Fundação Padre Anchieta

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OPUS3
OPUS3 Radu Lupu

Uma de minhas esperanças secretas que acalentei nas últimas décadas era a de assistir ao pianista romeno Radu Lupu num recital na Sala São Paulo. Tentaria ficar naquelas cadeiras em roda já no palco, bem próximas do pianista que fez de uma concepção muito pessoal de interpretação uma marca que o distinguiu, como ao nosso Nelson Freire, no céu superpovoado dos grandes pianistas dos séculos 20 e 2. Um anseio que caiu por terra três anos atrás, em 2019, quando Lupu anunciou sua aposentadoria, em fevereiro passado, aos 73 anos. Aposentadoria dos palcos, entenda-se, porque ele não gravava em estúdio desde 3.

E agora, quando soube de sua morte, no último dia 18 de abril, só teremos mesmo suas gravações, tão excepcionais quanto as de nosso Nelson, repito. Em 2019 a Decca reuniu numa caixa com 10 CDs seus registros entre 1979 e 1993.

Mas você precisa conhecer sua história. Ele começou a estudar piano aos 6 anos com Busuloceanu. Aos 12 estreou em recital com um programa inteiro só com suas “composições”. Em 1961, aos16 anos, ganhou bolsa para estudar no Conservatório de Moscou – e ali aprendeu os segredos do piano com Heinrich e Stanislav Neuhaus – o primeiro foi professor de Emil Gilels e Sviatoslav Richter. Naquela década, venceu três concursos em quatro anos: em 1966 o Van Cliburn, nos Estados Unidos; no ano seguinte o Enescu International em Bucareste, capital de seu país natal; e em 1969 o Leeds britânico. O crítico francês Alain Lompech, do jornal Le Monde, amigo de Nelson Freire e que sabe muito de piano, alfineta que “É preciso ser muito convincente para que um júri comandado pelos ingleses o tenha premiado. Ele remodelava os tempos e as nuances das obras-primas do repertório – será que nenhum de seus professores chamou-lhe a atenção por isso?” Sabemos, completa Lompech, que os mestres que costumam frequentar os júris de concertos não suportam pianistas fora do normal, fora da caixinha, como se diz hoje em dia.

Sua barba sempre longa faz de sua figura a de um monge ortodoxo possuído, tipo muito presente nas histórias russas. Ele tem algo de um x

xamã, diz Lompech. Como Gould, que levava sua velha e rastaqüera cadeira onde quer que tocasse, também Lupu só tocava com uma cadeira dobrável. Fica bem longe do teclado, e os braços bem estendidos. Outro gigante do piano, Wilhelm Backhaus, também tocava numa cadeira dessas.


De novo Lompech, uma mina de informações sobre o mundo do piano. Ele diz que as alterações sutis de tempos e nuances são parecidas com as de nossa Guiomar Novaes – algo que ambos compartilham também com outro pianista brasileiro, Nelson Freire.

Lupu jamais teve grandes preocupações com a carreira. Tocou sempre onde quis e só o repertório que desejava.

Seu legado discográfico é pequeno. E o motivo é simples: ele jamais permitiu que se gravassem suas performances públicas, em solo, camerísticas ou com orquestra. O que existe são os concertos para piano de Beethoven, Brahms, Grieg e Schumann, as sonatas para violino e piano: de Mozart com Szymon Goldberg e de Debussy e Franck com Kyung Wha Chung. Solo: Beethoven, Brahms, Schumann e Schubert. Dois CDs com lieder de Schubert ao lado de Barbara Hendricks e um com as peças para piano a quatro mãos de Schubert com Daniel Barenboim.

Vocês já perceberam que Lupu gravitou basicamente entre Beethoven, Schubert, Schumann e Brahms. A caixa da Decca de 2010 com 10 CDs contém 11 horas e 43 minutos de música daqueles quatro grandes. São registros entre 1979 e 1993, de ótima qualidade técnica. Artisticamente, então, nem se fala.

Ano passado, a gravadora lançou um álbum “sortido”, digamos assim, que é o CD desta semana na Cultura FM: Radu Lupu, the singing piano. Lá estão Schubert, Beethoven, Schumann e Brahms. Tudo superlativo.


A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.