Volto ao recém-lançado álbum “Expressos Notturnos”, assim mesmo, com dois “t”, de André Mehmari, para colocá-lo como CD da Semana. Assim, os ouvintes poderão saboreá-lo na íntegra. Gravado no primeiro semestre no Estúdio Monteverdi, provocará surpresas e suspiros em quem o ouvir. Execuções primorosas da “Balada opus 10, no. 4”, de Brahms, e de peças de Louis Couperin, cravista compositor francês do século 17. Estão lá também reinvenções livres de peças de Bach, Purcell, Merula (contemporâneo de Claudio Monteverdi). Das dezesseis faixas, sete são assinadas por ele. Incluindo três “Expressos Notturnos”.
Milagrosamente, ele extrai o mesmo prazer e qualidade de execução em improvisos como os “noturnos” e numa leitura refinada da Balada, obra encorpada de Brahms, uma compreensão ideal da música no caso da Balada, uma peça que é puro Robert Schumann, o mestre do fragmento. Ele compôs as quatro do opus 10 na primavera de 1854. Essas baladas têm pouquíssimo ou nada a ver com sua produção pianística restante. Não há desenvolvimento temático, os fragmentos se sucedem. Mas a quarta, que André escolheu, faz do fragmento mote para as derradeiras peças para piano de Brahms, melancólicas, nostálgicas, em 1896, logo depois da morte de sua platonicamente amada Clara.
Outro momento culminante deste álbum extraordinário está nos “expressos notturnos”, com indicações de tempo à italiana, como convém à música clássica, “Agitato” (no.1), ‘Corale” (no.2) e “Stazione Termini” (no. 3), este último o derradeiro das 16 faixas. Eles têm tudo a ver com a Balada e as peças finais de Brahms: parecem confissões de tempos difíceis. E exigem uma escuta ativa.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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