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Sim, você não leu errado, há pessoas que gostam da vida estressante. Isso acontece porque o estresse é uma reação de nosso corpo a certas situações, nas quais o cérebro libera hormônios como cortisol, noradrenalina e adrenalina. As mesmas substâncias produzidas pela atividade física, por exemplo, que levam ao prazer e ao bem-estar.

Diante desse cenário existem pessoas que sofrem com o estresse e outras que parecem sentir prazer quando se encontram sob pressão e tensão, se mostrando ainda mais produtivas.

Para explicar melhor essa condição, o site da TV Cultura conversou com Ana Gabriela Andriani, psicóloga, mestre e doutora pela Unicamp.

Segundo a especialista, quando estamos muito ocupados em uma situação de excesso de trabalho, nos distraímos de nós mesmos. As obrigações, preocupações e tarefas nos mantém em contato com o que está fora da gente.

O resultado disso é que não entramos em contato com as nossas angústias, frustrações, desamparos, vulnerabilidades e sofrimentos, pelo fato de estas questões serem muito doloridas.

Neste sentido, se manter excessivamente ocupado pode ser um mecanismo de defesa. O problema disso é que faz com que a gente fique longe de quem somos e, portanto, que não nos conheçamos bem.

“O excesso de trabalho e de ocupação pode trazer para a pessoa a sensação de importância, a sensação que ela ocupa um lugar de destaque, seja no trabalho ou nas relações pessoais”, explica.

“Geralmente, essa pessoa tem como características o excesso de cobranças consigo mesmo, a exigência de alto desempenho, produtividade e performance, além de ser perfeccionista”, acrescenta.

Ana Gabriela alerta para esse prazer ao estresse que, segundo ela, tem a ver com inseguranças que a pessoa sente em relação a quem é. “Está com frequência se comparando com o outro e tentando se provar. Por conta disso, esta pessoa inunda a vida de trabalho para ver se consegue provar para ela mesma seu valor, quando na verdade, questiona e duvida de sua capacidade”.

A vida agitada, no entanto, acarreta uma série de problemas. “Em primeiro lugar, é o fato de no geral essas pessoas se tornarem desconhecidas para elas mesmas e saberem pouco sobre o que sentem, quais são seus desejos e modos de pensar”.

Além da falta de autoconhecimento, o estresse pode resultar em um baixo desenvolvimento emocional, além de crises de burnout e ansiedade, e a predisposição ao adoecimento físico e psíquico.

Como isso afeta o ambiente de trabalho das outras pessoas?

A psicóloga explica que quando liderada por uma pessoa com essas características, a tendência é da equipe ficar ansiosa e tensa por conta do excesso de cobrança e pressão. “Isso pode gerar um prejuízo aos resultados, dado que a equipe pode não se sentir motivada, reconhecida e estimulada em termos criativos”.

“Vale pensar também que muitas vezes, um líder com estas características têm dificuldade em criar um clima cooperativo entre a equipe e isto termina construindo um ambiente competitivo, dependente e onde cada um atua individualmente”, ressalta.

De acordo com a especialista, muitas vezes esse líder que é workaholic, exige muito de si e, consequentemente, da equipe, tendo dificuldade de reforçar a equipe positivamente. Por isso, ele é mais distante, alguém que é temido. O resultado disso é que ele não estimula a equipe a ter uma relação de proximidade com ele, o que pode gerar muitos problemas, já que fica inacessível.

Como terceiros podem colaborar para ajudar uma pessoa que está passando por isso?

Andriani reforça a importância da terapia nesses casos. “Quando uma pessoa percebe que a outra está vivendo uma vida muito estressante, repleta de dinamismo excessivo, muitas vezes de forma prejudicial, o ideal é que ela incentive essa pessoa a iniciar um processo de psicoterapia, porque através dele poderá se conhecer melhor e entender o sentido que isso tem. Ou seja, ela vai poder entender o porquê está escolhendo uma vida tão estressante”, finaliza.

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