Poucos se dão conta, mas os versos da “Canção da Terra” de Gustav Mahler (1860-1911) foram extraídos do livro “A Flauta Chinesa” publicado em 1907, tradução alemã de poemas chineses dos séculos VIII e IX feita por Hans Bethge a partir de versão francesa. Ou seja, traduções de segunda mão. Todo mundo conhece o provérbio italiano “traduttore traditore”. Literalmente, significa que o tradutor é traidor, mas de fato quer dizer que nenhuma tradução corresponde exatamente ao sentido original da frase.
Um recém-lançado álbum duplo pra lá de curioso da Deutsche Grammophon, sempre de olho no mercado chinês de 1,4 bilhão de habitantes, coloca lado a lado o célebre ciclo de canções mahlerianas com uma obra inédita, encomendada em 2005 pelo maestro Long Yu, da Orquestra Sinfônica de Xangai, ao compositor chinês contemporâneo Xiaogang Ye, de 56 anos.
Voltemos a Mahler. 1907 foi um dos anos mais duros de sua vida: primeiro morreu a sua filha Maria Anna de apenas 4 anos; depois uma campanha antissemita da imprensa austríaca o obrigou a demitir-se do posto de Diretor-Geral da Ópera Imperial de Viena; e, finalmente, diagnosticou-se sua malformação cardíaca. Em carta a Bruno Walter, Mahler escreveu: “Tudo aquilo que eu julgava ser desapareceu de um dia para o outro”.
A linguagem musical de Ye, que estudou com Alexander Goehr e o holandês Louis Andriessen, é um caldeirão onde cabem os estilos do início do século 20 – Debussy, Ravel mas também Stravinsky – com pitadas chinesas. Não tem a intensidade e recolhimento da música de Mahler, é mais extrovertida.
Este é o CD desta semana na Cultura FM.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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