Fundação Padre Anchieta

Custeada por dotações orçamentárias legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada, a Fundação Padre Anchieta mantém uma emissora de televisão de sinal aberto, a TV Cultura; uma emissora de TV a cabo por assinatura, a TV Rá-Tim-Bum; e duas emissoras de rádio: a Cultura AM e a Cultura FM.

CENTRO PAULISTA DE RÁDIO E TV EDUCATIVAS

Rua Cenno Sbrighi, 378 - Caixa Postal 66.028 CEP 05036-900
São Paulo/SP - Tel: (11) 2182.3000

Televisão

Rádio

Reprodução da Internet
Reprodução da Internet Rafael Payare

Ouça o álbum completo:


Aos 44 anos, o maestro venezuelano Rafael Payare é casado com a violoncelista norte-americana Alisa Weilerstein, de 42, desde 2013. Ele acabara de ganhar primeiro prêmio no concurso internacional de regência de Malmo, na Suécia. Ela é uma das mais destacadas violoncelistas da atualidade. O casal tem dois filhos. Ele é preto, ela branca.

Escolhi como CD desta semana – semana da consciência negra – o recém-lançado álbum do selo Pentatone em que Payare rege duas obras de Arnold Schoenberg à frente da orquestra Sinfônica de Montreal, da qual é maestro titular. Simboliza um momento particularmente virtuoso da conturbada vida contemporânea no planeta.

Payare começou a se interessar por música quando tinha 14 anos. Seu primeiro instrumento foi a trompa na orquestra de estudantes de El Sistema comandada por Gustavo Dudamel. O salto se deu quando Payare começou a substituir o maestro titular famoso, que já não conseguia tempo para reger todos os concertos dentro da Venezuela.

A imprensa internacional não para de se espantar com seus feitos – como, aliás, também se comportou quando Dudamel despontou. Ainda vai demorar bom tempo para que itinerários como o de Rafael Payare se normalizem, sejam considerados apenas resultado de seu talento, e não exceções, ou porque conseguiu vencer barreiras de raça aparentemente intransponíveis. Como, por exemplo, suceder a Kent Nagano na direção da orquestra sinfônica de Montreal.

Encontrei esta citação num belo texto de Mariana Garcia, que não conheço, de 2021, intitulado “Sim, existem solistas e regentes negros na música clássica”. Ela termina seu artigo citando este incrível texto: “Encerro com uma citação de Chi-chi Nwanoku [contrabaixista britânica criadora da orquestra Chineke que sistematicamente inclui obra de um ou mais compositores (as) de etnias que tenham sido apagadas das histórias da música oficiais, brancas]: ‘Meu objetivo é criar um espaço onde músicos negros e etnicamente diversos possam entrar no palco e saber que pertencem a ele, em todos os sentidos da palavra. Se pelo menos uma criança negra ou etnicamente diversa sentir que sua cor está limitando suas ambições musicais, espero inspirá-la dando-lhe uma plataforma e mostrando que a música, de qualquer tipo, é para todas as pessoas’".

Vamos à música, e vocês vão entender que a razão de seu sucesso é simples. Ele é um grande músico, tem muito talento.

O álbum é um tributo a Arnold Schoenberg, o compositor que é objeto de uma das grandes efemérides deste 2024: ele nasceu 150 anos atrás. São suas obras do início do século 20, quando ele ainda era um compositor tonal, antes de promover a revolução do atonalismo e em seguida propor o dodecafonismo como técnica de composição.

“Noite Transfigurada” nasceu como sexteto de cordas em 1899; existem duas outras versões, uma para trio de violino, piano e cello; e uma para orquestra de cordas. A obra provocou escândalo não pela música, mas pelo tema: noite transfigurada inspirou-se num poema de Richard Dehmel: um casal passeia à luz da lua; ela confessa que está grávida, e não é do parceiro, que acaba assumindo a paternidade. O arranjo para cordas foi feito em 1917.

“Pelleas et Mélisande”, composta em 1902, baseou-se no drama de Maeterlinck. A trama é a seguinte: após se perder na floresta, Mélisande é descoberta por Goulaud. Eles se casam, mas a jovem acaba se envolvendo com o irmão mais novo de Goulaud, Pelléas. Furioso, Goulaud descobre e mata o irmão. Mélisande se suicida. Foi Richard Strauss quem lhe sugeriu que compusesse uma ópera -- Schoenberg morava em Berlim e dirigia um cabaré para sobreviver. Mas ele optou por um poema sinfônico.