Fundação Padre Anchieta

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Neste programa que encerra a série de dramaturgias de cunho histórico, reunimos as principais personagens desta trajetória em um enorme desfile de carnaval, tudo para provar que Shakespeare é antes de qualquer coisa um contador de histórias que abusa dos recursos artificiosos para erguer suas figuras em palcos instáveis. Shakespeare é do povo e pertence ao povo, e cada uma das cenas que constrói se equipara às alas carnavalescas que se sucedem na cadência do samba enredo. Um caminho repleto de som e cores registrado pela potência da palavra colocada na boca do ator.

Uma das principais características de Shakespeare é que em suas sinfonias mirabolantes de reis que perdem a cabeça e outros que assumem o lugar vago do trono, a síntese algo imperativo. Meses, anos, estações climáticas são resumidas em cenas curtas. Frases definem a passagem do tempo sem precisar que o tempo real seja vivenciado. Cenários mudam sem que cenários reais precisem ser trocados. Uma palavra do ator basta para combinar com a audiência esse trânsito amalucado: Agora estamos na corte inglesa, agora não mais! Nos campos da França, é onde viemos parar. Nesta Grande Orquestra do Mundo, Shakespeare também é Vivaldi: maravilhosamente rocambolesco. Miraculosamente sintético.

Shakespeare e seu castelo de cartas forjado pela figura de reis, nobres, bispos e gente comum, personagens que compõe o fantástico cordão carnavalesco cujo samba enredo traz sempre o bordão do poder e da ambição como tema principais. Nesta Grande Orquestra do Mundo, o verbo é o grande solista sob a regência do maior dramaturgo de todos os tempos.

E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.