou o produto aos EUA.
Os dados são do painel de monitoramento do comércio global, mantido pela Administração de Comércio Exterior dos Estados Unidos. Para o aço, a plataforma considera a importação de planos, semiacabados, canos e tubos e outros produtos. São também calculados o alumínio bruto, em folhas e tiras, arame, barras, vergalhões, canos, peças fundidas e forjadas e acessórios.
Segundo o Comex Stat, plataforma do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços que compila a balança comercial brasileira, os EUA foram o principal destino de ferro e aço do Brasil e o segundo país que mais adquiriu alumínio brasileiro em 2024. Os metais são essenciais em indústrias como a automobilística, construção civil, máquinas e energia.
Em 2018, em seu primeiro mandato, Trump realizou um movimento parecido e estipulou uma tarifa de 25% sobre o aço e 10% sobre alumínio importado. Contudo, posteriormente, o presidente americano concedeu isenções a vários países, incluindo Canadá, México e Brasil, limitando o benefício alfandegário a uma cota.
O impacto sobre o mercado interno
O coordenador de Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados, Josemar Franco, avalia que a atual medida será desafiadora para o Brasil, especialmente se Trump não definir as mesmas insenções impostas no primeiro mandato. Isso porque, em 2018, as tarifas afetaram principalmente a China, que passou a procurar outros mercados, como o latino-americano, para vender seus produtos a preços mais baixos.
Na prática, a barreira alfandegária americana gerou uma competição mais ferrenha no mercado interno brasileiro.
"O que a gente observou depois dessa primeira medida é que houve um redirecionamento das exportações chinesas para o Brasil com preços muito agressivos por uma série de fatores, o que faz com que a indústria doméstica, mesmo com as alíquotas [protetivas brasileiras], não tenha condições de competir com esses preços chineses", disse Franco à DW.
"Se os chineses continuarem agressivos em termos de preço, o Brasil vai precisar adotar medidas para conter importações, já temos visto medidas antidumping, [por exemplo]", completou.
As tarifas também chegam em um momento em que o setor já enfrenta pressão sobre o preço da commodity e após iniciar um ano com estimativas de queda na produção do aço bruto. Franco também reforça o desafio logístico de competir com Canadá e México, cujo envio do produto aos EUA é mais barato.
"Condições mais difíceis para exportar é algo ruim, mas nao ter condições justas nem dentro de casa é pior ainda", afirmou.
Para o ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, Welber Barral, o mercado interno pode ajudar a absorver o impacto negativo da medida sobre as exportações. "Comparado à produção, a exportação brasileira é pequena. A indústria depende muito do mercado interno, tanto de aço como de alumínio. Claro, as empresas querem continuar a exportação. É importante, em dólar, um mercado premium. Mas o impacto não é tão grande", disse Barral. Ele reforça, porém, que o real desdobramento só poderá ser conhecido após a publicação do ato executivo que definir as barreiras tarifárias.
Reações
Em publicação no X, o ministro da Economia, Fernando Haddad, afirmou que não vai comentar sobre a imposição das tarifas até que a medida seja consolidada. "O governo brasileiro tomou a decisão sensata de só se manifestar oportunamente com base em decisões concretas e não em anúncios ue podem ser mal interpretados ou revistos", escreveu nesta segunda-feira.
Representantes da indústria siderúrgica da Alemanha e do governo alemão se disseram preocupados com os possíveis efeitos dos planos de Trump. Gunnar Groebler, presidente da Associação Alemã do Aço, afirmou que o anúncio está atingindo o setor siderúrgico da UE no pior momento possível e pediu que o bloco aja "de forma unida, planejada e rápida".
A Comissão Europeia afirmou que não responderá a "anúncios vagos" mas prometeu reagir caso tarifas sejam impostas. O México, terceiro maior exportador de aço para os EUA, atrás de Brasil e Canadá, também disse que vai aguardar se as taxas de fato serão impostas antes de reagir.
Anteriormente, Trump também prometeu taxar produtos dos vizinhos México e Canadá, mas recuou após fechar acordos para aumentar a segurança das fronteiras.
Já a guerra comercial de Trump com a China se mantém. Após a Casa Branca decretar uma tarifa adicional de 10% sobre todos os artigos oriundos da China, Pequim anunciou que irá taxar a importação de produtos e commodities americanas, como veículos, equipamentos e energia.
gq/md (Reuters, dpa, ots)
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