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Flickr/ Governo de São Paulo
Flickr/ Governo de São Paulo

"Indignação". Essa foi a palavra usada pelo diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, depois da suspensão dos testes com a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pelo instituto em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, a Coronavac, por "evento adverso grave" com um dos voluntários.

"É uma notícia que causa surpresa, insegurança e, no nosso caso, causa até indignação", disse Dimas Covas. "Suspenderam estudo, causaram medo nas pessoas, fomentaram ambiente que já não é muito propício ao fato de essa vacina ser feita em associação com a China. Fomentar isso a troco de quê? Não seria mais justo ligar e falar que reunião estava marcada para esclarecer isso? Não seria mais justo, ético e compreensível?"

Segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML), a morte de um voluntário que participava dos testes da vacina Coronavac se deu por suicídio. A informação foi obtida com exclusividade pelo Jornal da Tarde e divulgada nesta terça (10), na TV Cultura.

A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu os testes da vacina aqui no Brasil no mesmo dia que o governo de São Paulo anunciou a chegada de milhares de doses do imunizante no próximo dia 20. Em defesa, Dimas Covas destacou o histórico de rigor científico do instituto.

Hoje pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) politicou a decisão nas redes sociais e comemorou a suspensão dos testes da vacina, proferindo críticas à Coronavac e ao governador de São Paulo, João Doria. 

No final do mês passado, o Ministério da Saúde firmou protocolo de intenções para comprar 46 milhões de doses da Coronavac. No entanto, um dia depois, o presidente desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello

Coronavac

Foi em junho que o governo de São Paulo anunciou as negociações com a Sinovac. Nos laboratórios da Ásia, os cientistas partiram das pesquisas que já vinham sendo feitas contra o vírus Sars-CoV-1 e adaptaram os estudos para o Sars-CoV-2 assim que a pandemia do novo coronavírus se espalhou pelo mundo. 

Como os estudos estavam adiantados e usavam uma técnica já conhecida pelo Instituto Butantan, o governo paulista assinou o acordo de desenvolvimento dos testes, compra de matéria-prima e transferência de tecnologia. Entre 9 mil e 13 mil voluntários que trabalham na área da saúde foram selecionados para a fase três dos testes. Metade recebeu duas doses da vacina e metade, o placebo. 

Os resultados dos testes de segurança apresentados até então demonstravam que a maioria dos voluntários não tinha reações depois de receber a vacina e que uma minoria apresentava os sintomas esperados, como dor no local da aplicação, dor de cabeça e febre baixa. 

Por isso, a ocorrência de um "evento adverso grave", divulgada nesta segunda-feira (9) por uma nota da Anvisa surpreendeu. À noite, no Jornal da Cultura, Dimas Covas afirmou que a agência foi comunicada de um óbito no dia 29 de outubro, mas, segundo ele, a morte do voluntários não tem relação com a vacina. 

"A Anvisa, ela foi noticiada de um óbito, não de um efeito adverso, é um pouco diferente. Nós até estranhamos essa decisão da Anvisa, porque é um óbito e não é relacionado à vacina. Ou seja, como são mais de 10 mil voluntários nesse momento, pode acontecer um óbito, o sujeito pode sofrer um acidente de trânsito e morrer. Ou seja, é um óbito não relacionado à vacina, é o caso aqui, ocorreu um óbito que não tem relação com a vacina, portanto não existe nenhum argumento para interrupção do estudo clínico", explicou o diretor. 

Suspensões de testes

Esta não é a primeira vez que os testes com uma vacina contra a Covid-19 são suspensos. Em setembro, o laboratório AstraZeneca, que desenvolve o imunizante em parceria com a Universidade de Oxford e para qual o governo federal destinou R$ 1,9 bilhão, teve os testes suspensos depois que um paciente apresentou uma síndrome inflamatória na medula espinhal. Uma semana depois, eles foram retomados, depois de constatado que não havia relação entre uma coisa e outra. 

Segundo o infectologista Renato Kfouri, as suspensões demonstram rigor ao acompanhamento dos testes, mesmo que sejam por motivos que nada tem a ver diretamente com a vacina. 

"Os estudos são monitorados por comitês externos que avaliam a segurança, especialmente, com os olhos voltados para a integridade dos voluntários. As boas práticas em pesquisa clínica primam pela confidencialidade. Em teoria, não se deve saber quem é o indivíduo e que idade ele tem. É necessário que se investigue e afaste a relação de casualidade entre a vacinação testada e este evento grave. Afastada, o estudo segue", explicou Kfouri.

A suspensão não afeta os preparativos para a produção da vacina contra a Covid-19 no Brasil. Ontem, o governo de São Paulo anunciou o início das obras da fábrica no Instituto Butantan. Para a construção, 24 empresas doaram R$ 130 milhões. A fábrica estará pronta em setembro do ano que vem, mas doses da vacina e a matéria-prima para fabricação aqui no Brasil chegam ainda neste ano. 

"As primeiras 120 mil doses chegam no dia 20 de novembro em Guarulhos. As doses virão em lotes e, até 30 de dezembro, nós teremos as 6 milhões de vacinas aqui em São Paulo. Temos também os insumos da vacina, que representam mais 40 milhões de doses de vacina", afirmou Doria em coletiva. "Quero esclarecer aqui que nós seguimos e vamos continuar a seguir, rigorosamente, os protocolos da Anvisa para aplicação da vacina."