Fundação Padre Anchieta

Custeada por dotações orçamentárias legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada, a Fundação Padre Anchieta mantém uma emissora de televisão de sinal aberto, a TV Cultura; uma emissora de TV a cabo por assinatura, a TV Rá-Tim-Bum; e duas emissoras de rádio: a Cultura AM e a Cultura FM.

CENTRO PAULISTA DE RÁDIO E TV EDUCATIVAS

Rua Cenno Sbrighi, 378 - Caixa Postal 66.028 CEP 05036-900
São Paulo/SP - Tel: (11) 2182.3000

Televisão

Rádio

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

Neste Dia Mundial do Gamer (29), conheça a história do piloto Francisco Costa, figura de 65 anos que compete em torneios do automobilismo virtual.

Chico, como é conhecido, é apaixonado por automobilismo desde pequeno. “Ao invés de me dar leite, acho que minha mãe me deu gasolina na infância”, brinca. Junto de seus amigos em Petrópolis, no Rio de Janeiro, constantemente se aventurava no autódromo de Jacarepaguá (RJ) e no circuito de Interlagos, em São Paulo. Na adolescência, já juntava alguns trocados para competir em algumas etapas da Stock Car.

Mais velho, aos 22 anos, mudou-se para os Estados Unidos e se formou em Sismologia na “Colorado School of Mines” (Escola de Minas do Colorado) antes de ter a própria empresa de ar condicionado. Chegou a trabalhar no NOAA, (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica), mas sua maior paixão continuou falando mais alto. Ao longo dos anos, sempre que possível, Chico visitava algum kartódromo para se divertir. Após se mudar para o estado da Flórida, em 1992, chegou a disputar o campeonato FARA USA com um Honda Civic modificado para competição.

Mais recentemente, tem disputado o campeonato paulista de Fórmula 1600, categoria de base brasileira. Fez sua estreia na modalidade em 2018 e em 2019, já conquistou o vice-campeonato. Hoje, aos 65 anos, decidiu explorar o mundo dos e-sports, mais precisamente, no automobilismo virtual.

Em um cenário dominado predominantemente por pessoas mais jovens, Chico não deu bola para a diferença de idade. Ele se diz animado em competir de igual para igual com a “garotada”.

Leia mais: Expoente do automobilismo virtual, Gustavo Ariel é aposta de Tony Kanaan

P: Quais motivos o fizeram ingressar no automobilismo virtual?

R: Estava conversando sobre isso com meu neto. Eu só tinha usado simulador de carro de corrida quando tinha que correr em uma pista que eu ainda não conhecia, para pegar as manhas do traçado. Como vi todo mundo fazendo, resolvi entrar nessa. Descobri que, dentro dos jogos, acontece muito de um grupo de amigos comprar uma pista, um carro e fazer um campeonato entre eles usando uma plataforma e convidando outras pessoas. Meu neto me avisou de uma liga de um cara de São Paulo que fazia vários campeonatos. Ele me perguntou se eu estava a fim de participar e eu disse “claro”. O mais gostoso foi que eu andei em pistas que eu já tinha andado em carros reais e muitas outras que não conhecia, e tinha vontade de conhecer. Achei muito interessante esse negócio. Acabei ficando viciado nesse troço.

P: Levando em conta sua experiência com o automobilismo real, quais são as principais diferenças para o cenário virtual?

R: Você tem como controlar melhor o carro no real do que no virtual. Os pontos de frenagem, por exemplo, você pode frear um pouco mais dentro da curva no real do que no virtual, levando em conta o nível do desgaste dos pneus e aquecimento do asfalto. Interlagos é uma pista que muda a cada hora que você volta para um treino ou corrida diferente. Ainda mais se você tem várias categorias no mesmo final de semana. Caso caia óleo de outros carros na pista, o asfalto fica sujo e o traçado muda totalmente. Isso não acontece no virtual, tem a linha de traçado que facilita muito, no real não, você tem que se adaptar a cada sessão de treino. Nisso o virtual te dá bastante noção, de entrar na curva já olhando para a zebra da frente.

P: Como é estar rodeado de pessoas mais novas que você na modalidade? Quais são os desafios dessa diferença de idade?

R: É um sentimento legal de poder estar brincando, porque a gente vê que não interessa a idade, interessa se você está bem fisicamente e mentalmente. Lógico que essa molecada conhece de computador e eu não, mas esses desafios, esses sentimentos de estar competindo com pessoas de várias idades e de várias partes do mundo, é legal. A gente vê o pessoal da Argentina, de Portugal. Fico com vontade de voltar para casa logo, sentar ali, dar mais umas aceleradas, ver o que que vai acontecer no final de semana. Me faz voltar a ser jovem de novo. Eu adoro essa vida virtual. Citando uma corrida, a de endurance, você vê, um cara como eu de 63 anos, ficar sentado quatro horas, será que eu aguento? E aí eu aguento e vejo, poxa, estou em forma, comparado a molecada de 16,19, 20 anos.

P: Na sua visão como piloto do automobilismo nas pistas reais e virtuais, a modalidade nos e-sports pode ser uma porta de entrada para os pilotos ingressarem no cenário competitivo real?

R: Ainda tenho algumas dúvidas sobre isso, porque nesse mundo virtual existe uma quantidade muito grande de pilotos do mundo inteiro, fica difícil para se sobressair. Também vai muito de você ter um equipamento bom, uma direção boa, pedais legais. Eu mesmo sinto uma diferença, comprei uns pedais novos e faz diferença. Se você pensar em termos de Fórmula 1, pode esquecer, não adianta ser muito bom se não tiver um baita patrocinador. Agora, você pode pensar numa Fórmula 3, numa Fórmula 2. Me lembro que há dez anos atrás não se falava de automobilismo virtual como se fala hoje, com transmissões ao vivo. Você abre agora o YouTube, em toda a parte tem transmissões de corridas virtuais.

P: Que dicas você daria para as pessoas da sua idade que desejam entrar nesse mundo do automobilismo virtual?

R: Olha, eu acho que, entre o cara ficar em casa vendo televisão, enchendo o saco da mulher e ficar jogando, o game é uma distração muito legal. Eu tenho amigos da minha idade, estou tentando trazê-los, mas é como eu falei, não adianta ser só piloto, tem que conhecer um pouquinho de computador, saber como mexer. Tem muita gente na minha idade, da geração antiga, que só sabe mexer no celular e se tiver que mexer numa coisinha a mais no computador, já complica. Eu indico para todo mundo. É uma terapia muito legal, ainda mais com o cenário atual de pandemia no mundo.

P: Quais são os pontos positivos e negativos do automobilismo virtual?

R: O positivo é que eu encaro como uma terapia. Dá para conhecer pistas do mundo inteiro que você não teria condição de viajar até o local, você pode até discutir sobre as curvas e tal, e é legal, se a pessoa for para o real, pode levar um pouco do conhecimento do virtual. É bacana você conhecer um pouco mais da informática desse mundo ligado ao virtual. O ponto negativo, eu acho que é você ficar tão viciado a ponto de dedicar quase que todo o tempo nisso aí, como eu vejo muita garotada fazendo. Tem gente que fica horas trancado no quarto jogando e isso não é bom.

Leia também: Campeão de reality show da Netflix, Diego Higa é prodígio do drift no Brasil