Harrison Birtwistle era um dos mais instigantes e radicais compositores britânicos, que privilegia a música contemporânea mais domesticada, palatável, agradável de se ouvir porém inócua. Aliás não era só o mais importante compositor inglês atual, era um dos grandes do continente europeu. Ele se firmou como uma voz original na criação contemporânea em 1965, com “Tragedia”, uma obra que faz uma alquimia fina entre elementos antigos e outros moderníssimos. Em sua música o lirismo convive com surtos estridentes e violência. Afinal, que música melhor retrata nosso mundo despedaçado, sempre à beira de algum abismo. O atual é o da guerra promovida pela Rússia contra a Ucrânia. Birtwistle se foi, e a guerra sangrenta continua a fazer da Ucrânia terra arrasada. Dedico este programa a ele e sua integridade estética, de um criador musical que jamais transigiu nem fez qualquer concessão ao gosto dominante. Convido vocês a ouvirem agora The shadwo of night. a sombra da noite, um noturno lento, que explora o mundo da melancolia. Bitwistle diz que se inspirou numa das telas que mais o impactaram – um impacto permanente, que ele experimentou por toda a vida: “Melancolia I” do pintor alemão Albrecht Dürer, que viveu entre 1471 e 1528. Ele nasceu e viveu a vida inteira em Nuremberg