Esporte

Semana da consciência negra: 6 futebolistas negros que se posicionam contra o racismo e desigualdades

Contrariando a tese de que atletas do futebol brasileiro não se manifestam, listamos personalidades que não costumam se calar


19/11/2020 19h11



Roger Machado 

Ex-jogador e atualmente técnico de futebol, Roger Machado não esconde o que pensa quando é questionado sobre racismo. Até o presente momento Roger está sem clube, porém, ano passado em uma partida do Bahia (equipe que treinava na época) contra o Fluminense, comandado por Marcão, ficaram face a face os dois únicos treinadores negros da série A.

Em uma ação da campanha de conscientização, realizada pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, o então treinador do Bahia, comentou na coletiva de imprensa da partida, sobre o encontro com Marcão e disse que o fato de dois técnicos negros se enfrentarem e causarem grande repercussão já era uma confirmação do problema racial.



Reinaldo


O craque dos anos 70 e 80 do Atlético Mineiro já assumiu que, nos tempos de jogador, tinha uma preocupação em responder àqueles que diziam que todos os futebolistas eram alienados.

A cada gol que fazia, comemorava levantando o braço e cerrando o punho, gesto semelhante ao que era feito por membros do Partido dos Panteras Negras nos Estados Unidos.

Reinaldo já participou de campanhas antirracistas do Galo, e tanto na época de jogador, quanto atualmente, depois da aposentadoria, nunca se cala quando o assunto é racismo ou a ditadura militar ocorrida no Brasil, que chegou a perseguir o atleta pelo seu forte posicionamento contrário.



Marinho

O atual camisa 11 do Santos, por algum tempo, foi conhecido, apenas, como o jogador dos memes e das entrevistas engraçadas. Depois da chegada de 2020, além de impactar o público e a torcida do peixe com seu grande futebol, marcou presença se posicionando sobre temas sérios da sociedade brasileira.

Um dos episódios mais recentes, aconteceu após o jogador santista ser expulso em uma partida contra a Ponte Preta, pelo Paulistão de 2020. Marinho foi alvo de comentários racistas de Fabio Benedetti, comentarista da rádio Energia 97. Nas palavras de Benedetti, “Você é burro, você está na senzala, você vai sair do grupo uma semana para pensar sobre o que você fez”.

Em suas redes sociais, desabafou dizendo que “defendo a bandeira porque passo na pele essa situação, e quando a gente passa, a gente sofre. ” Não foi a única vez que o craque do Santos se posicionou frente a situações de preconceito.

O atleta mostrou indignação nas redes sociais sobre o caso do entregador por aplicativo que foi alvo de ofensas racistas ao entrar em um condomínio, e clamou por punições mais severas aos agressores. “Enquanto ficarmos só nas hashtags, pessoas como o Matheus vão seguir passando por isso”, desabafou.



Wladimir


Wladimir Rodrigues dos Santos foi o jogador que mais vestiu a camisa do Corinthians na história. Foram 805 partidas disputadas pelo alvinegro, mas sua trajetória não para por aí. Wladimir foi, ao lado de Sócrates e Casagrande, um dos líderes da democracia corintiana, movimento que, entre outras coisas, concedia aos atletas o direito de opinar nas tomadas de decisão que o clube faria.

A ação desses atletas tomou ainda mais importância, visto que, ocorreu no começo dos anos 80, quando o Brasil ainda passava pelo período da ditadura militar. Jogadores de futebol se posicionando politicamente não eram bem vistos por parte da imprensa e de setores governamentais.

Se tratando de racismo, Wladimir já relatou que chegou a sofrer preconceito enquanto atuava, e por mais de uma vez, reiterou a importância de vítimas do preconceito denunciarem formalmente os casos de ofensas raciais.

Leia Mais: "Aquilo fortaleceu mais ainda minha paixão pelo futebol": Serginho Groisman comenta sobre o ex-lateral Wladimir e a Democracia Corinthiana



Richarlison 

O carismático atacante do Everton da Inglaterra e da seleção brasileira é um atleta antenado com o que acontece no país e no mundo.

Nas redes sociais do “Pombo”, como também é conhecido, todo tipo de assunto é abordado, inclusive aqueles de cunho social. Desde o pedido de justiça pela morte do segurança americano George Floyd e o garoto João Pedro, até a indignação com o apagão no estado do Amapá não passa batido pelo atleta, que ganha cada vez mais admiração dos brasileiros.

Durante o período de quarentena e a paralisação dos campeonatos na Inglaterra, Richarlison se tornou embaixador da USP Vida na luta contra a Covid-19.


Aranha

Um dos casos mais emblemáticos de racismo no futebol brasileiro foi sofrido pelo ex-goleiro Aranha. Em 2014, durante uma partida entre Grêmio e Santos (time de Aranha à época) válida pela Copa do Brasil, aos 42 minutos do segundo tempo, torcedores gremistas, insatisfeitos pela derrota por dois à zero até aquele momento, começaram a xingar e imitar, em coro, sons de macaco para o goleiro.

Aranha comunicou o árbitro, Wilton Pereira Sampaio, que seguiu com o jogo até o final. Depois do incidente, o tricolor gaúcho foi desclassificado da competição.

O ex-goleiro do Santos não chegou a levar o caso à polícia, mas em diversas entrevistas falou sobre o tratamento diferenciado que recebeu da torcida e da diretoria do gremista, que em outra ocasião, quando Aranha voltou a disputar uma partida na Arena do Grêmio, colocou uma câmera especial apenas para monitorar individualmente as ações do jogador, caso outra situação semelhante acontecesse.

Por diversas vezes, Aranha comentou sobre o preço que se paga ao denunciar atos de racismo no futebol e sobre como foi difícil arrumar outro clube depois da saída do Palmeiras (2016), por causa de seu comportamento antirracista.

Atualmente, Aranha é colunista do portal UOL.


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