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O Roda Viva recebeu Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, no programa da última segunda-feira (2).

A bancada de entrevistadores foi formada por Amanda Audi, repórter da Agência Pública, Bruno Ribeiro, repórter de política do portal Metrópoles, Malu Gaspar, editora e colunista de O Globo, Pedro Borges, diretor de redação da Alma Preta, e Pedro Canário, repórter do UOL. O cartunista Luciano Veronezi ilustrou entrevista em tempo real.

Com apresentação de Vera Magalhães, o Roda Viva é exibido pela TV Cultura, site da emissora, app Cultura Play, YouTube, Tik Tok e Facebook.

No programa, Pablo Marçal respondeu perguntas sobre associação de aliados ao crime organizado, a condenação por furto qualificado, proposta do teleférico e mais. Ao longo da edição, o projeto Aos Fatos checou as falas e dados apresentados pelo candidato.

“Não configura porque não tem esse pagamento, né? Eu nunca deixei de falar e propagar isso. Só que dentro do período eleitoral tanto de pré-campanha e campanha, não houve pagamento.” [FALSO].




Marçal repete uma declaração falsa já desmentida pelo Aos Fatos. Diferentemente do que alega o candidato, diversas reportagens publicadas pela imprensa atestam que sua equipe pagou, sim, pelos cortes de vídeos produzidos durante um campeonato ocorrido durante a pré-campanha. O caso fez com que o Ministério Público Eleitoral pedisse a suspensão da candidatura do ex-coach por suspeita de abuso de poder econômico.

Na disputa realizada entre 24 de junho e 7 de julho na comunidade Cortes do Marçal, no Discord, os participantes precisavam compartilhar vídeos do candidato acompanhados da hashtag #prefeitomarçal. Uma lista publicada no canal previa pagamentos entre R$ 50 e R$ 5.000, dependendo do número de visualizações ou volume de postagens.

Aos Fatos também divulgou um áudio em que um funcionário de uma das empresas de Marçal, Jefferson Zantut, explicava que o pagamento pelos cortes era feito por uma prestadora de serviços. Em comentário sobre a reportagem publicado nas redes, um dos administradores da comunidade do Discord admitiu que houve pagamentos ilegais durante a pré-campanha.

Por fim, reportagem publicada pelo UOL no último dia 21 mostrou que o influenciador Daniel Sorriso postou em suas redes um comprovante de pagamento recebido pela divulgação de cortes de vídeos de Marçal.

“Eu sou o único candidato a falar nisso, não tem nenhum outro que está falando isso. Limpar os mananciais.” [FALSO].



A declaração é falsa, porque a recuperação de mananciais consta em outros planos de governo dos principais candidatos à prefeitura:

O ponto 32 das metas de Guilherme Boulos (PSOL) traz a promessa de recuperar mananciais por meio da articulação entre agentes públicos e sociedade civil, o fortalecimento da fiscalização e a destinação de mais recursos ao Programa Mananciais. O objetivo seria “garantir a segurança hídrica, a qualidade dos mananciais, a readequação ambiental dos assentamentos existentes e a compatibilização de usos sustentáveis”;

Já o atual prefeito, Ricardo Nunes, prometeu integrar o “desenvolvimento das Áreas de Proteção e Recuperação dos Mananciais (APRM) com habitação social, lazer e empregos verdes” e atuar nos assentamentos das represas Billings e Guarapiranga;

Tabata Amaral (PSB) também prometeu “fortalecer as ações de proteção e regeneração das áreas de mananciais da cidade, fundamentais para abastecimento de água e sustentabilidade ambiental”, por meio de ações que envolvam soluções habitacionais, políticas de pagamento por serviços ambientais e incentivos à preservação;

Por fim, consta no plano de governo de José Luiz Datena (PSDB) a promessa de atuar em parceria com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para conservar a qualidade das águas e dos mananciais, e de ampliar e fortalecer o programa Córrego Limpo, despoluir corpos d’água, e implantar barreiras coletoras de resíduos sólidos nos córregos da cidade.

Já Marçal promete, no ponto 42 de seu plano de governo, “limpar definitivamente o Tietê, implementando tecnologias de pronta para a remoção de poluentes e tratamento das águas” e evitar que lixo e esgoto sejam despejados nos rios transformando “os resíduos em riqueza por meio do biosaneamento”.

“Deve ter de 3,5 milhões a 4 milhões de pessoas em situação de periferia, favela e comunidade [na capital paulista].” [FALSO].



A declaração é falsa, porque os dados citados pelo candidato dizem respeito a todo o estado de São Paulo, e não apenas à capital. De acordo com levantamento publicado em 2023 pelo Data Favela em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), havia 3,4 milhões de pessoas vivendo em favelas e comunidades no estado paulista.

Aos Fatos não encontrou estudos que estimem o total de moradores que ocupam zonas periféricas na capital. Os dados mais próximos disponíveis são do Mapa da Desigualdade 2023, que mostra que cerca de 6,7% das residências estão na periferia. Cruzando esse número com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, que apontam a existência de 4.996.495 domicílios na cidade, haveria cerca de 334 mil domicílios em favelas e comunidades.

