Quantas crianças não sonham em ser um jogador de futebol? Chegar a elite não é um caminho tão simples assim, mas pode ser um desafio ainda maior para alguns. Jogadores nascidos no primeiro semestre do ano, como Cristiano Ronaldo e Neymar, têm até o triplo de chances em relação aos que comemoram o aniversário nos últimos meses do calendário.
Levantamento realizado pelo site da TV Cultura, com dados fornecidos pela Federação Paulista de Futebol, constatou que, dos 3.744 atletas que estão registrados na Copinha deste ano, 2.486 nasceram entre janeiro a junho.
Não é mera coincidência. É um reflexo de uma realidade presente desde as categorias inferiores, como explica Marcelo Massa, professor de Educação Física da USP e consultor da Fifa, CBF e FPF.
“Está comprovado, cientificamente, que crianças que nascem nos primeiros meses do ano tendem a possuir um desempenho superior comparado a crianças que nascem no final do ano. Não só desenvolvimento físico, mas mental também”, afirma.
Porém, este desenvolvimento é algo momentâneo e é isso que preocupa Massa. Segundo o professor, nessa fase da vida o mundo do futebol separa quem tem ‘talento’ ou não. E muitas vezes, jovens talentosos, que ainda estão em processo de desenvolvimento, são dispensados pelos clubes.
“Será que este adolescente que foi selecionado realmente tem potencial ou está tendo uma vantagem momentânea? Eu posso dizer com propriedade que durante a seleção de jogadores quase ninguém está olhando para isso. A categoria de base no Brasil avalia apenas o talento momentâneo".
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O especialista aponta que os treinadores das categorias de base nem sempre enxergam a complexidade que envolve o fenômeno, e por isso que muitos jogadores que frequentam a seleção de base por anos não conseguem jogar na principal.
Como evitar o efeito da idade relativa?
Não há dúvidas que o sistema de avaliação na categoria de base é falho. Mas como corrigir algo que está enraizado nos principais clubes do Brasil? “Pelé e Maradona são de outubro, o Mbappe é de dezembro. Talento nasce todo dia, nós precisamos parar de atrapalhar o desenvolvimento desses jovens”, diz o consultor da Fifa.
Para o especialista, o correto seria motivar os jovens que não estão se destacando na categoria de base e não dispensá-los. “Você precisa entender as características do atleta, dar minutos em campo, conversar com a família ou até mesmo organizar campeonatos para esses adolescentes que não estão sendo utilizados”, expõe.
“Na escola, a professora de matemática sabia trabalhar com todos os alunos. Uns mais adiantados e outros não. Ela dava um estímulo para um grupo e assim por diante, essa é uma boa professora”, finaliza Massa.
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