Não é novidade ver cantores LGBTQIAP+ em destaque na música música e performances. No Brasil, temos Ney Matrogrosso, Daniela Mercury, Pabblo Vittar e Glória Groove como alguns nomes mais famosos do meio artístico. Com influências internacionais e do passado, surgem cada vez mais novas carreiras de pessoas queer, trabalhando com todos os gêneros musicais no país.
No dia 28 de junho é celebrado o Dia do Orgulho LGBTQIAP+ em homenagem a um dos episódios mais marcantes na luta da comunidade gay pelos seus direitos.
Em entrevista ao site da TV Cultura, o cantor sertanejo Gabeu, pioneiro do pocnejo e filho do sertanejo Solimões, — também chamado de queernejo — comenta sua relação com a música: "Sempre soube que ia trabalhar com a arte de alguma forma, acho que essa questão de não identificação com sertanejo, também fez não me sentir parte da indústria (...) Por isso, decidi cantar para quem, como eu, queria se sentir representado. Hoje, me identifico com o que faço e vejo muitos meninos gays que também se identificam", destaca.
A drag queen Lizza Liz relembra sua trajetória na música. Vinda de um colégio militar em Salvador (BA), Lizza enfrentou preconceitos da sociedade, e tinha medo de ser ela mesma. "Quando era criança, me identificava mais com as personagens femininas porque não tinha ninguém que eu pensasse que poderia ser eu", declara. Lizza diz que sua artista de referência é outra cantora drag queen, a Pabllo Vittar. "Ver uma drag como ela ocupar um espaço tão grande, de tanta referência, aparecer em rede nacional, é uma coisa incrível para mim", explica.
A arte de resistir
"Acredito que, sem dúvidas, me maquiar, me montar e sair na rua, ser quem sou é uma forma de resistir", comenta Lizza Liz. A cantora cita um episódio recente de agressão que vivenciou, e lamenta ainda ter que passar por tanto. "Depois de tanta luta, quantas pessoas vieram antes de nós para que pudéssemos subir no palco e cantar? E hoje, por causa de mentiras, voltamos à luta", lamenta.
Gabeu comenta que se apropria de objetos que antes soavam, para ele, opressores e que faziam simbologia ao "macho" dentro do sertanejo. "Quando se falava de gay na música sertaneja era sempre como um tom de chacota", diz o cantor, e complementa "eu queria muito usar a bota o chapelão, mas não me via dentro daquele contexto".
"Tudo que a gente tem feito junto, e eu gosto de falar, como realmente algo em conjunto com outros artistas, porque quando eu lancei 'Amor Rural', um dos meus medos era de viver meio sozinho. Pensava com quem ia fazer parcerias musicais e com quem iria gravar. Uma galera foi chegando e outros artistas foram surgindo. A gente foi se fortalecendo, artistas fazendo sua arte sendo quem são", declara Gabeu.
O que é ser queer
O termo "queer" é usado pela comunidade LGBTQIAP+ para definir quem não identifica com a heteronormatividade, ou seja, minorias sexuais e de gênero, que não são heterossexuais ou não são cisgênero. O termo foi usado como uma ofensa por muitos anos, já que era uma forma de dizer que alguma pessoa estava fora dos padrões e que poderia ser considerada "estranha".
A cantora drag queen, Lizza Liz lamenta que a comunidade como um todo ainda tenha que passar por violência. O Brasil registra uma morte por homofobia a cada 23 horas, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB).
Apesar da hostilidade de violência e mortes que o termo "queer" carrega, a comunidade o abraçou como forma de luta. "Sinto que eu sou capaz, que me torno mais forte através das minhas músicas eu consigo passar essa mensagem de força e resistência (...) Então, ser queer é ser quem eu sou, assim estranha, sem caber na sociedade mas cabendo na arte", declara Lizza.
"É realmente bem louco assim pensar que estou gerando essa identificação nas pessoas", comenta Gabeu, "ser diferente às vezes parecia errado, mas hoje tem dado certo, e fico feliz de estar nesse lugar de reconhecimento", finaliza o sertanejo.
REDES SOCIAIS