“A partir das seis da noite eu não ando mais nas ruas”, diz ator Clayton Nascimento, no Provoca
Entrevista inédita, comandada por Marcelo Tas, vai ao ar na TV Cultura na próxima terça (21)
17/11/2023 16h58
No Provoca desta terça-feira (21), Marcelo Tas recebe Clayton Nascimento, ator, dramaturgo e educador, em cartaz com a premiada peça 'Macacos', e que ainda interpreta o personagem Caíto na novela 'Fuzuê', da Rede Globo.
Na entrevista, o artista fala sobre como foi receber elogios de Fernanda Montenegro, conta como foi um assalto racista que sofreu e comenta ainda a formação da segurança pública no Brasil. O programa vai ao ar na tela da TV Cultura, às 22h.
O ator começa a edição contando sobre um elogio feito a ele por ninguém menos que a atriz Fernanda Montenegro, que estava na plateia do espetáculo 'Macacos'.
“Tem um momento na peça que eu leio uma carta, um momento delicado para a plateia, e eu ouço uma voz vindo perto de mim e dizendo: ‘bravo menino!’. E, em cena, eu pensei: ‘eu conheço essa voz, mas devo seguir’. Quando acaba, Fernanda Montenegro levanta a mão e começa a dizer coisas maravilhosas: ‘você é um fenômeno, eu tenho 90 anos de teatro e nunca tinha visto isso. Você vai fazer isso para sempre, ainda bem que você é brasileiro’”, revela.
Clayton diz que antes de ser um artista as pessoas o viam como um "tipo perigoso".
“Um dia eu saio do cinema e vou para a Paulista, a avenida mais famosa da América Latina, eu paro num ponto de ônibus e surge um casal dizendo: ‘ele roubou nosso mercadinho’. E eu disse: ‘não, eu não roubei, você está me confundindo’. E surgiu uma mulher depois dizendo: ‘e me bateu depois’. Eu olhava para o ponto de ônibus e dizia que não era verdade: ‘vocês estão vendo que não é verdade, me ajuda’. Aí eu entendi, é a minha palavra contra de duas pessoas brancas. E ali eu fui punido, espancado e roubado no final”, conta.
O dramaturgo e educador explica que o episódio pode ser configurado como um assalto racista, já que o colocaram como um agressor social:
“A maioria dos corpos pretos quando são atacados dizem quase as mesmas frases: ‘você está me confundindo, olha meu documento, estou trabalhando’. E eu percebi que repeti séculos para tentar me safar de um modo saudável. Aí eu vou estudar bastante e eu leio Carolina Maria de Jesus dizendo: ‘Deus abençoe os brancos para que os pretos possam dormir em paz’ (...) e foi o que eu percebi, eu perdi o respeito, o cuidado com o meu próprio corpo quando um casal branco disse que eu era um ladrão e a sociedade acatou".
"Isso mexe com a gente, a partir das seis e meia da noite eu não ando mais nas ruas”, afirma Clayton.
Leia também: Grammy Latino 2023: Marília Mendonça e Planet Hemp são premiados; veja lista
REDES SOCIAIS