Esporte

Relembre o caso que levou Simone Biles a depor no Senado

Biles e outras três ginastas americanas denunciaram sobre como casos de assédio sexual dentro da equipe são negligenciados pelas autoridades


17/09/2021 17h10

O caso de assédio sexual envolvendo o ex-médico Larry Nassar veio à tona na última quarta-feira (15), depois de Simone Biles e suas colegas de equipe, Aly Raisman, McKayla Maroney e Maggie Nichols deporem no Senado, trazendo luz à negligência das autoridades - em especial, o FBI - em lidar com as denúncias, e então permitindo que os episódios se multiplicassem por anos. "Para ser clara, eu culpo Larry Nassar, mas eu também culpo um sistema inteiro que permitiu esse abuso", declarou Biles.

O caso envolvendo o médico da equipe olímpica de ginástica dos EUA, Larry Nassar, que abusou sexualmente de centenas de meninas menores de idade, teve sua sentença ratificada ainda em 2018.

O réu foi considerado culpado em mais de um julgamento e, somando suas penas, condenado a mais de 360 anos de prisão. Além de crimes de abuso sexual, ele foi condenado por pornografia infantil. Uma das juízas, Rosemarie Aquilina, depois de divulgar o veredito, afirmou ter "assinado a sentença de morte" de Nassar, uma vez que o ex-médico só poderia pedir condicional em 2117.

O caso Larry Nassar

Nascido em 1963, Larry Gerard Nassar é um médico formado pela Universidade de Michigan (MSU) e especializado em osteopatia - um tipo de fisioterapia que busca o equilíbrio corporal.

Em 1986 ele é apontado para fazer parte da equipe médica do time nacional de ginástica artística dos EUA. Dez anos depois, ele é colocado como médico coordenador e vai aos Jogos Olímpicos em Atlanta. Nassar compareceu a outras duas Olimpíadas: Sidney em 2000 e Beijing em 2008. Em 1997, ele se torna médico e professor-assistente na Universidade de Michigan.

Larry Nassar deixou de ser médico coordenador olímpico apenas em 2014, e foi liberado de seu cargo na MSU apenas em 2016. No entanto, desde que assumiu essas responsabilidades, Nassar foi alvo de acusações que, infelizmente, não foram levadas para frente.

Em 1997 o professor John Geddert, que trabalhava com Nassar, recebeu uma reclamação de um pai a respeito do médico. No entanto, Geddert não comunicou às autoridades. Em 1998, Nassar recebeu uma denúncia de assédio de uma estudante da MSU. Em 2000, outra aluna o denunciou. A universidade não tomou medidas. Em 2014, três meses depois de outra reclamação, a instituição de ensino exonerou Nassar de qualquer acusação.

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Foi a constante negligência de instituições como a MSU e a coordenação da Ginástica dos EUA (USA Gymnastics) que possibilitou o contínuo acesso de um predador sexual e pedófilo como Larry Nassar à crianças e adolescentes, permitindo que o abuso se perpetuasse por anos.

É apenas em 2016 que as investigações contra Larry Nassar começam a tomar forma. Em agosto, o jornal norte-americano, Indianapolis Star, publica uma longa investigação a respeito da forma com que casos de assédio sexual eram resolvidos dentro da equipe de Ginástica dos EUA. É nesse mesmo mês que Nassar recebe sua primeira acusação formal: Rachael Denhollander o denuncia por abuso sexual. Segundo a ex-ginasta, o abuso teria acontecido em 2000, quando ela tinha apenas 15 anos.

Depois da denúncia de Rachel, centenas de mulheres foram a público comentar sobre casos parecidos envolvendo o médico. O número de vítimas chega a 265, porém acredita-se que o total é ainda maior, já que muitas meninas ainda têm receio de compartilhar suas histórias. Uma das vítimas, cujo os pais eram amigos próximos de Larry Nassar e sua esposa, o acusa de ter começado a abusá-la quando ela tinha apenas seis anos de idade.

Acredita-se que Larry Nassar conseguiu se safar por anos porque construiu uma reputação em torno de si. Ele foi credenciado como um dos melhores médicos para atletas dos EUA, fazendo com que as ginastas se sentissem "privilegiadas" por estarem recebendo um tratamento de tamanha qualidade. Mesmo quando as denúncias contra ele já eram públicas, ele disputou eleições para ser membro do conselho de uma escola na qual trabalhava (Holt School) e recebeu mais de 2 mil votos (21%).

Nassar escondia o abuso sexual através de supostos procedimentos médicos. Ele usava um tratamento raro para dor que envolvia penetração vaginal. Muitas das mulheres que se pronunciaram sobre o caso afirmam terem sido vítimas desse procedimento, e que o médico muitas vezes não usava luvas, não pedia consentimento e não obedecia às normas de ter um acompanhante presente.

Além disso, em meio ao ambiente competitivo que é o esporte olímpico, Nassar tentava conquistar a confiança das ginastas sendo "doce" e "acolhedor", oferecendo consultas gratuitas, comprando presentes e sendo uma espécie de confidente para as atletas.

Ele foi condenado em 2017 a 60 anos de prisão por posse de pornografia infantil. Em 2018, foi condenado em dois julgamentos diferentes, ambos no estado de Michigan, a uma pena de 40 a 175 anos de prisão. Logo após a divulgação de sua sentença, a então presidente da MSU, Lou Anna Simon, deixou o cargo.

Atualmente, o desenrolar da história continua. Simone Biles e outras três ginastas da equipe nacional dos EUA foram ao Comitê Judicial do Senado americano falar sobre a negligência de órgãos públicos, que sabiam das queixas, escutaram os relatos das acusações e não tomaram medidas eficazes contra a predação sexual de Larry Nassar.

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