10 anos sem Amy Winehouse: Como cantora se tornou um ícone mesmo com uma carreira tão curta
Para além do penteado de colmeia e do delineado marcado, Amy se destacou pelas letras ásperas e por expor vulnerabilidades
23/07/2021 08h00
Há exatos 10 anos o mundo perdia Amy Winehouse. A cantora de voz marcante e letras ásperas e sinceras deixou um grande legado para o mundo da música, apesar de seus poucos anos de carreira e de ter lançado apenas dois álbuns: "Frank" (2003) e "Back to Black" (2006).
Nascida em uma família de tradição musical no norte de Londres, a artista cresceu ouvindo ícones como Dinah Washington, Sarah Vaughan e Tony Bennett. Apesar de não pensar que se tornaria uma cantora, começou a fazer parte de uma banda de jazz aos 16 anos.
"Ela não era só uma grande voz, era uma grande história"
Em 2002, a garota promissora assinou um contrato com a Island Records. "Quando via a capacidade lírica e harmônica dela, era como uma alma antiga em um corpo muito jovem", disse em entrevista ao documentário "Amy", Nick Gatfield, presidente da gravadora na época.
Amy estreou no cenário musical britânico em outubro de 2003, com o lançamento de seu primeiro álbum. Em seu single de estreia "Stronger Than Me", a artista começava a exibir sua habilidade de escrever sobre seus sentimentos de uma forma sincera e sem rodeios, como mostram os primeiros versos da música: "Você deveria ser mais forte que eu/ Você está aqui há sete anos a mais que eu/ Não sabe que é você quem deveria ser o homem?/
Nem se compara com o que você acha que eu sou".
Em entrevista ao site da TV Cultura, o crítico musical Pedro Antunes aponta que "Amy cantava o amor como se ele fosse tão importante quanto o oxigênio para ela viver. Quando ela se coloca vulnerável, ela faz isso de um jeito que cada um traz para si a ideia de que também já foi vulnerável um dia, e é nesse calo que ela mexe."
Essa mesma vulnerabilidade apareceu com muito mais força em '’Back to Black". Quando Amy começou a trabalhar no álbum, enfrentava o rompimento de uma relação tóxica com o namorado Blake Fielder, o crescente consumo de álcool e drogas, uma grande perda de peso, o controle abusivo de seu pai, Mitchell Winehouse, e transtornos alimentares, ignorados por seus pais na adolescência.
"Encontramos uma Amy que começa a sentir o peso da juventude e de suas decisões. São letras viscerais, ela se expõe de um jeito que a gente não vê com frequência na música pop", explica Antunes.
"Rehab" foi o primeiro single do disco e seu sucesso levou Amy ao estrelato. Com a grande repercussão do álbum, ela levou o prêmio de "Melhor Artista Britânica" no BRIT Awards de 2007. No ano seguinte, Amy ganhou cinco categorias no Grammy, entre elas "Artista Revelação" e "Música do Ano".
Na época, Amy estava internada em uma clínica de reabilitação. Ela quis, entretanto, comparecer à cerimônia, mas as autoridades dos Estados Unidos não permitiram sua entrada no país a tempo. O atraso ocorreu devido ao envolvimento dela com substâncias psicoativas. Amy participou do Grammy por meio de uma transmissão do Riverside Studios, em Londres.
A ascensão da carreira não trouxe ganhos em sua vida pessoal. Winehouse foi internada várias vezes em clínicas de reabilitação, teve muitas apresentações canceladas e sofria constantemente com os assédios da imprensa, o que só piorou depois de ter reatado o relacionamento com Blake Fielder, com quem se casou em 2007. O marido foi responsável por apresentá-la ao crack e à heroína.
Em entrevista antes da morte da artista, Raye Cosbert, seu empresário, disse que Amy “estava dividida entre duas coisas: o cara que ela realmente amava e continuar com o consumo de substâncias que ambos estavam tentando usar ao mesmo tempo”.
O crítico Pedro Antunes diz se lembrar "de como o conservadorismo a criticava por suas escolhas e de como se apresentava no palco, sem nunca entender direito quem era a Amy Winehouse. Eu acho que ela sempre foi essa incógnita. Enquanto tinha uma voz incrível, ela tinha um estilo fenomenal e essa ideia de 'você não sabe com quem está lidando', e isso era uma coisa que a imprensa gostava de consumir". "Tudo isso levou a Amy a ser esse ícone, ela não era só uma grande voz, era uma grande história", completa.
Para ele, "Amy Winehouse foi a última grande perda da música pop. Ela foi consumida pela cultura dos tablóides ingleses e houve a perda de sua liberdade pela fama. Não há outro artista relevante hoje, tirando Adele, que consiga trazer a estética tão peculiar e potente do Soul e do R&B."
Ultimos anos
Em 23 de julho de 2011, Amy morreu aos 27 anos de intoxicação por álcool em sua casa, no bairro de Camden Town, no norte de Londres. Após esses 10 anos, a cantora continua a influenciar o cenário artístico, assim como suas letras e seu estilo marcante, como o penteado de colmeia e o delineado marcado, seguem como referências musical e estética.
O álbum póstumo, "Lioness: Hidden Treasures", foi lançado em dezembro do mesmo ano. Nele, a artista voltava a se aproximar de um mundo mais colorido, após o sombrio "Back to Black".
Nesta sexta, Amy ganha um novo documentário. A história da artista é narrada por sua mãe, Janis Winehouse-Collins, no filme “Reclaiming Amy”, produzido pelas britânicas BBC Two e BBC Music. Amigos e familiares também prestam depoimentos sobre a trajetória da cantora, desde os momentos felizes até o declínio que os vícios trouxeram.
"Amy Winehouse foi a última grande artista completa a surgir na música pop, ela transcende a arte, ela está na moda, nos tabloides, é uma referência musical, é assunto", diz Antunes.
"A Amy deixou um legado do que não fazer na música pop, de como não consumir um artista. Isso pode arrancar da gente um talento gigante."
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