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Catarina Domenici nasceu 57 anos atrás em São Miguel Arcanjo, 5 mil habitantes, na região de Sorocaba, interior do Estado de São Paulo. Apenas nos últimos sete anos cá conquistou a plena afirmação pessoal e profissional porque se afirmou como compositora. De 2019 -- quando sua canção “Marielle Presente” integrou um álbum dedicado a mulheres compositoras – para cá, teve duas obras para orquestra encomendadas e mundialmente estreadas na Capela do King’s College e no Royal Albert Hall há poucos meses. Também está lançando “Ciranda das Mestras”, com peças para piano nomeando as mulheres que marcaram sua vida.
Expulsa de casa porque queria estudar música, ganhou bolsa no Conservatório de Tatuí, e depois cursou música na Unesp, onde participou do PIAP – o Grupo de Perussão idealizado e em tão comandado por John Boudler. Fez nestrado e doutorado nos Estados Unidos, afirmou-se como pianista e é, desde 1993, professora de piano na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Sua última batalha foi a “profunda crise pessoal e profissional” em 2015 para afirmar-se como compositora, território eminentemente masculino. Compor, para ela, é “integrar todas as minhas múltiplas vivências musicais que por muitos anos haviam sido artificialmente separadas. E ter consciência de que ser uma pessoa do gênero feminino é estar no olho desse furacão”. Um furacão que inclui “assédios sexuais constantes. Em nossa cultura machista a atuação em público, num palco, confunde-se com disponibilidade sexual”.
Hoje sente-se vitoriosa por “ter coragem para assumir que faço música porque gosto, porque me dá prazer, e porque necessito disso para viver no sentido mais profundo. No deserto nunca estamos sozinhas, porque estamos em muita boa companhia com milhares de mulheres que vieram antes e foram exiladas por romperem com esse estereótipo opressor”.
Ela lançou dois álbuns no segundo semestre de 2022. Escolhi o primeiro deles como CD desta semana na Cultura FM. Intitula-se “Ciranda das Mestras” e é um tributo em forma de sete peças para piano solo interpretadas por ela mesma que giram em torno de mulheres decisivas em sua vida. Decisivas em vários sentidos. Está lá, por exemplo, Meredith Monk, uma das grandes compositoras contemporâneas da cena norte-americana, mas também “Lili”, a transsexual encarnada no cinema por Eddie Redmayne no filme “A Garota Dinamarquesa”, de 2015.
Ou então “Beatriz”, homenagem justíssima a uma notável pianista argentina Beatriz Balzi (1936-2001), batalhadora incansável pela música contemporânea e professora na Unesp desde 1982 (quando se naturalizou brasileira). E mesmo “Para a Mãe Natureza”.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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