Veja curiosidades do restauro do Jockey Club de São Paulo, um dos maiores complexos de Art Déco do mundo
Espaço ainda oferecerá aulas gratuitas sobre restauração para jovens de Heliópolis
19/12/2024 17h20
O Jockey Club de São Paulo é considerado um dos maiores complexos de arquitetura Art Déco do mundo. Atualmente, o espaço está em processo de restauração, a fim de recuperar suas características originais.
Desde os revestimentos até o mobiliário, tudo foi criado exclusivamente para o Hipódromo Cidade Jardim, patrimônio histórico e cultural da capital paulista.
Reformulado na década de 1950 pelo arquiteto francês Henri Sajous, o conjunto arquitetônico agora tem um programa de restauro financiado por incentivo fiscal por meio da Lei de Incentivo à Cultura, que recebeu autorização para captar R$ 48 milhões em 2023.
"O Jockey conta com um acervo de peças com desenho exclusivo para o clube, como dobradiças de cobre, fechaduras, cremonas e puxadores. A restauração exigiu a elaboração de moldes e a busca por fundições artesanais capazes de reproduzir esses itens com precisão", explica Wolney Unes, diretor técnico da Elysium Sociedade Cultural, organização responsável pelo processo.
Entre os desafios está o de reproduzir, quando necessário, peças não comerciais, a exemplo das luminárias dos salões sociais, que ainda precisam ser recriadas.
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O especialista em artes e engenharia destaca que essa prática de criação exclusiva, característica da "arquitetura total", caiu em desuso.
O conceito existe há muito tempo, mas teve seu ápice na época do Art Déco, em que cada detalhe é planejado para harmonizar com a estética e funcionalidade do edifício. No Jockey, cada elemento foi criado sob medida, desde os revestimentos e mobiliário até a iluminação, passando por detalhes como portas, esquadrias e obras de arte decorativas.
“Originalmente, foram usados dois tipos de madeira nos tacos do mosaico do piso dos salões sociais: imbuia e jacarandá, além de inserções de ipê. Algumas dessas espécies correm o risco de extinção e são, portanto, protegidas. A opção foi selecionar madeiras de espécies próximas em cor e textura”, acrescenta Wolney.
Entre os materiais nobres, estão as poltronas desenhadas por Sajous, cujas peças originais são revestidas com tecido de lã de Aubusson, um vilarejo francês especializado nesse material.
Os edifícios do Hipódromo Cidade Jardim também incluem materiais como mármore Calatava, retirado da Toscana, na Itália, de minas vizinhas à cidade de Carrara; cortinas de seda tecidas em Lyon, na França; peças exclusivas fundidas em cobre; e painéis com douramento e aplicação de laca chinesa.
O espaço conta ainda com 15 esculturas do artista plástico Victor Brecheret.
Veja quatro curiosidades da construção do Jockey Club:
- Em alguns mármores da Tribuna Social foram encontrados fósseis marinhos de crustáceos e moluscos;
- Durante a construção, materiais como tijolos foram produzidos diretamente no terreno, devido à falta de fornecedores próximos;
- As grades florais nas estruturas metálicas são desenhos inspirados nas folhas do cafeeiro, criadas por Henri Sajous para homenagear os produtores de café que eram sócios do clube;
- A cobertura da Tribuna Social tem um balanço em concreto armado que ainda hoje é considerado o maior do mundo: mais de 25 metros de vão livre.
Curso gratuito
Conceitos de educação patrimonial e práticas de restauração aplicadas no Jockey Club também são periodicamente transmitidas pelo Ateliê de Artes e Ofícios, em iniciativa da Elysium Sociedade Cultural.
Exclusivamente na próxima edição, haverá aulas gratuitas com jovens da comunidade Heliópolis por meio de uma parceria com a Fundação CSN. Mais informações sobre o curso devem ser divulgadas em breve.
"O objetivo é manter viva não apenas a história de São Paulo, mas também a do país, dada a relevância histórica e cultural deste patrimônio", finaliza Wolney.
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