“Alguém [Boulos] que agora se converteu na Assembleia de Deus.” [FALSO].



Conforme destacado pela apresentadora Vera Magalhães durante o programa, a declaração de Marçal de que Guilherme Boulos (PSOL) teria se convertido à religião evangélica para fins eleitorais é falsa. Aos Fatos não encontrou registro de que o psolista tenha declarado algo semelhante ou participado de cultos na Assembleia de Deus, por exemplo.

O candidato, na verdade, apenas participou de um encontro em São Paulo no final de agosto com representantes de igrejas como Aviamento, Universal e Assembleia de Deus. Na reunião, Boulos chamou Marçal e o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), de “falsos profetas”.

“Os Estados Unidos têm 10 mil bancos aproximadamente.” [FALSO].



De acordo com os dados mais recentes da Corporação Federal de Seguro de Depósito (FDIC, em português), de 2023, os Estados Unidos possuem 4.036 bancos e, por isso, a declaração de Marçal foi considerada falsa.

O país chegou a ter cerca de 30 mil bancos durante a década de 1920, mas o número caiu com o passar do tempo. O último ano em que foram registradas mais de 10 mil instituições financeiras foi 1994.

“O Brasil perde em turismo pra um elevador na França. O elevador da Torre Eiffel. Aqui tem menos turista internacional, tá? Do que o elevador da Torre Eiffel.” [FALSO].



Marçal repetiu um dado falso que já havia citado durante o debate da Band, no dia 8 de agosto. Diferentemente do que afirma o candidato, o elevador da Torre Eiffel não recebe mais turistas internacionais do que o Brasil.

Em 2023, o monumento francês foi visitado por 6,3 milhões de pessoas — 1,1 milhão de franceses e 5,2 milhões de estrangeiros. Os dados, no entanto, se referem ao total de visitantes do ponto turístico como um todo, e não apenas àqueles que usaram o elevador. Em contrapartida, o Brasil recebeu aproximadamente 6 milhões de visitantes internacionais no mesmo ano.

“A esquerda odeia que você entenda de dinheiro porque o próprio presidente Lula falou que quem ganha mais de R$ 4.000 não vota nesse tipo de partido.” [NÃO É BEM ASSIM].




Marçal se refere a uma declaração do presidente Lula (PT) feita durante uma convenção do partido em 8 de dezembro de 2023. Diferentemente do que sugere o candidato, no entanto, o petista não demonstrou desprezo por pessoas com renda mais alta. Ele, na verdade, fez referência a uma pesquisa de opinião para criticar a dificuldade do próprio partido de dialogar com pessoas das classes média e alta.

A fala, na íntegra, foi:

“Quem vota majoritariamente no PT são pessoas que ganham até dois salários mínimos. Um metalúrgico de São Bernardo, que ganha R$ 8.000, já não quer mais votar na gente. Pega a pesquisa e vocês percebem que quem ganha acima de cinco salários mínimos já tem dificuldade de votar na gente. É por que essa pessoa ficou ruim? Não, é porque possivelmente essa pessoa elevou um milímetro padrão de vida dela, de aprendizado dela e nós não aprendemos a conversar com ela.”

“A gente tem que olhar o rombo de um trilhão que o Lula produziu nesses últimos dois anos.” [VERDADEIRO].




Marçal se refere ao rombo fiscal do setor público que, de fato, ultrapassou R$ 1 trilhão. Segundo relatório do Banco Central, o resultado nominal acumulado nos últimos 12 meses (entre agosto de 2023 e julho de 2024) foi de R$ 1,128 trilhão. Esse resultado é obtido pela soma do déficit do governo central (R$ 269 bilhões) com os juros da dívida pública (R$ 869,8 bilhões).

Desde que Lula assumiu seu terceiro mandato, portanto, o déficit do setor público cresceu. Ao final de 2022, o Banco Central calculou que o governo estava deficitário em R$ 460,4 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses.

Assista ao programa completo: 

Roda Viva | Eleição
O próximo entrevistado do programa será  Ricardo Nunes (9/9).

Debate no 1º turno
A TV Cultura realizará um debate no dia 15 de setembro, ao vivo, a partir das 22h, diretamente do Teatro B32. A iniciativa contará com a participação dos candidatos Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Marina Helena (Novo), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB).

Roda Viva no segundo turno
No segundo turno, a TV Cultura promoverá um Roda Viva especial com os dois candidatos que irão disputar a Prefeitura de São Paulo. O programa terá dois blocos de 25 minutos e outros dois de 20 minutos cada.

Com tempos iguais de participação, os entrevistados ocuparão o centro jornalístico de forma alternada, seguindo a ordem que será decidida por sorteio 30 minutos antes do início da edição, com a presença de assessores dos dois candidatos. No quinto bloco, permanecerão juntos no estúdio para as considerações finais.