A regente Simone Menezes, nascida em Brasília 44 anos atrás, combina talento com tenacidade e audácia em sua trajetória, iniciada em Campinas, onde estudou flauta e piano na Unicamp. Em Paris, estudou regência de orquestra. Primeiro posto: regente assistente da Orquestra Sinfônica da USP, a OSUSP, em 2004. Dois anos depois, estudou música contemporânea na Casa da Música no Porto, em Portugal. O segundo lugar no Concurso de Regência realizado em 2007 pela Sinfônica de Ribeirão Preto animou-a a tentar a sorte na Europa, onde regeu orquestras e grupos em Portugal, Rússia, República Tcheca e França. De volta ao Brasil, assumiu em 2010 a regência da Orquestra Sinfônica da Unicamp.

Gravou um álbum muito interessante de música contemporânea latino-americana e retornou à Europa, onde lançou-se no início de 2021 a com o álbum “Accents”, do selo Aparté. Foi a estreia do Ensemble K, grupo que formou em 2019 e com o qual gravou em plena pandemia, em julho de 2020. O Ensemble K é integrado por dois violinos, viola, violoncelo, contrabaixo, piano, flauta, oboé, clarinete, fagote, trompa e acordeon – doze músicos europeus, todos escolhidos por Simone.

A um ano exato de distância, neste início de 2022, Simone grava um novo álbum, desta vez contando, além do Ensemble K, com o grupo vocal Sequenza 9.3. Juntos eles interpretam cinco partes da “Messa a quattro voci”, de Giacomo Puccini, obra sacra de juventude. Um interlúdio de violino solo, com Manon Galy ao violino na linda “Sarabanda” da “Partita para violino solo no. 1, BWV 1002, ” de Bach, marca o final da parte vocal e o início das três peças instrumentais que complementam o novo álbum: os arquiconhecidos “Prelúdio” das Bachianas Brasileiras no. 4 de Heitor Villa-Lobos; e um arranjo de V. Paulet das ‘Danças Polovitsianas” de “O Príncipe Igor”, de Borodin.

O álbum se intitula “Metanoia” e o release de imprensa explica que a palavra significa “além do pensamento; ampliar e mudar a forma de ver. ‘Metanoia’ atravessa o tempo e as fronteiras com as obras de Giacomo Puccini, Johann Sebastian Bach, Heitor Villa-Lobos, Arvo Pärt e Alexander Borodin”.

O título do álbum cabe bem mesmo à composição do estoniano Arvo Pärt, hoje com 86 anos. “In Spe” foi composta em 1976, mas o compositor ampliou sua instrumentação em 2010, para quinteto de sopros e orquestra de cordas. Obra do seu período “tintinnabuli”, quando Pärt transpôs a técnica dos sinos para sua música que soa quase estática, pouquíssimos movimentos sonoros, tudo muito vagaroso, ou, como diz ele, “extremamente esparso e concentrado”. As melodias, segue o compositor, “são formadas por segmentos ao redor do tom principal, prolongados nota a nota, uma vez subindo, outra descendo. De acordo com regras pré-determinadas”. In spe quer dizer “com esperança”. Esta é uma de várias versões compostas por Pärt nos últimos 45 anos.

A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.