Esporte

​Fazendo espuma

O inventor da espuma para futebol - batizada de Spuni - trava há tempos uma queda de braço com a entidade mor do futebol mundial


18/07/2020 20h00

A gente tá cansado de saber que por mais disciplinado e bem intencionado que seja tá pra nascer o boleiro que já não tentou levar alguma vantagem no jogo. Mesmo que tenha usado pra isso apenas recursos moralmente condenáveis, embora legais. Assim sendo, o bendito spray para marcar o lugar da barreira e de outras infrações, à primeira vista tão modesto, foi desde sua criação de uma eficácia poucas vezes vista na história do futebol. E olha que o que já fizeram pra tentar manter os caras na linha não é pouco. Antes dele lembro da TV usar um círculo que era projetado no gramado mostrando a linha dos tais nove metros e quinze de distância. Acontece que o tal recurso só era visível para quem estava em casa acompanhando a transmissão. Logo, na maior parte das vezes fazia dele um recurso preciso mesmo para elucidar o quanto o juiz estava sendo enrolado naquele exato momento.

Toco no assunto porque o jogo pro cara que diz ter inventado o spray anda duro. Heine Allemagne, o inventor da espuma para futebol - batizada de Spuni - trava há tempos uma queda de braço com a entidade mor do futebol mundial. Dureza. No último dia dez, na sétima Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, deu FIFA. A juíza encarregada do caso entendeu que não há má fé por parte da FIFA em usar o invento fabricado por outros fornecedores, que isso não caracteriza quebra de patente. Patente que Heine detém em nada menos do que quarenta e oito países.

O advogado que defende a Spuni afirma que o fato de deter a patente lhe dá a exclusividade na produção e fornecimento do produto. Em virtude da possibilidade de recorrer da decisão ganhamos a garantia de que a novela terá novos capítulos. O inusitado da história , claro, não é a batalha jurídica, que nada tem de novo. É o produto que a motivou. Diria até que se trata menos de uma invenção e mais de uma sacada. E sacadas costumam mesmo ter algo de genial. E lógico que a FIFA já quis fazer disso um argumento. Não tardou a alegar que assim que o produto se popularizou surgiram vários outros fornecedores, já que a fabricação do spray de barreira, como é chamado, está longe de demandar alta complexidade.

Pra embolar o meio de campo a justiça deixou claro que para aceitar a acusação de uso de spray pirata caberia ao titular do invento comprovar que a fórmula dos produtos usados pela ré é a mesma. Mas nada disso faria sentido, notem, se não fosse a tremenda eficácia do bendito. E disso também deve ser prova o fato de em outro momento a FIFA ter feito uma proposta de meio milhão de dólares pelas patentes. Mas os entendimentos a respeito que começaram de modo amigável a essa altura ganharam ares da mais pura rivalidade.

Dona FIFA não brinca em serviço. Desde 2018 passou a não citar o invento no livro de regras, no qual chegou a constar em anos anteriores. No entanto, sabemos, seguiu usando o spray. E essa argumentação da defesa teve como base uma versão do livro em espanhol, enquanto a entidade afirma que o spray de barreira jamais foi citado nas versões oficiais do livro, feitas sempre em língua inglesa. Olha o drible! A impressão que tenho é a de que um tubo de espuma de barbear comum poderia fazer bem o papel. Opinião de leigo, vejam. A única certeza que trago comigo é a de que uma das maiores sacadas dos últimos tempos em matéria de futebol seguirá fazendo espuma.


Vladir Lemos é jornalista, apresentador Revista do Esporte e diretor de Esporte da TV Cultura.

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