Uma pesquisa realizada pela Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo) indica que o maior medo dos médicos brasileiros durante a pandemia da Covid-19 é o de infectar os familiares. Os resultados iniciais do estudo apontam também para questões como o medo da própria infecção, estresse e insegurança.
Para o neurologista Vinícius Spazzapan, o medo virou realidade: trabalhando em UTIs e prontos-socorros, ele contraiu o novo coronavírus e descobriu dias depois que a esposa, os filhos e sogros também estavam contaminados. Depois de um mês difícil e internação do sogro, toda a família conseguiu se recuperar. "O duro é você ficar pensando nesse momento que alguém poderia ter um desfecho pior, que é o falecimento, e você ser o culpado de tudo isso, porque no fundo você é quem acabou carregando o vírus", desabafa.
O estudo ouviu 500 médicos, sendo 250 atuantes em áreas diversas, e 250 que trabalham em UTIs diretamente com pacientes infectados pelo novo coronavírus. Segundo a coordenadora da pesquisa, Laura Câmara Lima, a ideia é procurar sinais da síndrome de burnout, uma condição de esgotamento profissional. "Eles podem ter uma falta de realização profissional, uma frustração, e podem chegar ao nível de ter uma insensibilidade, a um nível de esgotamento tal que eles agora não conseguem mais atender as pessoas. [...] Eles gastaram tanta energia, emoção e afeto que depois eles se tornam insensíveis como uma espécie de defesa", explica.
Para a pesquisadora, o estudo pode ser uma ferramenta para a elaboração de uma rede de apoio para os profissionais da saúde: "A ideia é ajudar a pensar em intervenções que possam ser feitas junto a essas equipes para sanar um pouco o problema, fazer um acompanhamento mais preciso e poder oferecer para esses médicos algum tipo de tratamento".
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