Belém entre as mais seguras ou violentas? Dados de pesquisas divergem

Fabyo Cruz - DA AGÊNCIA CENARIUM

BELÉM (PA) - Levantamento da empresa do setor imobiliário MySide, intitulado “Cidades Mais Seguras do Brasil”, colocou Belém como a 5ª capital mais segura do País, utilizando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Saúde (MS). O relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), publicado em julho deste ano, no entanto, aponta que Belém ocupa a 8ª posição entre as capitais com os maiores índices das Mortes Violentas Intencionais (MVI).

A divergência entre os dois anuários levanta dúvidas e confunde a população sobre o real cenário da violência na "Cidade das Mangueiras". Afinal, Belém está entre as mais seguras ou violentas?

Especialistas acreditam que a diferença entre as duas pesquisas, que têm como referência dados de 2023, pode ser atribuída às diferentes metodologias empregadas nas pesquisas. À CENARIUM, o geógrafo Welington Morais, pesquisador do Instituto Mãe Crioula, explica que o relatório da MySide é focado apenas em assassinatos, o que pode restringir a visão sobre a segurança pública da cidade.

“A MySide não é uma referência consolidada em dados de segurança pública, mas, como utiliza informações do IBGE e do Ministério da Saúde, vale ser considerada. Entretanto, a pesquisa aborda apenas assassinatos em cidades com mais de 100 mil habitantes”, esclarece o pesquisador. Além do mais, o estudo “Cidades Mais Seguras do Brasil” traz dados de 2023, enquanto na pesquisa do FBSP contém dados de 2023 e 2022.

Morais destaca que o relatório da MySide não considera outras formas de violência, como feminicídios ou mortes causadas pela polícia. Esses tipos de crimes integram a categoria de Mortes Violentas Intencionais, que representa a soma de homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais, tanto em serviço quanto fora.

O especialista recomenda que a população consulte o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que traz uma análise detalhada das Mortes Violentas Intencionais por município. As MVI contabilizam, portanto, o total de vítimas de mortes violentas com intencionalidade definida em um determinado território. Além disso, o número de policiais mortos também é contabilizado dentro dos homicídios dolosos e é apresentado separadamente apenas para fins de mensuração do fenômeno.

“Belém não é, de forma alguma, a quinta capital mais segura do Brasil. Pelo contrário, o anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública coloca a cidade como a oitava mais violenta. A diferença entre as duas pesquisas está na amplitude dos dados analisados. A MySide foca apenas nos assassinatos, enquanto o Fórum analisa uma gama maior de crimes violentos, incluindo a letalidade policial e feminicídios”, acrescenta Morais.

A pesquisa da MySide também elegeu a cidade de Cametá como a cidade mais segura do Pará, o que, segundo Morais, pode não refletir a realidade vivida no local. De acordo com o geógrafo, cidades menores no Estado, como Quatipuru e Magalhães Barata, são as que apresentam os menores índices de homicídios.

“Cametá não aparece no anuário porque eles só destacam as mais violentas. O critério do fórum geralmente foca nas 20 ou 10 cidades mais violentas. A informação completa sobre todas as cidades da Amazônia não está no anuário, mas em uma tabela à parte do FBSP, que usamos para compilar esses dados. Se olharmos para Cametá em 2023, houve 31 mortes violentas intencionais, colocando-a na 46ª posição entre os municípios da Amazônia, bem distante do status de cidade mais segura que o MySide atribui em seu estudo”, conclui Morais.